Sassá foi reintegrado ao elenco do Cruzeiro em 22 de setembro depois de ter o contrato de empréstimo com o Coritiba rompido por causa de indisciplina. À época, a volta do atacante à Toca foi sugerida por Ney Franco, que tinha esperança de recuperá-lo no decorrer da Série B.
Segundo Ney Franco, Sassá foi rejeitado em sua volta à Toca da Raposa II - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
“A gente tentou trazer os atletas que estavam emprestados. Tiveram alguns atletas que voltaram para o elenco e não foram bem aceitos também. Foi o caso do Sassá. Eu tentei uma recuperação desse atleta, achava que ele tinha uma característica de Série B, mas eu tive um desgaste enorme dentro do clube com alguns componentes da parte diretiva, que não concordavam com a volta dele, com alguns atletas também que estavam no elenco e não concordavam com a volta dele. Aí você tem que ficar costurando isso tudo. Então, na realidade, essa mobilização para disputar a Série B acabou não tendo efeito”, contou Ney Franco.
Segundo o ex-treinador cruzeirense, os jogadores mais veteranos também não aceitavam a presença majoritária de jovens no elenco. E tudo isso num período em que o clube tinha sido punido e estava proibido de inscrever reforços. Ney Franco admitiu que não teve a capacidade de unir o grupo em torno do objetivo de subir para a Série A.
“O meu único problema, o grau de dificuldade maior é que peguei o trabalho num momento que existia uma discussão interna que o Cruzeiro estava com uma equipe muito jovem disputando a Série B. E alguns jogadores veteranos sempre com esse discurso, mas não percebiam que era esse elenco que tinha, o clube não podia contratar. Já estava montado o elenco e eu não tive a capacidade de juntar esses dois grupos, e realmente fazer com que os jogadores veteranos aceitassem os jogadores novos, aceitassem alguns jogadores que estavam retornando de empréstimo, para ganhar opção maior para escalar uma equipe. Essa foi a grande dificuldade que tive no Cruzeiro, de realmente botar esses dois grupos remando para o mesmo lado”, acrescentou Ney.
Contratado em 9 de setembro para o lugar de Enderson Moreira, Ney Franco ficou por pouco mais de um mês no Cruzeiro. Foram duas vitórias, um empate e quatro derrotas em sete jogos, com 33,33% de aproveitamento. O time só conseguiu fazer uma boa partida, no triunfo por 3 a 0 sobre a Ponte Preta, em 30 de setembro, no Mineirão. Nos demais duelos, a Raposa se mostrou pouco criativa e sem capacidade de finalizar, colecionando vexames em Belo Horizonte: perdeu para Avaí (1 a 0) e Sampaio Corrêa (2 a 1).
Na visão de Ney, o Cruzeiro planejou mal a montagem do elenco e pagou com o não acesso à Série A. A falta de opções no ataque foi determinante para o insucesso. “Acho que o grande problema é não ter montado equipe com perfil de Série B. Por exemplo, o futebol hoje requer jogadores de beirada, de velocidade. Não é um, dois. Nosso time tinha apenas o Airton com essa característica. Depois, tinha o garoto Welinton, que estava afastado quando eu cheguei, mas ainda muito novo. Mas não tinha mais nenhum jogador com essa característica”.
'Problema não foi treinador'
Ney Franco insistiu, durante entrevista à Rádio 98FM, que o problema do Cruzeiro não era treinador. Ao longo da temporada 2020, o elenco ainda foi dirigido por Adilson Batista, Enderson Moreira, Luiz Felipe Scolari e pelo interino Célio Lúcio.
“Não era só o Felipão com experiência. Os outros também tinham muita experiência. Eu tenho um título de Série B com o Coritiba, numa situação em que o Coritiba estava numa situação extremamente ruim. Tenho um acesso também com o Goiás na Série B. O Enderson foi campeão da Série B com o Goiás, o Adilson também tem bons trabalhos. Não era problema de treinador”, disse.
Ney lembrou que, após a sua saída, o Cruzeiro conseguiu a liberação para voltar a inscrever jogadores. Graças a isso, Felipão contou com peças importantes para o ataque, casos de Rafael Sobis e William Pottker.
“A minha passagem foi a mais difícil, num momento em que o clube não podia contratar, já com muitas experiências negativas dentro da Série B, um clube que não se estruturou para disputar uma Série B, não montou uma equipe realmente competitiva de Série B e isso não é culpa de nenhum treinador que passou lá. Não é culpa do Adilson, do Enderson, isso é culpa do sistema, da forma que o Cruzeiro estava naquele momento”, acrescentou.
Por fim, ele assegurou que Felipão não era o único treinador capaz de evitar o rebaixamento à Série C. “Tenho certeza absoluta que eu, como treinador do Cruzeiro, o Cruzeiro também não cairia para a Série C. Eu dirigi o Cruzeiro em apenas sete jogos, dos sete jogos tenho o melhor jogo do campeonato (Ponte Preta), perdi alguns jogadores naquele momento, estava num momento de remontagem. Quando saí do Cruzeiro não tinha nem virado o turno ainda. Essa certeza eu tenho de que se eu continuasse como treinador, o Cruzeiro não cairia para a Série C”.