O Cruzeiro informou ter gastado cerca de R$57,6 milhões com salários do departamento de futebol profissional de janeiro a setembro de 2020. Isso representa um custo médio mensal de R$6,4 milhões, o maior entre os 20 clubes da Série B. Apesar de ter a folha de pagamento mais elevada, o time celeste ocupa apenas o 11º lugar, com 44 pontos em 33 rodadas, e está praticamente fora da briga pelo acesso. A permanência na segunda divisão em 2021 obrigará a diretoria a enxugar as despesas com remunerações.
Recém-chegado à Toca da Raposa, o diretor-executivo André Mazzuco afirmou que ainda não tratou especificamente sobre esse assunto. Ele considerou natural uma equipe enfrentar dificuldades para cortar salários no ano seguinte ao rebaixamento, visto que muitos atletas possuem contratos mais longos.
“Nós não iniciamos ainda uma conversa específica sobre as ações que vamos tomar. Estamos buscando identificar os porquês dessa temporada que se finaliza. Mas, ao mesmo tempo, fala-se sempre na folha alta. A gente tem que lembrar que o clube quando cai da Série A para a B vai herdar contratos longos com valores muito altos. Isso é natural, não se pode fazer uma crítica em cima de uma folha salarial, pois o clube não pode simplesmente: ‘olha, caímos para a Série B, agora encerra esse contrato, pois é muito alto’. É uma questão muito difícil, que requer habilidade para lidar”.
Uma das alternativas encontradas pelo Cruzeiro foi a repactuação dos vencimentos de jogadores que recebiam acima de R$150 mil, casos do goleiro Fábio, dos zagueiros Léo e Manoel e do volante Henrique. Inicialmente, a diferença seria paga em 20 parcelas a partir de abril de 2021, mas o presidente Sérgio Santos Rodrigues já admitiu que tentará uma extensão desse prazo.
Ao longo de 2020, a diretoria também liberou atletas por empréstimo, como o lateral-direito Orejuela (Grêmio), o volante Ariel Cabral (Goiás) e o meia Marquinhos Gabriel (Athletico-PR), além de rescindir com o lateral-direito Edilson e o meia Robinho. As obrigações trabalhistas ficaram abaixo dos R$15 milhões mensais no fim de 2019, porém bastante acima das possibilidades de adversários da Série B: entre R$700 mil e R$1,5 milhão.
Para o próximo ano, o desafio do Cruzeiro é apertar ainda mais o cinto, já que não haverá resquício de receitas da Série A do Campeonato Brasileiro (o faturamento de 2019 foi de R$289 milhões). Ao mesmo tempo, a diretoria mapeará o mercado da bola para contratar os cinco reforços experientes solicitados pelo técnico Luiz Felipe Scolari.
“O Cruzeiro buscou alternativas para minimizar, porque realmente não é uma situação simples. Agora vamos para uma segunda temporada na Série B, que requer uma adequação maior. Você não tem resquício de receita do ano anterior, então é um trabalho que o departamento de futebol terá de desenvolver para minimizar, ser eficiente nas contratações e trazer um equilíbrio maior junto ao desenvolvimento da equipe para esta temporada”, observou André Mazzuco.
Nos nove primeiros meses do ano, o Cruzeiro arrecadou R$ 21,6 milhões em publicidades e transmissões de TV; R$ 22,2 milhões em patrocínios; R$ 1 milhão em bilheteria; R$ 11 milhões em sócio-torcedor; R$ 5,3 milhões em associados/escolinhas; R$ 441 mil em eventos sociais; R$ 3,8 milhões não especificados; e R$ 18 milhões em vendas de direitos econômicos. O faturamento líquido foi fechado em R$82 milhões.
Em compensação, o déficit do exercício é de R$343,4 milhões, consequência da bola de neve de dívidas herdadas das gestões de Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá. Conforme o demonstrativo financeiro, a dívida em setembro era de R$1,038 bilhão. Todavia, esse número tende a diminuir no balanço de 2020, pois a Raposa conseguiu uma “economia” de R$200 milhões ao celebrar acordo com a Fazenda Nacional, na área tributária, e os jogadores Dodô e Fred, na esfera trabalhista.