Cruzeiro ocupa o 11º lugar da Série B, com 41 pontos em 32 rodadas. O Cuiabá, quarto colocado, soma 51. - Foto: Alexandre Guzanshe/EM D.A Press
A temporada de reconstrução do Cruzeiro ficou marcada pelo iminente fracasso no retorno imediato à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Ainda que exista pequena probabilidade de acesso (0,35%, segundo a UFMG), o time praticamente jogou a toalha na reta final da Série B. A seis rodadas para o término da competição, a distância para o atual quarto colocado, Cuiabá, é de dez pontos (51 a 41).
O andamento do campeonato mostra que a Raposa só beirou as colocações de cima quando arrancou com vitórias nas três primeiras rodadas. No mais, colecionou resultados ruins e ficou no Z4 no turno, a ponto de ocupar o penúltimo lugar, com 13 pontos, na 15ª rodada. Com a chegada do técnico Luiz Felipe Scolari, houve uma melhora, mas a equipe voltou a estagnar e deve passar mais um ano na B.
É fato que o início com seis pontos a menos, consequência de uma punição aplicada pela Fifa, complicou a vida do Cruzeiro. Por outro lado, o time abusou dos tropeços como mandante, seja no Mineirão ou no Independência. Em 16 partidas até aqui, foram cinco vitórias, seis empates e cinco derrotas. O aproveitamento de 43,75% em casa é o terceiro pior da competição.
Fora das quatro linhas, o clube conseguiu se organizar em alguns pontos administrativos e financeiros, como o pagamento de cerca de R$ 32 milhões em dívidas na Fifa, os acordos trabalhistas e o parcelamento dos débitos com a União. Em contrapartida, atletas e funcionários seguem com remunerações em atraso e vivem cenário de incerteza em relação aos próximos meses.
Na galeria abaixo, o Superesportes relembra o 2020 do Cruzeiro em 20 episódios:
Retrospectiva: 20 episódios que marcaram o 2020 do Cruzeiro
1- Reformulação do elenco (janeiro): com a queda para a Série B, em 2019, o Cruzeiro foi obrigado a enxugar a folha de pagamento, fechada em cerca de R$ 15 milhões. Muitos jogadores acabaram emprestados ou negociados em definitivo, como o lateral Egídio, o zagueiro Manoel, os volantes Henrique e Jadson, os meias Rodriguinho e Marquinhos Gabriel e o atacante Sassá. Houve quem entrasse na Justiça contra o clube sob alegação de pendências salariais, casos do goleiro Rafael, do zagueiro Fabrício Bruno, do volante Éderson e dos atacantes David e Fred. E os que ficaram - o goleiro Fábio, o zagueiro Léo, o lateral Edilson e o meia Robinho - aceitaram repactuar os vencimentos dentro de um teto de R$ 150 mil. Com todas as negociações costuradas, o conselho gestor que administrava a Raposa estimava uma redução das remunerações para aproximadamente R$ 5 milhões. - Ramon Lisboa/EM/D.A Press
2- Jovens em ação (janeiro): a saída em massa de jogadores obrigou diretoria e comissão técnica a recorrerem, de maneira emergencial, às categorias de base. Um time inteiro foi promovido ao profissional após a participação do Cruzeiro na Copa São Paulo de Futebol Júnior: o goleiro Denivys; os laterais Valdir e Matheus Pereira; os zagueiros Paulo e Jonathan; os volantes Jadsom Silva, Pedro Bicalho e Guilherme Liberato; o meia Marco Antônio; e os atacantes Thiago, Caio Rosa e Alexandre Jesus. O grupo celeste ainda contava com outros garotos, entre eles o zagueiro Cacá, o lateral-esquerdo Rafael Santos, o volante Adriano, o meia Maurício e o atacante Welinton. - Edésio Ferreira/EM D.A Press
3- Retorno de Marcelo Moreno (fevereiro): o Cruzeiro também se movimentou no mercado da bola para atender aos pedidos do técnico Adilson Batista. Entre as várias contratações, a principal foi de Marcelo Moreno, ídolo da torcida graças às passagens bem-sucedidas de 2007 a 2008 e em 2014, quando ganhou dois estaduais e um Campeonato Brasileiro. Segundo maior artilheiro estrangeiro da Raposa (à época com 45 gols em 93 jogos), o boliviano estava há cinco anos no futebol chinês e abriu mão de um contrato de mais de R$ 40 milhões com o Shijiazhuang Ever Bright. O empresário Pedro Lourenço, do Supermercados BH, intermediou a negociação e se dispôs a ajudar no pagamento dos salários do atleta. - Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press
4- Sai Adilson, entra Enderson (março): o time recheado de garotos e contrações consideradas apostas não engrenou no Campeonato Mineiro e ainda por cima escorregou diante do CRB na terceira fase da Copa do Brasil (revés por 2 a 0 na ida, no Mineirão, em 11/3). Com isso, o técnico Adilson Batista acabou demitido em 15 de março, após derrota por 1 a 0 para o Coimbra, em um Independência sem público em razão do início da pandemia de covid-19 no Brasil. Três dias depois, o clube contratou Enderson Moreira, duas vezes campeão da Série B (Goiás, em 2012, e América, em 2017), além de definir Ricardo Drubscky como substituto do também dispensado diretor de futebol Ocimar Bolicenho. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
5- Perda de seis pontos na Fifa (maio): em meio à paralisação do futebol por causa do coronavírus, o Cruzeiro sofreu um duro golpe no âmbito esportivo por causa de más gestões passadas. A Fifa condenou o clube a iniciar a Série B do Campeonato Brasileiro com 6 pontos negativos em virtude de dívida de 850 mil euros (cerca de R$ 5,4 milhões) com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pela contratação por empréstimo do volante Denílson, em julho de 2016. A oficialização da sentença ocorreu em 19 de maio. - Edesio Ferreira/EM/D.A Press
6- Eleição de Sérgio Rodrigues (maio): o atual presidente ganhou o pleito de 21 de maio ao bater o concorrente Ronaldo Granata por 269 votos a 74. O mandato inicial teve validade entre 1° de junho e 31 de dezembro. Em 7 de outubro, Sérgio foi reeleito na condição de candidato único para o triênio 2021/2022/2023. - Tulio Santos/EM/D.A Press
7- Contratação de Deivid (maio): uma das primeiras ações de Sérgio Rodrigues na presidência do Cruzeiro foi a nomeação de Deivid para o cargo de diretor. Os dois se tornaram amigos em 2015, quando o atual mandatário ocupava a função de superintendente de futebol do clube, e o executivo era auxiliar técnico do time principal (posteriormente, virou treinador em 2016). Sérgio sempre ressaltou a admiração por Deivid, que teve boa passagem pela Raposa como centroavante, em 2003, quando marcou 28 gols em 37 jogos e integrou o elenco campeão mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
8- Queda no Mineiro (julho): a primeira decepção do Cruzeiro na temporada foi a eliminação precoce no estadual, ainda na etapa classificatória. O técnico Enderson Moreira até conseguiu conduzir o time a vitórias sobre URT (3 a 0) e Caldense (1 a 0), mas os placares foram insuficientes para abater a diferença no saldo de gols. A equipe celeste ficou em quinto lugar, com 20 pontos em 11 rodadas (6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas). No Troféu Inconfidência, a Raposa bateu o Patrocinense por 3 a 0, na semifinal, e abdicou da disputa da decisão após o elenco do Uberlândia ter sofrido com surto de COVID-19. Assim, o clube do Triângulo foi proclamado campeão do minitorneio que contou também com o Boa Esporte. - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
9- Ex-dirigentes indiciados por crimes (agosto): depois de vários meses de investigação, a Polícia Civil de Minas Gerais indiciou três ex-dirigentes do Cruzeiro e quatro empresários pelos crimes de apropriação indébita, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Embora a corporação não tenha citado nomes, tratam-se do ex-presidente Wagner Pires de Sá, do ex-vice de futebol Itair Machado e do ex-diretor-geral, Sérgio Nonato. Em operações consideradas ilícitas, o grupo teria causado um rombo de R$ 10 milhões nas contas do clube. - Tulio Santos/EM/D.A Press
10- Arrancada inicial na Série B (agosto): o Cruzeiro começou bem a sua caminhada na segunda divisão ao ganhar os primeiros três jogos, contra Botafogo-SP (2 a 1, no Mineirão), Guarani (3 a 2, no Brinco de Ouro, em Campinas) e Figueirense (1 a 0, no Orlando Scarpelli, em Florianópolis). O excelente começo pegou até mesmo o técnico Enderson Moreira de surpresa. Ele havia estimado que a equipe brigaria contra o rebaixamento por pelo menos seis rodadas. De fato, a previsão do comandante se confirmou, pois o time não manteve a sequência positiva e caiu de rendimento na competição. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
11- Eliminação na Copa do Brasil (agosto): o time de Enderson Moreira tinha uma missão hercúlea na terceira fase, já que havia perdido o duelo de ida para o CRB (2 a 0), em 11 de março, no Mineirão, sob o comando de Adilson Batista. O Cruzeiro começou até bem ao abrir o placar no fim do primeiro tempo, em chute cruzado do lateral-esquerdo Giovanni. Contudo, os alagoanos igualaram na etapa final e administraram o resultado. O maior campeão da competição, com seis títulos, despediu-se da edição de 2020 sem ganhar uma partida sequer. - Pei Fon/Zimel Press/Estadão Conteúdo
12- Sai Enderson, entra Ney Franco (setembro): a boa fase do Cruzeiro com Enderson Moreira na Série B se resumiu às três vitórias iniciais. Nos cinco jogos subsequentes, o time empatou dois e perdeu três. Com isso, o treinador acabou demitido em 8 de setembro, um dia após o jogo contra o CRB (1 a 1), pela oitava rodada, no Mineirão. A diretoria buscou Ney Franco como substituto, apostando em seu currículo de campeão da competição com o Coritiba, em 2020, e de quarto colocado à frente do Goiás, em 2018. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
13- Queda brusca na Série B (setembro a outubro): a direção esperava que Ney Franco repetisse no Cruzeiro a campanha de recuperação do Goiás, que saiu da zona de rebaixamento em 2018 para a quarta posição, com 60 pontos. Contudo, o treinador enfrentou dificuldades para encaixar um modelo de jogo que aliasse posse de bola e criatividade, e o time não engrenou no campeonato. - Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press
14- Nova punição na Fifa (outubro): o Cruzeiro voltou a ser penalizado por não pagar cerca de 7 milhões de reais ao Zorya FC, da Ucrânia, valores referentes à aquisição do atacante Willian, em julho de 2014. Em vez de retirar pontos ou decretar o rebaixamento à terceira divisão, a entidade máxima do futebol proibiu o clube de registrar novas contratações. O transfer ban durou cerca de um mês e meio e impossibilitou até mesmo aquisições para as categorias de base. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
15- Sérgio Rodrigues reeleito (outubro): em pleito sem adversário no dia 7 de outubro, o presidente foi reeleito para um mandato de três anos, até dezembro de 2023. Ao Globoesporte, ele falou sobre o principal desafio no Cruzeiro. 'Acho que o de maior destaque é conseguir manter um time competitivo, performar bem nas competições que disputarmos, e conseguir casar isso com os problemas administrativos e financeiros, tendo ainda uma geração de receita menor'. - Igor Sales/Cruzeiro
16- Sai Ney Franco, entra Felipão (outubro): quatro dias após a reeleição, Sérgio Rodrigues anunciou a demissão do técnico Ney Franco em decorrência da série de maus resultados agravada com o empate por 0 a 0 diante do lanterna Oeste, na Arena Barueri, na Grande São Paulo. Depois de receber negativas de Lisca, do América, e Umberto Louzer, da Chapecoense, o Cruzeiro aceitou as condições exigidas por Luiz Felipe Scolari e assinou contrato até dezembro de 2022, com direito a multa rescisória de R$ 10 milhões. Felipão já havia trabalhado no clube entre julho de 2000 e junho de 2001, quando ganhou a Copa Sul-Minas e teve as portas abertas para treinar a Seleção Brasileira. - Divulgação/Cruzeiro
17- Bom começo de Scolari (outubro a novembro): de ânimos renovados com o novo treinador, o Cruzeiro emplacou sequência de sete partidas sem ser derrotado na Série B. Na estreia de Felipão, bateu o Operário por 1 a 0, no estádio Germano Krüger, em Ponta Grossa, no Paraná. Depois, empatou por 1 a 1 com o Náutico, nos Aflitos, e fechou o turno superando o Paraná por 2 a 0, no Mineirão. No início do returno, obteve oito pontos em quatro jogos: Botafogo-SP (1 a 0), Guarani (3 a 3), Figueirense (1 a 1) e Chapecoense (1 a 0). Nos cinco confrontos posteriores, contabilizou mais 10 pontos - Confiança (1 a 2), América (2 a 1), Brasil-RS (4 a 1), CRB (0 a 0) e Vitória (1 a 0) - e ficou a sete do G4 na 28ª rodada. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
18- Indisciplina na base (novembro): no dia 7/11, o Cruzeiro anunciou a dispensa de seis jogadores das categorias de base por ato de indisciplina cometido em Chapecó, depois da derrota por 2 a 1 para a Chapecoense, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro Sub-20. Os jovens Israel, Gustavo Medina, Pedro Bicalho, Guilherme Liberato, Choco e Alexandre Jesus teriam levado mulheres ao hotel onde a delegação estava concentrada em Santa Catarina. Nas redes sociais, torcedores se dividiram entre apoio à decisão do presidente Sérgio Santos Rodrigues e críticas à maneira como o caso foi conduzido. A saída desses atletas e a reformulação do grupo de juniores refletiu na péssima campanha da Raposa, que encerrou a competição em penúltimo lugar, com 17 pontos em 19 jogos (5 vitórias, 2 empates e 12 derrotas). - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
19- Acordos trabalhistas (novembro a dezembro): com o iminente fracasso na briga pelo acesso, o Cruzeiro começou a se planejar na parte financeira ao empurrar alguns passivos para 2022. Foram os casos de duas ações trabalhistas de quantias vultosas de dois atletas. O atacante Fred fez acordo para receber R$ 25 milhões diluídos em cinco anos, enquanto o lateral-esquerdo Dodô embolsará R$ 15 milhões pelo mesmo período. Outra transação que garantiu respiro financeiro à instituição foi com a União, que concedeu o parcelamento da dívida fiscal e tributária em pouco mais de 12 anos. O débito de R$ 334 milhões foi reduzido para cerca de R$ 182 milhões. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
20- Acesso praticamente descartado (dezembro): depois do bom começo, Felipão derrapou nas últimas seis rodadas à frente do Cruzeiro. Em 18 pontos disputados, a equipe somou apenas sete. Na última terça-feira, o empate por 0 a 0 com o Cuiabá, no Independência, tornou o sonho de retornar à Série A muito distante. Em 11º lugar, com 41 pontos, a Raposa precisa de 100% de aproveitamento nas seis últimas partidas para chegar a 59, campanha que garantiu o acesso apenas do Vitória, na edição de 2007. O próprio presidente Sérgio Santos Rodrigues já admitiu que a tendência é para a permanência na segunda divisão. Scolari, por sua vez, sempre manteve o discurso de livrar o clube do rebaixamento à Série C. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press