Quando estava em vias de tomar posse na presidência do Cruzeiro, no fim de maio, Sérgio Santos Rodrigues teve reunião com o grupo de jogadores, comandado à época por Enderson Moreira. Na conversa, procurou passar confiança e disse que o time “subiria muito bem este ano”. Sete meses depois, o discurso mudou completamente. Em razão da campanha ruim na Série B - 11º lugar, com 41 pontos em 32 rodadas -, o dirigente admitiu a realidade de permanência na segunda divisão.
“Internamente, a gente sabe que a realidade é essa. Até a rodada de ontem, ainda estávamos com muita expectativa, porque é aquilo… há rodadas que a gente chegou a ter 1% de chance de classificação. Depois, em dada situação, tivemos 24%, pois a gente ia enfrentar muitos adversários diretos. Só que ontem realmente a gente sabe que a situação ficou muito complicada. Tudo caminha para que essa seja a nossa realidade mesmo”, disse Sérgio, em entrevista ao Seleção SporTV.
O Cruzeiro praticamente deu adeus às chances de acesso após empatar por 0 a 0 com o Cuiabá, nessa terça-feira, no Independência. Apesar de ter contabilizado 65% de posse de bola, o time praticamente não criou chances de perigo. Em boa parte do jogo, trocou passes na intermediária de ataque, à procura de espaço, e esbarrou na marcação do adversário. A improdutividade é recorrente, já que a Raposa contabilizou sete pontos nos últimos seis duelos (38,88%), além de ter marcado apenas quatro gols.
Há dois meses e meio no clube, o técnico Luiz Felipe Scolari ainda detém aproveitamento razoável, fruto do início com quatro vitórias e três empates (71,4%). Talvez por isso os torcedores tenham alimentado as esperanças de que seria possível buscar a vaga no G4, algo que agora é encarado como ilusão.
“O Felipão fez um excelente início de campanha, com quatro vitórias e três empates. Depois teve uma derrota inesperada. Daí começamos a performar bem fora de casa, contra clubes à frente na tabela, e perder pontos dentro de casa. Não conseguimos mais registrar reforços, aí vem aquela série de coisas depois que acabaram não dando certo. Foi criada uma expectativa de que seria possível com a chegada do Felipão, mas é difícil ficar pensando numa fórmula recente só porque deu errado”.
Sérgio lembrou ainda das dificuldades administrativas no Cruzeiro. Ele assumiu o clube com salários atrasados, dívidas na Fifa e pendências trabalhistas. Alguns casos precisaram ser tratados com prioridade, já que havia o risco de novas sanções esportivas - a exemplo da perda de seis pontos na Série B por causa de dívida de mais de R$ 5 milhões pela contratação do volante Denílson, ex-Al-Wahda dos Emirados Árabes Unidos, em julho de 2016. No entendimento do presidente, todos esses percalços comprometeram a reabilitação no campeonato.
“É a primeira vez que a gente vem lá de trás. Até hoje os jogadores e todas as comissões técnicas que passaram falam dos seis pontos, que são impactantes. Aí entra cota de TV, dívidas pagas, enfim. A gente pagou R$ 32 milhões de dívidas na Fifa. Imagina se consigo aplicar isso no futebol? É uma sucessão de coisas que, no meio da pandemia, aconteceu com a gente e desencadeou a impossibilidade de subir”.