O Cruzeiro confirmou a procura formal a Rogério Ceni para entender quais são os valores envolvidos e devidos ao treinador do Fortaleza, que dirigiu a equipe celeste entre 11 de agosto e 26 de setembro de 2019, ainda na gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice de futebol Itair Machado. A informação foi publicada inicialmente pelo Globoesporte.
Em posicionamento enviado ao Superesportes, o Cruzeiro revelou que a administração do presidente Sérgio Santos Rodrigues formalizou um pedido de desculpas a Rogério e sinalizou que pretende resolver a situação da melhor forma possível. Estima-se que a pendência esteja na casa de R$ 1,9 milhão.
“O Cruzeiro Esporte Clube confirma que a atual gestão fez um contato formal com Rogério Ceni, para entender quais são os valores envolvidos e devidos ao treinador. Em sinal de respeito à história e à postura de Rogério, a atual gestão fez um pedido de desculpas em nome do Clube e sinalizou que está plenamente disposta a resolver a situação da melhor forma possível”.
Rogério Ceni afirmou, em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN, que até hoje não recebeu um centavo sequer do Cruzeiro. Embora tenha optado por não acionar a Justiça, o técnico reclamou da falta de contato por parte de dirigentes para tratar o assunto. Ele ressaltou principalmente o gasto com mudança, a rescisão contratual do imóvel onde morava, aluguel de carro e outras despesas.
“Além do que eu paguei para trabalhar no Cruzeiro, é bom esclarecer isso. Eu gastei muito dinheiro para ir para Minas e nunca recebi um centavo por um dia de trabalho até hoje. Nunca entrei na justiça contra ninguém, não gosto disso, mas isso é muito triste, não receber uma ligação sequer. Absolutamente nada. Eu fico triste porque é um grande clube, mas eu gastei dinheiro! Paguei rescisão contratual de onde eu morava, rescisão contratual de onde eu aluguei imóvel, mais transferência, carro, etc.”.
No Bola da Vez que vai ao ar pela ESPN neste sábado, às 23h, Rogério Ceni também falou sobre o rebaixamento da Raposa à Série B. Na opinião do ídolo do São Paulo e maior goleiro-artilheiro do futebol, com 132 gols, o descenso da equipe não se deu por causa de treinadores ou jogadores, e sim pela atuação de dirigentes. “(...) Eu digo: os maiores culpados, ou melhor, uma pessoa em especial é culpada, que foi quem dirigiu o clube, não os jogadores (...)”
“O Cruzeiro é um belíssimo lugar para se trabalhar, é uma pena o que fizeram com o Cruzeiro. Ele sempre foi um time que eu tinha muita sorte quando eu jogava, nos confrontos eu fazia gols, mas eu tinha muita admiração pelo clube. Além da camisa, que eu acho muito bonito esse tom de azul. Mas infelizmente lá no Cruzeiro quem administrou naquele tempo não soube lidar. Acho que o Cruzeiro vai ter sérias dificuldades, mas continua sendo um grande clube. Fui muito recebido, adoro os funcionários de lá, fui muito bem tratado. Morei dentro do CT 21 dias para entender como tudo funcionava. Quando eu entendi como tudo funcionava eu mudei para uma casa, aí eu entendi que não ia funcionar muito”.
Ceni acredita que se tivesse ganhado respaldo para implantar as mudanças necessárias na equipe, o Cruzeiro não teria caído para a segunda divisão. “Lamento muito não conseguir ajudar, mas uma coisa eu te digo: se eu tivesse ficado, com as mudanças que estavam sendo implementadas, o Cruzeiro não iria para a Série B. Isso eu garanto para você. Eu acho que o Cruzeiro conseguiria escapar da zona do rebaixamento (...)”.
Passagem pelo Cruzeiro
Substituto de Mano Menezes, que deixou o clube após amargar maus resultados (uma vitória em 18 jogos), Rogério Ceni comandou o Cruzeiro em oito partidas: dois triunfos, dois empates e quatro derrotas. Ele iniciou sua trajetória no clube com bons resultados. Na estreia, no Mineirão, o time bateu o Santos por 2 a 0. Depois, empatou por 1 a 1 com o CSA, no Rei Pelé, em Maceió, levando gol no fim do confronto. Em seguida, superou o Vasco por 1 a 0, em BH. O futebol não era brilhante, mas o time voltava a somar pontos e dava indícios de que se recuperaria no Brasileiro.
A primeira derrota também trouxe a público o descontentamento de um dos principais atletas do elenco. Thiago Neves expôs o treinador após a goleada sofrida pelo Internacional, por 3 a 0, no Beira-Rio, pela semifinal da Copa do Brasil, no dia 4 de setembro. O armador disparou contra as mudanças promovidas pelo técnico Rogério Ceni na escalação do time.
Ceni improvisou Jadson na lateral direita, preterindo Edilson, substituto imediato de Orejuela, que estava com a Seleção Colombiana. Ainda na linha de defesa, optou por manter Fabrício Bruno, deixando Leo no banco de reservas. Na etapa final, ao perder Dedé, por lesão, o treinador chamou Ariel Cabral e deslocou Henrique para a zaga.
“É um jogo diferente, a gente precisou se adaptar. Na minha opinião, você mudar três ou quatro jogadores em uma decisão fora de casa é muita coisa, em um time que já vem formado. Improvisar jogadores é difícil, ainda mais jogadores que não vêm jogando. Ficou um pouco complicado, mas mesmo assim a gente conseguiu fazer um bom primeiro tempo. E aí o primeiro gol complicou”, disse o meia.
Thiago Neves também criticou a revelação da escalação para o elenco poucas horas antes da partida decisiva. “A gente ficou sabendo na preleção, sei lá, duas ou três horas antes do jogo. Na minha opinião, achei muito em cima da hora. Você improvisar três ou quatro jogadores numa linha que já vinha formada há dois anos. Nada contra, óbvio que queremos ganhar, jogadores que entraram jogaram bem, mas é muita coisa para um segundo jogo de semifinal”.
Resposta de Ceni
Ceni respondeu Thiago Neves na entrevista após a goleada sofrida para o Grêmio, por 4 a 1, no Independência, no dia 8 de setembro. Na opinião do treinador, o meia usou aquelas palavras pelo fato de Edilson, um de seus grandes amigos no elenco, ter ficado no banco de reservas.
“Não estamos aqui para crucificar o Thiago, algo assim. Muito pelo contrário, é um jogador que tem uma história no clube. Dentro de suas melhores condições e com a cabeça boa, é um jogador importante para a gente. Acredito muito que a declaração do Thiago foi porque viu um amigo no banco de reservas, que, no caso, foi o Edilson. Houve a improvisação do Jadson na lateral direita. De resto, se você pegar o time que jogou contra o Internacional, é o mesmo que jogou contra Vasco e CSA, todos conhecedores de sua posição”.
Na sequência da entrevista, Rogério foi categórico ao dizer que os jogadores já tinham conhecimento da opção por Jadson, diferentemente do alegado por Thiago Neves. O comandante cruzeirense esclareceu também a tomada de decisões por questões profissionais, e não baseado em amizades. Segundo ele, se não for desse jeito, precisa “passar a vez” a outro profissional.
“A escalação nunca é divulgada só três horas antes do jogo. Quero deixar isso bem claro. Mas tenho o maior respeito. E mais do que amigo ou emocional, sou profissional. Entendo o nervosismo na saída do jogo, é um momento difícil, você quer tentar uma explicação. Mas não temos um ou outro jogador culpado. Só tenho que, de alguma maneira como treinador, se for para ficar no Cruzeiro, preciso fazer alguma coisa diferente. Se não, preciso passar a vez a outra pessoa que tenha uma mentalidade diferente para continuar no Cruzeiro”.
Dedé cobrou confiança em veteranos
Em entrevista no dia 23 de setembro, Dedé destacou a história dos jogadores do elenco. Disse que muitos, como ele, Fábio, Rafael, Henrique, Leo e Egídio, foram bicampeões pelo clube em 2013 e 2014. Justamente por isso, o zagueiro afirmou que o clube precisava reerguer os veteranos mentalmente. Ele chegou a citar Edilson, um dos atletas preteridos por Rogério Ceni, como um dos melhores da posição no Brasil.
“Não posso perder um Thiago Neves, que deu um título para o Cruzeiro, um título não, que foi importante nos dois títulos da Copa do Brasil, fora os dois Mineiros. Não posso perder o Edilson, que, pra mim, é um dos melhores da posição. Não vive boa fase hoje, como ninguém no Cruzeiro vive boa fase. Mas, do grupo do Cruzeiro, da instituição, foi o cara mais próximo de ter ganhado a Libertadores, também foi campeão da Copa do Brasil e do Mineiro com a gente. (...) Não posso deixar de citar esses jogadores que são muito importantes, como Sassá”.
Rogério foi demitido do Cruzeiro no dia 26 de setembro, após o empate por 0 a 0 com o Ceará, em Fortaleza. O estopim para a saída foi o desgaste com o grupo de jogadores no estádio Castelão. Na ocasião, Dedé falou sobre a importância de Thiago Neves e questionou a ausência do meia do time. O técnico não gostou do que ouviu e saiu do vestiário. No dia seguinte, em Belo Horizonte, recebeu o comunicado de que não seguiria no clube.
Jogos de Ceni no Cruzeiro
Cruzeiro 2 x 0 Santos – Campeonato Brasileiro
CSA 1 x 1 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro
Cruzeiro 1 x 0 Vasco – Campeonato Brasileiro
Internacional 3 x 0 Cruzeiro – Copa do Brasil
Cruzeiro 1 x 4 Grêmio – Campeonato Brasileiro
Palmeiras 1 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro
Cruzeiro 1 x 2 Flamengo – Campeonato Brasileiro
Ceará 0 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro