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Cruzeiro obtém liminar na Justiça que suspende reativação de contrato de lateral Dodô

Decisão foi proferida neste domingo por desembargadora

Redação
Contrato de Dodô não será reativado até decisão em última instância - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro
O Cruzeiro obteve liminar na Justiça que suspende a reativação do contrato do lateral-esquerdo Dodô até o trânsito em julgado do processo - ou seja, quando não houver mais a possibilidade de recurso. A decisão foi proferida neste domingo pela desembargadora Adriana Goulart de Sena Orsini. Com isso, a sentença do dia 13 de agosto, da 39ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, está temporariamente “barrada”. A defesa do jogador pode apresentar contestação em cinco dias.



Ao conceder o efeito suspensivo, a magistrada considerou a impossibilidade alegada pelo clube de cumprir “as condições contratuais exorbitantes”, como a remuneração de R$ 330 mil durante três anos, a cláusula compensatória de R$ 12 milhões em uma eventual rescisão indireta e o compromisso de pagar R$ 3,3 milhões em comissão aos agentes de Dodô. A operação concretizada em janeiro de 2019 teve as assinaturas do ex-vice-presidente de futebol, Itair Machado, e do empresário Wagner Cruz, na condição de testemunha. Ambos foram indiciados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público por crimes de lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsidade ideológica e  associação criminosa.

“De se ressaltar, ainda, que, segundo alega o requerente, o Compromisso de Pagamento de Comissão celebrado entre o Clube e a empresa 4COMM Marketing & Career Management Ltda., em que foi estipulado o pagamento do valor de R$3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais), a título de comissão, foi assinado na presença da testemunha Wagner Cruz, intermediário do Atleta, quando é de conhecimento público e notório – e consoante demonstrado neste feito - que o Sr. Wagner Pires, ex-presidente do Clube, foi indiciado por apropriação indébita, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro, o que, embora tratem-se de questões que fogem ao exame desta especializada, é certo que poderão – ou não - de alguma forma - permitir verificar e analisar a alegada nulidade do contrato que dará sustentação à condenação perquirida pelo reclamante – tal como alegado pelo ora requerente.

Sendo assim, a apreciação do tema em debate – complexo, diga-se de passagem, demandaria uma análise exauriente e percuciente dos elementos constantes do processo originário, o que, per si, autoriza o deferimento da liminar postulada a fim de conceder efeito suspensivo ao recurso ordinário interposto pelo reclamado, quando, então, julgar-se-á o mérito do apelo, mantendo-se – ou não – a condenação imposta na origem”. 


Assim, por cautela, e sem descurar da atenção que o caso requer, analisados cuidadosamente os termos do pedido, entendo pelo deferimento da liminar requerida para conferir efeito suspensivo ao recurso ordinário interposto por Cruzeiro Esporte Clube nos autos do Processo n° 0010222-91.2020.5.03.0139, em trâmite na 39ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, até o trânsito em julgado da decisão.

Por meio de nota em seu site oficial, o Cruzeiro reiterou o acordo lesivo com Dodô firmado por ex-dirigentes. “O contrato com o atleta foi mais um dos episódios lesivos promovidos pela gestão de Wagner Pires de Sá, que tinha à época como vice-presidente de futebol Itair Machado. O mesmo contrato tem como intermediário Wagner Cruz, que a exemplo dos dois ex-mandatários do Clube foi indiciado após inquérito da Polícia Civil, por diversas ações criminosas contra o Cruzeiro”.

Dodô na Justiça


Na Justiça do Trabalho, Dodô pede que o contrato com o Cruzeiro seja reativado nos moldes originais. Por sua vez, a defesa celeste considera as cláusulas lesivas e solicita o anulamento. O clube ainda entende que a tentativa de restabelecer o vínculo é uma estratégia para a obtenção de rescisão indireta do vínculo.



O contrato prevê pagamento mensal de R$ 917,2 mil brutos a Dodô de março a novembro de 2020. O valor é mais de seis vezes superior ao ‘teto’ de R$ 150 mil estabelecido pelo Cruzeiro, que teve queda substancial nas receitas em razão do rebaixamento à Série B do Brasileiro.

Dos R$ 917,2 mil, R$ 330 mil são de salários e R$ 587,2 mil a título de luvas. Considerando 13º e um terço de férias em 2020, o valor atingiria R$ 1,35 milhão em dezembro. De janeiro de 2021 a dezembro de 2023, o atleta contaria exclusivamente com os vencimentos por mês.

De acordo com o documento, datado em 23 de janeiro de 2019, o ordenado do lateral-esquerdo era dividido em R$ 297 mil de salário-base e R$ 33 mil de acréscimo remuneratório, não havendo, portanto, direitos de imagem.



Os R$ 8,8 milhões de luvas seriam parcelados em 18 vezes: a primeira, de R$ 366 mil, em fevereiro de 2019; da segunda à oitava, também de R$ 366 mil, de agosto de 2019 a fevereiro de 2020; e as dez restantes, de R$ 587,2 mil cada, de março a dezembro de 2020.

Contando luvas, salários e direitos econômicos, o Cruzeiro teria um gasto médio anual de R$ 6,65 milhões com Dodô, totalizando aproximadamente R$ 33,25 milhões em cinco anos de contrato.

Cláusula de compra


Na entrevista de apresentação de Dodô, em 24 de janeiro de 2019, Itair Machado explicou os moldes da transação. Segundo ele, o Cruzeiro pagou 200 mil euros à Sampdoria e concordou com a obrigação de compra de 90% dos direitos econômicos por 300 mil euros se o time alcançasse 15 pontos no Campeonato Brasileiro ou o atleta participasse de três jogos. Mesmo rebaixada à Série B, a Raposa contabilizou 36 pontos, enquanto o lateral-esquerdo atuou em 18 partidas na Série A.

Dívida


De acordo com a petição inicial, Dodô não treina de maneira adequada desde o início do ano, quando o Cruzeiro comunicou, em 10 de janeiro, que ele estava liberado para procurar outro clube. Nesse período, o atleta não recebeu um mês sequer de salário, segundo afirmou seu empresário, Junior Pedroso, em entrevista ao canal do jornalista Jorge Nicola, no YouTube, em 5 de maio.



O conselho gestor que administrou o Cruzeiro antes do presidente Sérgio Santos Rodrigues fez uma proposta para a reintegração do lateral ao grupo, porém as partes não chegaram a um acordo. O clube queria bases diferentes do vínculo original, contestando principalmente os R$ 8,8 milhões em luvas, e a repactuação dos vencimentos do atleta dentro do limite de R$ 150 mil.

Passagem pelo Cruzeiro


Contratado sob alta expectativa após boa temporada pelo Santos em 2018, Dodô frustrou a torcida do Cruzeiro. Na maior parte de 2019, sem conseguir regularidade, amargou a reserva de Egídio, mesmo com o titular sofrendo com muitas críticas. O ponto positivo nos 28 jogos do lateral-esquerdo foi um belo gol de fora da área, marcado na vitória por 4 a 0 sobre o Huracán, da Argentina, na fase de grupos da Copa Libertadores.