O Cruzeiro requer o reembolso da quantia paga à empresa de Itair Machado por entender que houve uma manobra para burlar o Estatuto. Na petição inicial, a defesa do clube citou outras pessoas que ocuparam a função de maneira voluntária, casos de Gustavo Perrella, Bruno Vicintin, José Maria Fialho e Márcio Rodrigues Silva. O reclamante argumentou também que tanto o ex-vice de futebol quanto Wagner Pires de Sá eram alvos de investigação policial para apurar possíveis desvios de dinheiro..
Inquérito da Polícia Civil
O inquérito conduzido pela Polícia Civil sobre supostos crimes praticados por ex-dirigentes do Cruzeiro foi concluído na última segunda-feira (11). Na terça, delegados passaram detalhes em entrevista coletiva. Segundo os investigadores, o “rombo” inicial nos cofres celestes em 2018 e 2019 foi de R$ 8,2 milhões. Em valores corrigidos, o total chega a R$ 10 milhões.
Além de Wagner Pires e Itair Machado, foram indiciados o ex-diretor-geral Sérgio Nonato; os agentes esportivos João Sérgio Ramalho, Wagner Cruz e Carlos Alberto Isidoro (Carlinhos Sabiá); e o empresário do ramo de equipamentos de proteção individual (EPI), Cristiano Richard dos Santos Machado.
“O dinheiro que eu colocava no Cruzeiro, que você colocava no Cruzeiro, contribuindo, e que foi desviado. Agora, posso afirmar isso, porque tem peça da Polícia. Vamos pegar centavo por centavo.
Parece que tem apartamento que tem gente morando que não é da pessoa, não. Esse apartamento é da torcida do Cruzeiro”.
O episódio mencionado por Sérgio Santos Rodrigues é o de um empréstimo de R$ 2 milhões contraído pelo Cruzeiro com Cristiano Richard dos Santos Machado, em 1º de março de 2018. Um mês depois, clube e empresário incluíram um novo termo no contrato de empréstimo. Nele, a diretoria afirmava que não dispunha de recursos para efetuar o pagamento da dívida, que venceria no fim do ano. Para quitá-la, oferecia percentuais de direitos econômicos de dez jogadores.
Entre os atletas estão o goleiro Gabriel Brazão (20%), o lateral-direito Vitinho (20%), os zagueiros Murilo (7%) e Cacá (20%), além dos atacantes David (20%) e Raniel (5%). A partir daí, a Polícia Civil investigou outras transações financeiras entre o empresário e um ex-dirigente do Cruzeiro.
A Polícia Civil analisou ainda outros cinco casos, que tratam da negociação do lateral-direito
Mayke ao Palmeiras, de um contrato feito com o volante
Bruno Silva, da renovação do goleiro
Fábio, do uso de recursos do clube para contratação de advogados particulares por ex-dirigentes e também de pagamentos retroativos a Itair Machado
(Clique aqui para acessar a matéria com todos os detalhes).Contrato de Itair Machado com o Cruzeiro
Nomeado vice-presidente de futebol do Cruzeiro na gestão de Wagner Pires de Sá, Itair Machado assinou o primeiro contrato de prestação de serviço em janeiro de 2018, com validade até dezembro de 2020. O acordo previa pagamento de R$ 180 mil nos 11 primeiros meses de cada ano, além de R$ 360 mil em dezembro. Ficou acertado ainda que ele faturaria R$ 540 mil retroativos pelos meses de outubro, novembro e dezembro de 2017.
Em junho de 2018, por meio de um aditivo contratual, Itair teve o vencimento ajustado para R$ 202.588,00 brutos, de modo que as cifras ficassem em R$ 180 mil líquidos. Na cláusula quarta do documento, parágrafo 4.3, havia ainda a previsão de indenização de R$ 2 milhões caso o Cruzeiro promovesse a rescisão unilateral e imotivada do vínculo antes de 31 de dezembro de 2019.
Itair Machado também recebeu prêmios por conquistas de títulos - que poderiam chegar a R$ 7,4 milhões, caso a Raposa obtivesse sucesso em todos os torneios. Na prática, o ex-dirigente emitiu notas fiscais na soma de R$ 1.932.295,44, tendo embolsado uma quantia líquida de R$ 1.756.754,50 com os títulos da Copa do Brasil de 2018 e do Campeonato Mineiro de 2019, além das duas classificações à fase de grupos da Copa Libertadores, em 2018 e 2019.
Em nota enviada à imprensa no dia 10 de julho, Machado se defendeu e alegou que não apenas ele, mas todos os ex-vice-presidentes da gestão de Wagner Pires de Sá, tinham remuneração. Logo, estranhou o fato de o clube não ter ajuizado ação contra outros profissionais - Marco Antônio Lage (vice comercial e de marketing), Fabiano de Oliveira Costa (vice jurídico) e Divino Lima (vice executivo financeiro).
“Causa estranheza o fato de não terem ingressado com os mesmos pedidos em desfavor dos demais vice-presidentes executivos, que foram remunerados no mesmo período pelo qual e escrito nessa ação temerária e pessoal. No mais, continuo à disposição para quaisquer esclarecimentos”.