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Na ação ajuizada em 7 de fevereiro deste ano, Fred pleiteou tutela de urgência para rescindir o contrato de maneira unilateral com o Cruzeiro, além de cobrar salários, férias, 13º, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), aviso prévio, luvas e cláusula indenizatória. Somados, os valores superavam R$ 70 milhões.
“Seria cômico se não fosse trágico. Eu queria que fosse piada, mas não é. É um contrato dos mais desastrosos que já vi. Eu até queria falar (chamar de) criminoso, mas ainda não temos certeza disso. É um dos piores e mais absurdos contratos que eu já vi na vida em termos de valores, comissões, enfim. Tudo que ele envolve. É um contrato tenebroso para o Cruzeiro Esporte Clube”, disse o presidente durante live na tarde desta quinta-feira.
Na contestação ao processo movido pelo atacante Fred na 1ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, o Cruzeiro solicitou a reativação do contrato por discordar de todas as alegações do jogador à Justiça, especialmente em relação a uma cláusula compensatória de R$ 50 milhões.
O clube esclareceu que não quer Fred de volta. Na verdade, a instituição usou “argumentos técnicos” para tentar derrubar a cláusula compensatória milionária.
Em antecipação à audiência com Fred agendada para sexta-feira, 31, a defesa do Cruzeiro ainda pediu que o ex-vice-presidente de futebol, Itair Machado, e o ex-presidente, Wagner Pires de Sá, fossem incluídos como responsáveis solidários no imbróglio envolvendo o centroavante e o Atlético, em batalha judicial paralela.
Com 90 páginas, a petição do Cruzeiro é uma resposta à liminar obtida por Fred, em fevereiro, e que lhe garantiu a rescisão contratual devido a atrasos salariais e outros direitos não cumpridos. O jogador assinou por dois anos com o Fluminense, pelo qual já disputou três partidas, sem balançar a rede.
Os advogados celestes pedem a reconsideração do “deferimento da tutela de urgência”, uma vez que o atleta não sofrerá “prejuízo na profissão”, e o reestabelecimento do “contrato especial de trabalho desportivo, até solução final da lide ou após seu termo final”.
Sérgio Santos Rodrigues falou sobre a contestação do Cruzeiro durante a live. “A gente não quer (o Fred) de volta, a gente está simplesmente buscando, através de uma contestação feita pelo nosso time do jurídico, em que a gente chama a responsabilidade do ex-presidente (Wagner Pires de Sá) e do ex-vice-presidente (de futebol, Itair Machado), que foram responsáveis por assinar esse contrato tenebroso para o Cruzeiro, esse péssimo contrato”.
“Fiquei dez anos no clube e nunca vi um contrato tão ruim para o clube como esse que foi feito. Por isso que estamos chamando a responsabilidade (dos ex-dirigentes). A ideia não é a volta do atleta, a ideia é que a gente consiga cassar a liminar que foi dada, e assim foi feita uma transferência por rescisão indireta que o Cruzeiro não ganha nada com ela, que está equivocada, porque esse contrato, desde o seu nascedouro é ruim, lesivo ao Cruzeiro, e vocês sabem que nosso compromisso é que os interesses do Cruzeiro prevaleça”, acrescentou o presidente cruzeirense.
Contrato de Fred
No resumo da argumentação, a defesa do Cruzeiro listou os compromissos firmados na gestão de Wagner Pires de Sá com Fred, como o salário mensal de R$ 800 mil entre 1º de janeiro de 2018 e 31 de dezembro de 2020, os bônus estabelecidos no contrato de trabalho, uma cláusula compensatória de R$ 50 milhões e pagamentos de valores a título de luvas, de mais de R$ 10,4 milhões.
O Cruzeiro entende que Wagner e Itair assumiram o risco de fechar um contrato de três anos com Fred, mesmo sabendo que o Atlético, ex-clube do atacante, havia estipulado uma multa de R$ 10 milhões em caso de transferência para a Raposa.
Entre os motivos para a inserção dos ex-dirigentes como responsáveis solidários estão o crescimento substancial em ações trabalhistas contra a instituição e um indício de fraude ao colocarem como garantia de pagamento ao rival as receitas de televisão oriundas da Rede Globo.
A respeito da indenização de R$ 50 milhões, o Cruzeiro pediu nulidade por entender que se trataria de enriquecimento ilícito, uma vez que a intenção de encerrar o vínculo partiu do próprio jogador, sem a anuência da diretoria que sucedeu Wagner Pires de Sá.
Segundo o Cruzeiro, Fred também não fez qualquer manifestação de insatisfação com remunerações atrasadas no período em que a equipe disputava a Série A do Campeonato Brasileiro, entre abril e dezembro de 2019. O desejo de deixar a Toca se tornou público somente depois do rebaixamento à Série B, consequência de “gestão temerária correspondente aos períodos de 2018/2019”.
“Como já exaustivamente exposto, da simples leitura da petição inicial é possível identificar que o atleta sempre possuiu ciência da grave situação financeira enfrentada pelo Clube, oriunda de gestão temeria correspondente aos períodos de 2018/2019, manifestando público interesse de migração de Entidade Desportiva, após a rebaixamento para série B do Campeonato Brasileiro”, diz a argumentação dos advogados do clube na petição.
Passagem de Fred pelo Cruzeiro
Em sua segunda passagem pelo Cruzeiro, Fred disputou 69 jogos e marcou 25 gols. Na temporada 2018, ele teve a sequência prejudicada por causa de uma grave lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito, em março. Seis meses depois, o camisa 9 se recuperou do problema e voltou a entrar em campo pelo Campeonato Brasileiro, além de ficar no banco de reservas na campanha do hexacampeonato da Copa do Brasil.
Em 2019, Fred começou bem o primeiro semestre, sendo artilheiro do Campeonato Mineiro, com 12 gols, e ajudando o Cruzeiro a levantar o troféu. Depois, caiu de produção, especialmente no Brasileiro, no qual não conseguiu render de maneira satisfatória para livrar o time do rebaixamento. O centroavante de 36 anos deixou a Toca com 81 gols em 140 partidas, dividindo com Fábio Júnior 22ª posição entre os maiores artilheiros da história do clube.