A contratação do meia-atacante
Rodriguinho
, em janeiro de 2019, é uma das que causam mais impacto entre aquelas que foram realizadas pela gestão do ex-presidente
Wagner Pires de Sá
. Documentos obtidos pelo
Superesportes
apontam que o Cruzeiro se comprometeu pagar, ao longo de 36 meses de contrato, um montante de
R$53 milhões
.
O valor total - não necessariamente gasto pelo Cruzeiro, uma vez que Rodriguinho rompeu o vínculo e seguiu para o Bahia - inclui aquisição de
direitos econômicos
(cerca de R$ 26,3 milhões),
remuneração
do jogador ao longo dos 36 meses (cerca de R$ 14 milhões),
direito
de imagem
(R$ 9,3 milhões), além de
comissões
de
intermediários
(R$ 3,4 milhões).
O valor poderia ser ainda maior se o Cruzeiro conquistasse, em 2019, 2020 ou 2021, o
Campeonato Brasileiro
, a
Copa Libertadores
ou o Mundial de Clubes - ou mesmo se Rodriguinho atuasse em 70% dos jogos dessas competições, o que não foi o caso em função de problemas de lesão. O contrato previa bônus de mais
R$ 650 mil
caso o jogador alcançasse alguma dessas ‘metas’. Vamos aos números detalhados.
Ao Pyramids
Em meados de janeiro de 2019, o Cruzeiro acertou a compra de Rodriguinho por 7 milhões de dólares livres de impostos. Na cotação da época, o negócio girou em torno de R$ 26,3 milhões. O Pyramids, do Egito, que detinha os direitos econômicos, aceitou receber em sete parcelas, até janeiro de 2022. O contrato envolvia inúmeros pormenores.
O Cruzeiro pagou uma espécie de entrada. Depositou R$ 3,85 milhões na conta do clube egípcio em 25 de janeiro de 2019. E foi só. As demais parcelas deveriam ter sido quitadas em novembro de 2019 (500 mil dólares), fevereiro de 2020 (500 mil dólares) e maio de 2020 (1 milhão de dólares). O clube ainda precisaria pagar uma parte em agosto de 2020 (500 mil dólares), outra em novembro de 2020 (500 mil dólares) e a última em janeiro de 2022 (3 milhões de dólares), quando o contrato de Rodriguinho já teria se encerrado.
Neste momento, há um dos detalhes mais ‘curiosos’ do acordo. O Cruzeiro garantiu o pagamento da última (e maior) parcela por meio de um Instrumento de Garantia de Cessão, concedendo ao clube do Egito uma garantia “irrevogável e irretratável” decorrentes do repasse de 20% dos direitos econômicos do zagueiro
Murilo
, do atacante
Raniel
e do atacante
Vinícius Popó
.
Na hipótese de cessão definitiva pelo Cruzeiro de percentuais desses jogadores a outros clubes antes de janeiro de 2022, o Cruzeiro deveria repassar 20% dos valores totais cinco dias após o recebimento do dinheiro. Murilo foi negociado com o Lokomotiv-RUS por R$ 11 milhões, em junho de 2019 (20% representa R$ 2,2 milhões), e Raniel foi vendido ao São Paulo por R$ 12,9 milhões, no mês seguinte (20% representa R$2,58 milhões).
No contrato, o Cruzeiro aceitou multa de 10% em caso de atraso em cada uma das parcelas, além de juros de mora (atraso) de 6% ao ano, computado sobre o valor total em mora, da data devida até a data do pagamento. O valor deverá ser multiplicar ainda mais em função de variação cambial.
Ao jogador
O Cruzeiro acertou com Rodriguinho, então com 30 anos, o pagamento de R$ 14 milhões em salários (ao longo dos 36 meses) e R$ 9,3 milhões de direitos de imagem. O meia-atacante recebia, portanto, R$ 650 mil por mês, sendo R$ 390 mil na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e R$ 260 mil de imagem.
Aos ‘intermediadores’
O custo total combinado para o pagamento de intermediadores da negociação era de R$ 3,4 milhões. O dinheiro foi acordado com
Eduardo Maluf
, dono da Dut’s Marketing Esportivo, que representa o Pyramids no Brasil, e
Luís Paulo Santarelli
, dono da Santarelli Sports LTDA e empresário de Rodriguinho.
Com Maluf, o Cruzeiro combinou o pagamento de R$ 1,8 milhão em três parcelas: uma em 25 de janeiro (cerca de R$ 1,2 milhão), uma em 21 de fevereiro (cerca de R$ 276 mil), uma em 21 de março (cerca de R$ 276 mil). Os registros indicam que a Dut’s, de Maluf, recebeu do clube entre janeiro e março o montante de R$ 1,27 milhão.
O clube celeste ainda concordou em assegurar ao representante do Pyramids o direito de intermediar todas as negociações envolvendo Raniel, Murilo e Popó. De acordo com o contrato, ele não receberia nenhum valor a mais pelos negócios, mas saberia de todas as informações para garantir o cumprimento do Instrumento de Garantia de Cessão dado aos egípcios.
Luis Paulo Santarelli também foi contemplado como intermediador no acerto do Cruzeiro com Rodriguinho. O clube se propôs a pagar R$ 1,6 milhão ao empresário ao longo do contrato do meia-atacante.
Ficou acertado que Santarelli receberia R$ 273 mil em 5 de fevereiro de 2019; R$ 273 mil em 20 de março de 2019 e o restante (cerca de R$ 1 milhão) em 24 parcelas de R$ 45 mil cada uma a partir de janeiro de 2020.
Se existisse qualquer tipo de readequação salarial de Rodriguinho no período do contrato, essa comissão seria recalculada com 7% sobre a diferença salarial total apurada.
Pelos direitos de imagem
Inicialmente, o contrato de direito de imagem foi fechado pelo Cruzeiro com a empresa de Luís Paulo Santarelli, agente de Rodriguinho. O Cruzeiro se comprometeu a pagar R$ 260 mil/mês por 35 meses (fevereiro de 2019 a dezembro de 2021) e um proporcional de R$ 60,6 mil pelo período de 23 a 30 de janeiro de 2019.
Contudo, em 1º de março de 2019, cerca de um mês após a assinatura, o contrato com a empresa de Santarelli foi desfeito. Na mesma data, foi assinado novo acordo, desta vez com a
RCM Esportes e Participações Eireli
, empresa no nome de Rodriguinho e fundada em 19 de fevereiro do ano passado. O documento também previa o pagamento de R$ 260 mil/mês.
Em 6 e 7 de março, os registros financeiros do Cruzeiro apontam depósitos nas contas de Santarelli em valores que batem com o pagamento dos direitos de imagem negociados para sete dias de janeiro e o mês completo de fevereiro.
No novo compromisso, o Cruzeiro pagou três parcelas de direitos de imagem à empresa de Rodriguinho: R$244 mil líquidos em 5 de abril; 7 de junho e 22 de outubro.
O que ficou acertado na saída?
Em fevereiro de 2020, no auge da crise do Cruzeiro, Rodriguinho não aceitou a repactuação salarial proposta pelo Conselho Gestor, que administrou o clube entre dezembro de 2019 e maio de 2020, e optou por ser transferir para o Bahia. O Superesportes também teve acesso a detalhes dessa negociação.
Assim como vários outros que deixaram o elenco após o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro, Rodriguinho passará a receber uma quantia mensal do Cruzeiro a partir de 15 de abril de 2021. O montante ultrapassa R$ 2 milhões, divididos em
20 parcelas de R$ 104 mil
.
O distrato assinado prevê que, na hipótese de atraso superior a 30 dias no pagamento a Rodriguinho, haverá incidência de multa de 100% tanto sobre o total vencido quanto nos valores vincendos. Além disso, as parcelas restantes terão o vencimento antecipado. Ou seja, o Cruzeiro não poderá, sob pena de ver a dívida dobrar, atrasar por mais de um mês o acordo firmado com o jogador.
Agora administrado pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues, o clube celeste também precisará acertar os pagamentos atrasados de comissões aos empresários que participaram das negociações e o mais importante: a dívida com o Pyramids, de cerca de R$ 22 milhões, que deverá parar nos tribunais da Fifa.
Passagem frustrante
Tratado pelo então técnico do Cruzeiro, Mano Menezes, como o ‘melhor jogador em atividade no Brasil’ em 2017, Rodriguinho chegou à Toca da Raposa II em janeiro de 2019 com status de uma das maiores contratações do futebol nacional. Ele lidou com a responsabilidade de substituir Arrascaeta, que havia sido negociado com o Flamengo.
Rodriguinho até começou o ano bem, marcando três gols na Copa Libertadores e quatro no Campeonato Mineiro. Contudo, ele ficou por muitos meses de 2019 no departamento médico e precisou passar por dois procedimentos cirúrgicos na região lombar. Em 20 partidas no ano passado, o meia contabilizou oito gols. Em 2020, o jogador entrou em campo duas vezes pelo Campeonato Mineiro antes de ser liberado para assinar com o Bahia.