O Cruzeiro quer estreitar laços para que jogadores identificados com o clube contribuam no departamento de futebol. As principais nomeações feitas pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues no primeiro mês de administração foram a do diretor técnico Deivid e a do coordenador de base Dirceu Lopes. “Todo mundo que contribui para a história do Cruzeiro a gente quer que faça parte”, disse o dirigente, em entrevista ao Superesportes.
Deivid, de 40 anos, teve experiência anterior no Cruzeiro como treinador, no primeiro semestre de 2016, quando contabilizou quase 72% de aproveitamento - 11 vitórias, 5 empates e 2 derrotas -, mas com futebol fraco mesmo diante de adversários modestos no Campeonato Mineiro. O estopim para a sua demissão foi a eliminação na semifinal do estadual, diante do América, com um 0 a 0 de muita improdutividade no Mineirão.
Em 2017, o ex-atacante comandou o Criciúma e também não alcançou sucesso. Com isso, decidiu encerrar a curta carreira de técnico para, posteriormente, dedicar-se ao agenciamento de jogadores, em junho de 2018. Ao mesmo tempo em que mapeou talentos no Brasil afora, realizou cursos de gestão esportiva na CBF - tal como havia feito para se tornar treinador - e recebeu o convite da Raposa.
Superintendente de futebol do Cruzeiro no período em que Deivid foi técnico, Sérgio Rodrigues valorizou a bagagem adquirida pelo profissional desde os tempos de jogador. Segundo o presidente, o ex-atacante aprendeu bastante no Fenerbahçe, da Turquia, sob as orientações do treinador espanhol Luis Aragonés, campeão da Eurocopa com a seleção de seu país, em 2008. Também foram mencionados elogios por parte do ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos.
“O Deivid ficou por muito tempo com o Aragonés (morreu em 2014, aos 75 anos), um dos caras que mais entendem de futebol do mundo. Eu estive no Real Madrid, e o Roberto Carlos sempre elogiou ele, pela postura de grupo. É um ídolo na Turquia, muito querido em Portugal e tem portas abertas no Santos. Todos os jogadores com quem conversei sempre o valorizaram muito. Ele fez uma coisa que eu gosto muito: esses cursos nas áreas de gestão e para técnico”.
Conforme Sérgio, a experiência de Deivid como agente lhe proporcionou conhecimento a respeito do processo de formação nas categorias de base. “Quando ele virou empresário, mexeu com muitos jogadores de base. Foi algo que gostei, para conhecer profundamente sobre base. Ele sempre manifestou esse desejo de vir para a parte prática, de gestão, que nunca tinha feito”.
A missão de Deivid é trabalhar de maneira alinhada ao diretor de futebol Ricardo Drubscky e ao técnico Enderson Moreira na busca por contratações e no dia a dia com os atletas. “Deixei claro para o Deivid que ele vem para ser diretor, abandonou a carreira de técnico, tem que estar muito claro. Ele tem contribuído muito. Conversamos com o Drubscky e o Enderson, eles se relacionam muito bem. O Deivid é tal como o Tinga, um atleta que passou por aqui e ajudou bastante”, destacou o presidente.
A admiração de Sérgio Rodrigues por Deivid vem desde a época de artilheiro. Em 2003, o centroavante jogou por seis meses no Cruzeiro, tendo contabilizado 28 gols em 37 partidas (média de 0,73) até ser vendido pelo Nova Iguaçu, detentor de 75% de seus direitos econômicos, ao Bordeaux, da França, por US$ 5,1 milhões. Naquela temporada, a Raposa ganhou o título simbólico da Tríplice Coroa ao faturar Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.
Dirceu Lopes
Segundo maior goleador da história do Cruzeiro, com 228 tentos em 610 jogos, Dirceu Lopes terá a responsabilidade de passar o conhecimento aos jovens das categorias de base. Sérgio Santos Rodrigues explicou que a experiência do camisa 10 dentro de campo compensa qualquer ausência de formação teórica.
“O Dirceu é um ídolo que o Pelé chamou de príncipe. Ainda que ele não tenha formação, ninguém chega ao nível de talento fazendo o que o Dirceu sem saber passar conhecimento. Ele pode não ter a parte técnica de formação, mas em qualquer categoria que parar em frente ao atleta, explicar e falar sobre o jogo, que só ele sabia fazer, pode contribuir. Foi isso que vimos no Dirceu, além, óbvio, de ser uma inspiração”.
Dirceu, de 73 anos, ficou notabilizado por comandar a goleada do Cruzeiro sobre o Santos, por 6 a 2, no Mineirão, em 30 de novembro de 1966, pela decisão da Taça Brasil. O ex-meia marcou três gols - os outros foram de Zé Carlos (contra), Natal e Tostão. Na partida de volta, no Pacaembu, em São Paulo, também balançou a rede na vitória de virada por 3 a 2. À época, Pelé recomendou a sua contratação à diretoria do Peixe - fato citado por Sérgio Rodrigues.
“Dirceu é, sem dúvida, o maior jogador da história do Cruzeiro. Isso é reconhecido pelo próprio Pelé. A ideia do Dirceu é essa. Além da inspiração, ele pode contribuir nessa parte de campo com a experiência dele. Faz parte do time que ganhou de 6 a 2 do Santos de Pelé”.
Outros integrantes do departamento de futebol cruzeirense brilharam em campo, como os auxiliares técnicos Célio Lúcio (zagueiro, de 1990 a 1997) e Luís Fernando Flores (armador, de 1990 a 1997), o técnico do sub-14, Leandro Guerreiro (volante, de 2011 a 2013), e os observadores Careca (armador, de 1987 a 1990; 1993 a 1994), Marco Antônio (atacante, de 1965 a 1969) e Gilmar Francisco (zagueiro, de 1986 a 1990).