Superesportes

CRUZEIRO

Sérgio Rodrigues foca em gestão no Cruzeiro e não se vê pressionado por possível sucesso do Atlético

Presidente afirma que vai se preocupar apenas com os assuntos do clube

Bruno Furtado Paulo Galvão Rafael Arruda Tiago Mattar
Sérgio Rodrigues não se mostra preocupado com possível sucesso do rival - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
O ano de 2020 é marcado pelo contraste no futebol mineiro. O Cruzeiro jogará a Série B pela primeira vez na história e terá de se preocupar, principalmente, em manter os salários em dia, além de pagar dívidas na Fifa a fim de evitar novas punições esportivas. Já o Atlético traçou o projeto de fazer frente a Flamengo e Palmeiras na briga por títulos, contando com o apoio financeiro de seus dois principais patrocinadores, o banco BMG e a construtora MRV, para investir em contratações solicitadas pelo técnico Jorge Sampaoli. A movimentação do rival no mercado da bola não incomoda o presidente celeste, Sérgio Santos Rodrigues, que foca exclusivamente em sua gestão com o objetivo de recuperar a imagem do clube, manchada por escândalos de corrupção e gastos desenfreados na administração de Wagner Pires de Sá.




A pressão é zero, pois nosso trabalho é focado no Cruzeiro, não no Atlético. Eu preocupo com a torcida do Cruzeiro, não o que está sendo feito em outros clubes. Então, a gente foca na nossa gestão, no nosso modelo, no que precisa ser feito.Vamos prestar satisfação para nossa torcida. Raramente vão me ver falando do rival”, declarou o dirigente, em entrevista ao Superesportes/Estado de Minas.

Sérgio Rodrigues tomou conhecimento das declarações de seu xará, Sérgio Sette Câmara, com relação ao risco que o Cruzeiro corre de ficar muito abaixo do Atlético se não conseguir resolver seus problemas rapidamente. Também ao Superesportes/Estado de Minas, o presidente alvinegro citou como exemplos a supremacia do Bahia sobre o Vitória, e a do Flamengo em comparação a Vasco, Botafogo e Fluminense

“Não vejo esse risco, porque estou focado no Cruzeiro. Não faço gestão preocupado com o Atlético”, frisou o mandatário cruzeirense, mencionando, em seguida, o número de títulos importantes conquistados pelo clube.



“Até vi essas entrevistas [de Sette Câmara ao Superesportes], mas métrica por métrica, nós temos 14 grandes títulos: seis Copas do Brasil, quatro Brasileiros, duas Supercopas e duas Libertadores [dos citados, o Atlético tem três - uma Libertadores, uma Copa do Brasil e um Brasileiro]. Não vejo como alguém deixar de gostar de um time da grandeza do Cruzeiro”, complementou.

Santos Rodrigues fez uma analogia ao nadador americano Michael Phelps, maior atleta olímpico de todos os tempos, dono de 23 medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze nos Jogos de Atenas’2004, Pequim’2008, Londres’2012 e Rio’2016. Segundo o presidente, o Cruzeiro precisa fazer o mesmo que Phelps: sempre olhar para frente, sem se preocupar com quem está ao lado.

“A gestão que a gente faz é essa. Tenho uma imagem que uso nas minhas aulas de gestão esportiva que é muito marcante. Mostra o Phelps nadando olhando para frente e o concorrente olhando para o Phelps. A gente não faz gestão olhando para o lado, e sim para frente. Tenho certeza de que vamos fazer boa gestão e retomar o Cruzeiro para um caminho de vitórias e credibilidade”.



Finanças


Em maio de 2020, a Ernst & Young publicou um relatório sobre a situação financeira dos clubes brasileiros, baseado nas demonstrações contábeis do exercício de 2019. Segundo o estudo, o Cruzeiro deve R$ 799 milhões, e o Atlético R$ 656 milhões.

O problema é que o Cruzeiro saiu de uma situação aparentemente reversível, na gestão do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, para o fundo do poço com Wagner Pires de Sá. Com aumento substancial em salários, contratações e comissões, o clube registrou R$ 540 milhões de déficit acumulado em dois anos, sendo R$ 394 milhões em 2019.

As receitas do Cruzeiro vão despencar por causa do rebaixamento à Série B. Se em 2019 houve arrecadação de R$ 289 milhões, em 2020 a previsão feita pelo Núcleo Dirigente Transitório era de R$ 80 milhões. O grupo que administrou o clube no primeiro semestre ainda calculou a previsão de prejuízo em 2020: R$ 143 milhões. Isso faria o passivo total atingir R$ 942 milhões.



Apesar da “bola de neve”, Sérgio Rodrigues vê luz no fim do túnel. “Da mesma forma que você vê Inter, Botafogo, Atlético, Vasco e Fluminense viáveis, o Cruzeiro também é. A dívida deles não é tão diferente da nossa. A diferença é que não se pergunta isso para os presidentes deles. O fato de o Cruzeiro estar na Série B provoca diferença de recursos, então gera dificuldades este ano, mas, com credibilidade e criatividade, podemos superar”.

O presidente explicou que, num primeiro momento, priorizará a manutenção de salários de jogadores e funcionários e a liquidação de dívidas na Fifa. “Antes mesmo da posse acreditavam que perderíamos mais seis pontos na Série B do Brasileiro porque não havia planejamento (para pagar dívida na Fifa) e a gente pagou. Talvez hoje sejamos um dos únicos cinco clubes do Brasil com salário em dia, não devemos nada a nossos atletas. Isso demonstra nosso esforço e nosso compromisso nessa viabilização”.

Dívidas na Fifa


Por causa de uma dívida com o Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pelo não pagamento de 850 mil euros (R$ 5 milhões) referente à contratação do volante Denílson, o Cruzeiro iniciará a Série B do Campeonato Brasileiro com menos seis pontos. Outros débitos estão em aberto.


“Há clubes cuja dívida não está vencida, e a Fifa tem o procedimento de intimar a pagar num prazo entre 30 e 90 dias. Há clubes que essa dívida não venceu que negociamos direitos de atletas. Outros estão aceitando parcelamento. A de curto prazo, necessária para se pagar para evitar punição esportiva, é a Fifa. Tirou-se a Fifa, todas as outras dívidas são negociáveis, dentro do sistema jurídico brasileiro”, salientou Sérgio Rodrigues.

Nessa terça-feira, o clube informou ter recebido outras duas ordens de pagamento: uma de US$ 2.286.840,00 (R$ 11.968.405,82), pela compra de Rafael Sobis ao Tigres do México, e outra de 395.619 euros (R$ 2.335.814,08), no empréstimo de Pedro Rocha junto ao Spartak Moscou, da Rússia. Os valores somados em reais correspondem a R$ 14,3 milhões.

O Cruzeiro tem até 15 de julho para quitar a dívida por Sobis. O prazo da pendência por Pedro Rocha é 6 de agosto. Diferentemente do “caso Denilson”, as penalidades são o impedimento de registro de atletas, até que as situações sejam resolvidas. Não há, portanto, risco de nova perda de pontos, nem rebaixamento de divisão.



A entrevista


Sérgio Santos Rodrigues concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes/Estado de Minas. Na conversa, presidente do Cruzeiro falou sobre finanças, contratações, patrocínios, entre outros temas relacionados ao início de sua gestão. Veja o que já publicamos: