Com larga experiência em trabalhos na Fifa, o advogado Breno Tannuri, que também presta serviço ao Cruzeiro, diz que os processos que envolvem o clube celeste na entidade máxima do futebol são gravíssimos. Ele alerta que a Raposa pode ser penalizada até com rebaixamento caso não quite os débitos.
Ao Superesportes, Tannuri explicou que não há como recorrer da punição da perda de pontos imposta pela Fifa. O time celeste começará a Série B do Campeonato Brasileiro com menos seis pontos na tabela por não ter pago o empréstimo do volante Denilson ao Al Wahda, dos Emirados Árabes, em 2016, no valor de 850 mil euros (R$ 5,3 milhões).
"Se não foi feito um acordo antes da data - quem estava tratando disso era o Conselho Gestor diretamente com o Al Wahda, por isso não sei exatamente em que pé que estaria esta negociação -, não há possibilidade. Então, teria que ter documentos assinados antes da data de vencimento exigida pela Fifa", frisou Tanuri.
A dívida deveria ter sido quitada na segunda-feira passada (18). O Conselho Gestor do Cruzeiro já admitiu que não houve acordo e destacou que tentaria uma nova negociação.
"Pelo que tudo indica, já foram embora os seis pontos. Não posso cravar porque não estou neste caso. O Cruzeiro tem que pensar o que vai fazer daqui oito, nove dias para evitar uma nova punição", afirmou Tannuri.
No fim deste mês, vence a dívida do Cruzeiro com o Zorya Luhansk, da Ucrânia, pela compra de Willian Bigode em 2014. O valor gira em torno de R$ 10 milhões. Se não pagar, a Raposa começará a Série B com menos 12 pontos. "A punição, caso o Cruzeiro não pague, será de menos seis pontos também. Ela não se agrava".
De qualquer forma, o Cruzeiro terá que pagar as dívidas. "O fato de reduzir os seis pontos não significa extinção da dívida. A dívida continua e a próxima punição é rebaixamento", disse o advogado.
O Cruzeiro deve ter um prazo máximo de cinco meses para pagar o Al Wahda. Se a dívida não for quitada, o clube será rebaixado. "Vai se abrir um novo procedimento disciplinar. O processo demora, no máximo, cinco meses. Mas pode vir antes, em três, quatro meses. Se não pagar, é rebaixado", destacou Tannuri.
"Na Fifa, o procedimento total demora um ano, dois anos. O Cruzeiro está há seis anos sem pagar um clube e há quatro anos sem pagar o outro".
Tannuri ressalta que as gestões de Gilvan de Pinho Tavares, Wagner Pires de Sá e o Conselho Gestor sabiam da gravidade financeira na Fifa.
"O que posso adiantar é que a situação do Cruzeiro é muito grave. A gestão retrasada sabia, a passada sabia e o Conselho Gestor sabe disso. O que eu rogo a Deus é que as pessoas que assumirem o Cruzeiro tenham a noção do que precisa ser feito. Eu sei que a comparação é bizarra, é desproporcional, mas o problema não é morrerem mil pessoas [por Covid-19] - é claro que isso é um problema. Mas o problema maior é que está sendo falado que vão morrer mil pessoas há três, quatro meses. E o que nós fizemos para evitar as mortes? O que fizeram para pagar as dívidas do Cruzeiro? É isso que tem que ser perguntado", frisou o advogado.
Tannuri acha improvável qualquer acordo do Cruzeiro com os clubes reclamantes. "Os times estão cansados. Dívidas de 2014 e de 2016. Improvável que aconteça algum acordo agora".