O Conselho Deliberativo do Cruzeiro escolherá na próxima quinta-feira, dia 21, o presidente que assumirá as funções em mandato-tampão até 31 de dezembro. Depois de ouvir os quatro candidatos ao posto de mandatário do órgão, o Superesportes publica entrevistas com os dois postulantes ao cargo de chefe do executivo: o advogado Sérgio Santos Rodrigues e o empresário Ronaldo Granata.
Assim como na última série de entrevistas, foram realizadas perguntas fixas, feitas aos dois candidatos, e outras específicas, para tratar da trajetória deles no Cruzeiro. Cada um teve até 40 minutos para responder os questionamentos. Em função da pandemia de coronavírus, as perguntas foram feitas por meio de vídeo-chamada.
Como foi o primeiro a registrar chapa, Sérgio Rodrigues abre a série. Candidato pela segunda vez ao cargo de presidente, o advogado, de 37 anos, revela planos para o planejamento do centenário do Cruzeiro, comenta a necessidade de democratização do clube por meio de novo Estatuto e responde sobre conduta de conselheiros expulsos.
Ele também revela o desejo de mudar algumas peças na equipe de trabalho do Cruzeiro, mas garante a manutenção do diretor de futebol Ricardo Drubscky e do técnico Enderson Moreira. Por fim, relata as ideias para fortalecer as categorias de base do clube celeste.
Leia, na íntegra, a entrevista com Sérgio Santos Rodrigues, candidato à presidência do Cruzeiro:
Gostaria, inicialmente, que o senhor se apresentasse rapidamente ao torcedor. Principais funções exercidas ao longo da carreira profissional e breve histórico no Cruzeiro.
Sou Sérgio Rodrigues, tenho 37 anos, sou advogado, tenho escritórios em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, sou mestre em direito, doutorando em direito, prestes a concluir. Falta só defender minha tese em Portugal. No âmbito do futebol, trabalhei nove anos no Cruzeiro, passei pela superintendência de gestão estratégica, assessoria jurídica da presidência, superintendência de negócios internacionais e superintendência do futebol.
São nove anos de trabalho voluntários na Sede Administrativa, Toca I e Toca II. Na parte teórica fiz curso na Universidade do Futebol e na CBF. Fiz um MBA de Gestão de Entidades Desportivas no Real Madrid, no clube espanhol. Além de visitar diversas estruturas, museus, estádios e clubes ao redor do mundo para adquirir conhecimento e aplicar no Cruzeiro.
Um dos principais anseios do torcedor é a votação de um novo Estatuto pelo Conselho Deliberativo. Essa é uma de suas bandeiras? O senhor se esforçará para que o Cruzeiro tenha um novo Estatuto até 31 de dezembro?
Sim, defendo (um novo Estatuto). Existem duas partes. O aspecto eleitoral, que por uma determinação da Constituição Federal não se muda regras da eleição em ano eleitoral. Mas eu sou a favor de buscar uma democratização de quem pode votar, assim como flexibilizar quem poderá ser votado. Isso para valer para valer para depois. E para valer desde já, de forma imediata, todos os critérios para a gente discutir governança, compliance, formas de proteger mais o Cruzeiro e ter um Estatuto mais efetivo.
Há uns dois meses eu já sugeri e constituí uma comissão com três pessoas dessa área. Um professor, um advogado criminalista e um cível na área da governança corporativa e compliance. Todos mestres e doutores pela Universidade Federal de Minas Gerais. Todos com experiências práticas e teóricas sobre o assunto. Eles já ouviram conselheiros, torcedores ao longo do tempo para submeter ao Conselho Deliberativo depois. Não cabe ao presidente do Cruzeiro fazer reforma de Estatuto ou colocar da forma que convém. Mas eu quis adiantar esse trabalho de uma forma democrática e plural para gente buscar essa modernização do Estatuto como objetivo principal de proteger o Cruzeiro como instituição. Vai ser um dos nossos compromissos trabalhar por isso.
Há uma demanda antiga do torcedor por mais democracia no clube, voto para sócio-torcedor. No que depender do senhor, o sócio-torcedor também terá direito a voto no Cruzeiro?
Eu acho que é o caminho que a gente tende a seguir. A gente segue alguns exemplos. Sou a favor de estudar e os modelos para nós que essas pessoas, esses professores que falei, fizeram, foi pegar estatutos do Bahia, Flamengo, Athletico-PR, que são bons estatutos, para que isso ocorra. Mas precisamos buscar forma para que isso tudo aconteça. O sócio que paga R$ 12 não pode ter os mesmos direitos daquele que paga R$ 180. Tem que ter um mínimo de tempo dentro do programa. É uma coisa que eu gosto sim. Eu, pessoalmente, acho interessante. Só gostaria de entender e estudar um pouco mais como os outros fazem.
O que o senhor achou da proposta de mudança de Estatuto apresentada pelo Conselho Gestor neste mês? O senhor chegou a ler?
Não. Nem li. Eu já tinha falado sobre essa proposta antes, que eu acho que uma proposta apresentada de cima para baixo, na minha opinião, não é a forma mais correta. Eu nem li porque eu pretendo, como disse, buscar uma discussão maior de como fazer essa modernização, com participação de muitas pessoas, para submeter depois. Me falaram alguns aspectos, como Conselho de Notáveis, alguma coisa assim, mas, sinceramente, eu não me aprofundei não.
Caso vença a eleição, o senhor terá, tão logo assuma o clube, a dura missão de pagar dívidas milionárias na Fifa. O que pensa disso, como fazer o pagamento de todas essas dívidas? Pode garantir que o Cruzeiro não perderá pontos na Série B, em função de possíveis punições, caso o senhor seja eleito?
Garantir é sempre complicado porque todo mundo sabe qual é a situação do caixa do Cruzeiro. Mas nos esforçar, e a gente já vem fazendo isso, o que nos traz muita convicção de que a gente não vai ter essa penalidade, isso eu posso te dizer. Até porque a gente já começava a tratar, mas parece que já está confirmada o adiamento dessa do dia 18, parece que vai adiar, e em tese tem outra, dia 29, eu já tinha começado a trabalhar no parcelamento dessa, achando que seria candidato único, mas perdemos legitimidade com a outra chapa e precisamos esperar pelo menos a eleição.
Primeiro buscar parcelamento, segundo tentar alguns coisa via atleta, a gente sabe que dos vencimentos mais para frente alguns clubes já demonstraram esse interesse, e terceiro e último é ajuda de investidores. Não só patrocinadores, mas de pessoas que querem tentar ajudar o Cruzeiro mesmo. Já fizemos algumas reuniões, tivemos sinalizações positivas de algumas pessoas, o que nos faz acreditar que, apesar de o valor ser alto, que os valores para frente vamos conseguir equalizar sem prejuízos esportivos.
O Conselho Gestor contratou há pouco um diretor de futebol e um técnico, que nem sequer estreou. Qual sua avaliação desses profissionais? O senhor irá mantê-los? E emendando, gostaria que você fizesse uma análise do atual elenco do time também, por favor.
O Enderson e o Ricardo, até para dar uma estabilidade, eu sempre falo que, obviamente, eles terão nossa confiança para continuar com o trabalho. O Enderson eu conheço rapidamente, joguei pelada (futebol) com ele uma vez, o Drubscky eu conheço muito o filho dele, trabalhou comigo na base do Cruzeiro, também é graduado em direito, já tive com ele também em eventos sociais. Mas são profissionais de respeito no mercado, têm uma bela história, na última, inclusive, atuando juntos, conseguiram a Série B do Campeonato Brasileiro (pelo América), no ano em que o Internacional estava na Série B, então fizeram uma boa campanha. Eles terão nossa confiança para iniciar o trabalho.
Quanto ao elenco, a gente vê uma grande diferença em relação ao elenco que fez os dois últimos jogos, que foram ruins, contra CRB e Coimbra, para o elenco de hoje. Não só a chegada de Régis, mas Robinho, Jean, chegaram a jogar basicamente sem pré-temporada, o Jean tinha acabado de chegar, Robinho voltando de lesão, Ariel Cabral… O próprio Moreno, vindo da China, não teve preparação adequada e já entrou para jogador. A gente acredita que esses jogadores com tempo para treinar, que é o que eles terão, e eu concordo com dois ou três reforços que o Enderson e Drubscky já falaram isso em outras entrevistas, teremos um time competitivo para subir para a Série A.
Os salários atrasados do grupo e especialmente dos jogadores que já reduziram os vencimentos no início do ano preocupa? Até pela questão da motivação…
Motivação acho até que não, porque muitos dos que ficaram, ficam aí pela identificação com o Cruzeiro. Tinham propostas para atuar em outros clubes da Série A, mas ficaram para fazer parte da reconstrução. Mas é claro que, primeiro, além de acreditar que o Conselho Gestor tem essa chance de conseguir recursos e ajudar, a gente já trabalha para que isso ocorra. Hoje a gente caminha para já apresentar patrocínios novos, pessoas interessadas no Cruzeiro. Nossa esperança é que a semana que a gente tem, entre a eleição e a posse, a gente possa consolidar esses compromissos já com a legitimidade de presidente eleito no Cruzeiro, mesmo antes da posse, para viabilizar esses compromissos. Os salários e as dívidas na Fifa são o que mais preocupam.
Queria que o senhor listasse de três a cinco projetos que julga essenciais no Cruzeiro, seja relativo a base, profissional, Mineirão, sócio-torcedor. E projetos que o senhor entende que é viável implementar neste mandato-tampão, até 31 de dezembro.
O projeto do Centenário é claro que é uma prioridade. Toda a torcida do Cruzeiro quer isso. É uma oportunidade de celebração e monetização. Realização de eventos, de partidas amistosas, podendo vender direitos de TV dessas partidas, a integração com a comunidade italiana. Eu já falo com o Cônsul da Itália para a gente poder fazer eventos. É um projeto tratado com carinho. O acordo com a Minas Arena é uma coisa bem avançada, eu nunca escondi minha ótima relação com a Minas Arena. Na última campanha eu já havia sentado com eles para entender a demanda deles com o Cruzeiro e eu vi que tinha muita sintonia. A gente já conversa de novo.
Sócio-torcedor, certamente, temos um projeto de poder alinhá-lo. A gente muda nome, coloca outro, muito no achismo, nunca no objetivismo. Acho que precisamos de uma grande pesquisa, queremos implementar os programas já com isso, atraindo o centenário para esse meio. Eu nunca escondi o grande projeto de transformação digital que queremos fazer no Cruzeiro. Tem o hub que a gente pretende criar dentro do Cruzeiro, de conhecimento e de inovação. A gente fala em produção própria de conteúdo, exploração das redes sociais para monetização. Flamengo e River Plate são modelos para isso. Trazer um time bom como estamos trazendo - Henrique Portugal, Gustavo Caetano, Rodrigo Moreira - que são três pessoas muito conceituadas, estão compondo nosso comitê de inovação para pensar fora da caixa e buscar essas formas.
Pensando em centenário, que projeta vislumbra para o Cruzeiro em 2021? O memorial, que nunca saiu do papel, é algo que você vislumbra? E como usar a sede também para uma forma mais atrativa?
Isso é tudo que eu sonho, que eu já falava na outra campanha, e que o próprio Mineirão se dispôs a ser lá, num possível acordo a ser feito. É um projeto nosso sim, que isso aconteça, que saia do papel. Um memorial ou até um museu, algo maior, há várias empresas especializadas que fazem isso. A gente sabe do interesse dessas empresas em trabalharem com outros grandes clubes. Acho que o Cruzeiro tem espaço para isso. Se não no Mineirão, no próprio espaço do Barro Preto, para poder fazer isso.
Mas queremos fazer a grande festa em 2 de janeiro e comemorar o ano inteiro. Então, se o calendário não permitir um grande jogo do profissional no dia 2, mas a gente fazer um grande evento, desde a área gastronômica, cantores cruzeirenses, e a partir daí buscar casar junto com a festa italiana para fazer um evento, projeto com o consulado italiano é trazer um grande time italiano para fazer um jogo no Mineirão, entre outros produtos específicos para venda que podemos ter no centenário. Pode ser uma oportunidade de monetização.
Diante de tudo que aconteceu com o Cruzeiro nos últimos dois anos, você acredita que o clube poderá reaver recursos que foram usados indevidamente?
Não só pode, como a gente acredita que consiga fazer isso. É uma prioridade, conversando com pessoas que nos servem na área jurídica, já há alguns escritórios que podem nos assessorar, tanto na área cível como na criminal, buscar tudo que for possível. Não só na reparação monetária, casos essas pessoas tenham bens e dinheiro em seu nome, mas na criminal também, que paguem por isso. Aqueles que são sócios ou conselheiros do clube na área administrativa, para tirá-los definitivamente dos quadros do clube. É uma coisa que prego muito, eu falo de paz, mas paz para quem merece. Se implacável com aqueles que lesarem o Cruzeiro na medida que forem divulgados os tão esperados relatórios do Ministério Público e da Polícia Civil. Diante do que sair daquilo, que são laudos oficiais, nós, como Cruzeiro pessoa jurídica, vamos correr atrás.
O senhor já falou sobre o rito da expulsão dos conselheiros, que de fato provocou uma série de interpretações, inclusive na Justiça, mas gostaria de saber sua posição, como membro do Conselho, da conduta desses associados que foram remunerados pela antiga administração.
Cada situação é uma. Agora, eu não conheço os processos. Tem que ver. Falam que tem uns que nem sequer trabalharam, que outros trabalharam, outros trabalharam por pouco tempo, que uns recebiam para acobertar outras coisas, que a gente não sabe o que é. Foi isso daí que eu tinha falado em entrevistas antes. Se sou advogado, não cabe ao Raimundinho, presidente da OAB, ele não define quem vai ser punido, quem não vai, quem vai revogar punição. Eu sempre bato nessa tecla. A gente tem que submeter ao Conselho Deliberativo.
Agora, eu, como autoridade executiva do clube, acho que minha opinião pode influenciar até em julgamento. Então, não cabe a mim falar sobre isso, quem está certo, quem está errado. Acho que o julgamento tem que ser feito e quem estiver errado tem que ser punido. E eu não posso influir sobre esse julgamento de forma alguma. Nem pro bem nem pro mal. Sou um legalista, é isso que eu falo. Quando falei isso, tiveram até algumas pessoas que extraíram minha frase, fizeram manchetes tendenciosas para dizer outra coisa, mas eu sempre bati nessa postura. Nunca emiti um juízo de valor porque não cabe a mim fazer isso. Como eu acho que um presidente da República, o presidente de um clube, de uma entidade de classe, ficar falando sobre julgamento que ainda tem que correr no órgão competente. Então, cabe esse julgamento correr lá, de forma lisa, e a tendência que for tomada, ser acatada pelo presidente executivo do clube.
Sua opção, desde o início deste processo eleitoral, foi não revelar qual será seu voto e nem declarar apoio a qualquer chapa do Conselho Deliberativo. Gostaria que o senhor explicasse, por favor, o motivo dessa decisão.
Sempre expliquei isso, porque hoje você tem quatro chapas. Falei que conheço os 16 membros das quatro chapas e desses 16, nós temos, salvo engano, 12 que são das quatro chapas que já declararam apoio à minha chapa. Então, é por isso que é complicado pra mim poder fazer isso (declarar apoio a uma chapa). Até porque, na minha opinião, seria até imoral eu apoiar alguém que vai me fiscalizar depois. Não vejo isso da forma mais correta.
Os que me apoiam eu agradeço. Sempre falei que voto para quem está se candidatando é muito bom - repito, desses 16 membros, 12 pelo menos estão participando ativamente do meu grupo, da minha campanha, e dedicando voto a mim -, então, pra mim é complicado dizer se eu prefiro A ou B. Meu voto vai ser dado na urna para um desses quatro e todos que me perguntam, qualquer conselheiros que nos apoia, sabe disso, cabe a eles tomar a melhor decisão, de acordo com sua formação, amizade, indicação, qual o critério que cada um quer utilizar.
Você entende que as quatro chapas podem fazer bom trabalho no Conselho Deliberativo?
Acredito que sim. Pelo que eu conheço dos membros, do que eu já vi, eu não vejo conduta que desabone em princípio. A não ser que me provem algo. As chapas são formadas por quatro membros. Então, a princípio, pelo que vejo, as quatro chapas podem fazer um bom trabalho no Conselho Deliberativo. São todos conselheiros há muito tempo, conselheiros natos, e já estive com as quatro. Espero que o conselheiro eleja o melhor para o Cruzeiro.
Você destaca os mais de 10 anos de trabalho voluntário no clube. De forma bem direta, quais foram as cinco ideias originais que você conseguiu implementar nesse período de trabalho, nas diferentes funções que exerceu, para que o torcedor e os conselheiros possam analisar sua marca como dirigente?
Bom, no Jurídico, como assessor jurídico da presidência, foram diversos (trabalhos). Difícil até dizer, pois são julgamentos que ocorreram há dez anos. Aquele departamento foi o primeiro em que eu estive, inclusive quando o doutor Gilvan era o vice-presidente, mas respondia pelo Jurídico. Mas foram várias defesas registradas, inclusive amplamente cobertas pela mídia. Uma muito importante, uma das primeiras, que foi quando o Cruzeiro perdeu uns pontos pela escalação supostamente irregular do Wellington Paulista, que a gente virou depois.
Depois, fiz defesa do Alexandre Mattos (diretor de futebol) e do Guilherme Mendes (diretor de comunicação) no STJD, que foi um julgamento em que o Alexandre entrou dentro de campo para reclamar com o juiz. Teve julgamento do STJ, do Evanílson, a gente atuou também, alguns do TJ de MInas, importantes, principalmente naquele momento em que o Estatuto de Defesa do Torcedor começava a aplicar responsabilidade do clube por coisas que ocorriam.
Na área de Gestão Estratégica, muita coisa talvez com Róbson (Pires) e Marcone (Barbosa), que eram os diretores comercial e de marketing, respectivamente, mas dando alguns palpites, embora essa área não fosse a minha à época. A área de formação, eu digo, mas a gente participou de alguma forma. Logo no começo, quando a gente foi implementar o nosso Sócio-Torcedor, eu lembro que a gente conversou com a pessoa que tinha implementado no Inter, com muito sucesso, e ele fez uma palestra e a gente continuou com o trabalho a partir dali.
Nos negócios internacionais eu fiquei pouco tempo, eu queria ter ajudado mais na parte das franquias, poderia ter ajudado lá. Aa gente começou um projeto, mas acabou não caminhando. Fizemos algumas parcerias na área internacional, acho que foi muito bom ter conseguido levar o time para fora por duas vezes. Isso é uma coisa que, no Cruzeiro, estava mais difícil, estava se cortando custos nesse aspecto. Então, a gente conseguiu investidor privado para disputar torneio fora. Fiquei muito feliz que isso tenha ocorrido. Teve um desses torneios também, Bruno, Rony, que estão no Palmeiras hoje, Lucas França, que está de volta aqui, enfim, jogadores que se profissionalizaram. Então, ter ajudado a proporcionar essa experiência foi muito bom para o crescimento deles.
E no futebol profissional foi estar ao lado do Thiago (Scuro) e do Bruno Vicintin. Eu já falei: embora meu papel não fosse definitivo em contratações ou demissões, mas como superintendente de futebol acho que consegui representar o Cruzeiro muito bem, várias vezes em que foi necessário. Construí algumas pontes com os bons relacionamentos que a gente tem, sobretudo na CBF e na Fifa, na Federação Mineira. Quando necessário, a gente teve atuação direta com isso algumas vezes também.
Você já tem, se eleito, uma equipe para ocupar funções em diferentes área do clube?
Com certeza, até porque o lapso temporal entre a posse e a eleição é muito curto. Então, a gente já conversou sim com diversas pessoas, só que não estamos revelando nenhum nome, porque algumas pessoas estão empregadas em alguns lugares, outras precisam se desincompatibilizar em funções, enfim. Há várias particularidades e com certeza a gente tem em mente bastante gente que vai nos ajudar nesse projeto. Vai ter retorno (de pessoas) também, e vai ter gente nova. Vai ter tudo.
Que mudanças você gostaria de promover nas categorias de base do Cruzeiro? É viável o Cruzeiro implementar, ao longo dos anos, algo parecido com o que o Barcelona faz na Europa, de ter uma característica de jogo da base ao profissional. É uma de suas metas na base? E quais melhorias pensa em fazer na Toca I?
Acho que, mais importante que estilo de jogo, é preocupar com a formação das pessoas que estão passando pelo Cruzeiro. Você vai em La Masia (centro de formação da base do Barcelona), por exemplo, eu já estive lá, e você vê uma preocupação grande nisso, de fazer os jovens lá conhecerem a história do Barcelona, em estudar, em ter uma roda de conversa sem ter um celular na mão. Eles prezam muito pelos valores dentro de La Masia, isso é uma coisa que eu bato muito dentro do Cruzeiro.
Inclusive, mantenho o meu objetivo, falado desde a última campanha, de corrigir uma injustiça que teve aí de batizar a Toca da Raposa I com o nome do Felício Brandi, e colocar lá como um Centro de Formação, não só de atletas, mas de formação de pessoas. Então, tenho que colocar uma identidade de que o Cruzeiro forma pessoas de valor, de caráter, que podem se tornar bons jogadores. A partir do momento que eles são bem educados, a partir daí temos uma boa premissa para serem bons jogadores.
Quantos bons jogadores eu vi o Cruzeiro perdendo por ter cabeça ruim? Eu quero fazer um trabalho muito forte nisso, na formação e do caráter, do tipo de pessoa que vai jogar no Cruzeiro, para depois sim, num segundo plano, implementar esse estilo de jogo.
Temos que melhorar a Toca I no aspecto não só educacional, como recreacional. Hoje, você vai na Toca I no fim de semana e não tem nada para os meninos. São meninos de 14 anos, 15 anos, e só jogam bola o dia inteiro. Em La Masia joga-se bola uma hora, duas horas por dia. No restante do horário existem essas preocupações. Então, a gente bate nesse aspecto disciplinador, tático, vem depois, mas a gente quer formar melhor isso. Dar melhores condições de trabalho.
A Toca I permite que haja investimento com recurso incentivado. Então, a gente quer melhorar as instalações, já converso com parceiro privado para melhorar departamento médico, dar uma reestruturada, alojamento, refeitório. Dar condições melhores mesmo e buscar que ali a gente consiga formar melhor as pessoas, para que eles sejam melhores atletas.
Acho que o Cruzeiro, nos últimos anos, pecou um pouco nisso aí, tanto que todo mundo pergunta: qual o último grande jogador que a gente vendeu revelado no Cruzeiro? Muita gente pergunta isso. Um Athletico Paranaense vendeu R$ 260 milhões em cinco anos. O Flamengo, todos os anos, vende US$ 18 milhões.
Já começamos a conversar também, existe uma empresa belga que fez esse trabalho para o Flamengo, de consultoria de base, faz para outras seleções também, e a gente pensa nessa ajuda externa. Enfim, o Cruzeiro tem que preocupar menos com os resultados de base e mais em dar condição de essas pessoas se desenvolverem bem. Esses torneios fora são uma coisa que vi que são importantes para os meninos, então, a gente quer, em suma, transformar o Cruzeiro num lugar de revelar boas pessoas, que serão bons jogadores como consequência. A partir daí, integrarem nosso elenco profissional.
Numa realidade nossa, do Brasil, em que existe constante assédio de empresários, como transformar isso numa política de clube e não uma política autoral sua, que possa ser abandonado pelo próximo presidente?
A gente tem que demonstrar que nossa tática vai gerar resultado e, gerando resultado, todo mundo vai querer manter. Guardadas as devidas proporções, a gente viu que o Bandeira (Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo) conseguiu fazer no Flamengo uma boa gestão, de maneira geral, e quando se vê que isso leva a resultados, depois, o natural é que as pessoas continuem a fazer o trabalho. Então, obrigação não vai ter jeito, mas a gente quer demonstrar que isso (nosso projeto para a base) vai ser uma coisa eficaz.
Qual análise você faz do trabalho do Conselho Gestor entre janeiro e maio.
Eu, particularmente, não gosto muito de ficar apontando essas coisas, não. O que sempre falo é que, não só o Conselho Gestor como os ex-presidentes e eu, se Deus quiser, sendo presidente, vou acertar e vou errar. Acho que, diferentemente de todos os outros, pegaram o clube numa situação que, pelo que dizem, só o Benito (Masci) pegou lá em 1984. Quando ele ganhou a eleição, o Cruzeiro estava devendo até conta de luz. O Conselho Gestor chegou numa fase dessa, que é realmente muito complicada.
Na medida do possível, tomou as medidas necessárias para poder tocar o dia a dia do clube. Fez demissões, fez essa questão de repactuação dos salários. Embora, é o que eu falei: acho só que nesse aspecto acho que poderia ser melhor explicado porque uma redução de folha salarial, ela impacta num passivo trabalhista de longo prazo, considerando que os acertos não foram feitos com os funcionários. É uma coisa que vai para o ano que vem (2021) ou o outro ano para a gente poder pagar.
Mas, assim, o fato de ter colocado auditoria, investigação, são coisas que concordo totalmente. São erros e acertos, mas ficar citando um por um, acho até deselegante. Só bato palmas. É isso aí. Pegaram o Cruzeiro num momento ruim, fizeram o que poderia ter sido feito e agora estão passando o bastão, e a gente espera jogar esse trabalho pra cima.