Fabrício Visacro, ex-assessor do futebol do Cruzeiro; Túlio Cerqueira, ex-coordenador do programa de sócio; Leandro Freitas, ex-diretor de marketing, e Older Milhorato, ex-assessor administrativo e conselheiro do clube, também tiveram retiradas expressivas entre 2018 e 2019. Leia as justificativas completas dos funcionários no fim do texto.
Relatório de comissão de sindicância instaurada pelo Cruzeiro em 2019 apontou, em números gerais, o rombo que essa farra dos ingressos provocou no já combalido caixa do clube. Só em 2018, o prejuízo com bilhetes 'não cobrados' foi de R$ 13,2 milhões. Naquele ano, as retiradas desses cinco profissionais somam 24.301 tíquetes. Em 2019, o número saltou para mais do que o dobro: foram 54.923. O montante de todo período da gestão Wagner alcança 79.224 entradas retiradas como 'cortesias'.
A partida em que as retiradas mais chamam atenção foi entre Cruzeiro e River Plate, pelas oitavas de final da Copa Libertadores de 2019. Para esse jogo, Comoretto pediu 3.117 bilhetes. Visacro, outros 400. Os tíquetes para aquele jogo tiveram preços de R$ 25 a R$ 150.
Outro fato observado é a redução no número de retiradas na medida em que o Cruzeiro começou a sofrer queda de rendimento técnico. Os jogos finais da temporada, quando o rebaixamento à Série B estava praticamente consolidado, não tiveram grande distribuição dos bilhetes. Para a partida contra o CSA, Gaúcho retirou, por exemplo, apenas 62 ingressos.
Outro lado
O Superesportes procurou os citados na reportagem e recebeu as seguintes respostas:
Leandro Freitas, ex-diretor de marketing do Cruzeiro
"No ano de 2018 entrei como responsável pelo sócio e diretamente era um dos responsáveis pela precificação dos ingressos e por todas as ações para atrair um maior público ao estádio. Em 2019 assumi a diretoria de marketing no qual fiquei até 31 de julho sendo demitido pelo Sr Wagner Pires.
Neste período 100% dos ingressos eram retirados e informados aos superiores por e-mail para ações junto à torcida. Ações de jogo com mulher e criança entrando de graça e com retirada nas lojas oficiais, ações com os Redutos Celestes do interior e de outros estados, ações com fornecedores e parceiros do programa sócio onde sorteamos apple watch (relógio digital) entre outros brindes, ações na bilheteria que oferecia a quem fizesse a adesão ganharia dois ingressos para o jogo do dia.
Em 2018 atuei diretamente neste processo e em 2019 quando diretor repassei esta função. Agradeço a oportunidade de esclarecimento e tenho a certeza que fiz tudo com a honestidade que primo em minha vida pessoal e profissional."
Túlio Cerqueira, ex-coordenador do programa de sócio-torcedor
“O sócio fazia uma campanha todos os jogos para adesão de novos associados, todo os jogos eu reservava 100 ingressos para essa campanha, quem aderisse ao sócio ganhava um par de ingressos (forma de fazer o programa crescer). Eu passava essa demanda para a [diretoria de] Gestão de Arena, eles imprimiam e deixava na bilheteria até o dia do jogo.
No dia a campanha continuava e o que sobrava no dia seguinte eles me repassaram e eu colocava na minha planilha e guardava. No dia da minha saída eu apresentei tudo a eles, jogo por jogo, tem uma caixa lá no Cruzeiro com essas sobras, essa campanha começou em 2018 logo que eu entrei existiu reformulação do programa.
Se entrar nas redes sociais do programa de sócio vai poder confirmar tudo isso, tinha jogos grandes que graças a Deus dava muita adesão, final de Mineiro, finais Copa do Brasil, Libertadores aí essa demanda aumentava. Na minha saída do clube eu apresentei tudo detalhado para eles, todas as sobras de ingressos, o número de sócios por jogos, eles tem tudo isso"
Fabrício Visaco, ex-assessor do departamento de futebol do Cruzeiro
Fabrício Visaco, ex-assessor do departamento de futebol do Cruzeiro
"Não sei quem fez esta planilha que se está se referindo e nem tenho acesso a ela, mas se a quantidade foi exatamente esta citada e temos 38 jogos por ano, seria uma média de 80 ingressos por jogo, volume razoável pelos atendimentos que eram necessários fazer.
Fui co-responsável para redistribuir os ingressos promocionais/cortesia para alguns setores do clube, como jogadores, alguns patrocinadores, parceiros comerciais, em alguns casos, atendíamos os clubes visitantes e etc.
Em 2018 e 2019 o Cruzeiro disputou o Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Libertadores sendo finalista em quase todas as competições"
Alexandre Comoretto (Gaúcho), ex-diretor da sede Campestre
A reportagem ainda busca contato com Older Milhorato, que não foi encontrado.
Alexandre Comoretto (Gaúcho), ex-diretor da sede Campestre
"Eu, Alexandre Comoretto (Gaúcho), fui citado ontem por repórteres que tiveram acesso ao relatório de auditoria. Vincularam meu nome às possíveis irregularidades no Clube com a apresentação de uma planilha de distribuição de ingressos cortesias.
Sou funcionário do clube desde 2003, vivo diariamente a vida do clube, todos os dias da semana, completei 17 anos de dedicação profissional. Na minha carreira evolui gradualmente nestes anos, sou advogado inscrito na OAB, passei pelo setor jurídico do clube, cheguei a assessoria da Presidência e em 2019 promovido para a Diretoria Social, nunca fui conselheiro do clube.
Como noticiado, entre 2018 e 2019, foram distribuídos aproximadamente 50.000 ingressos de cortesias. Em 2018 foram realizados 38 jogos e em 2019 foram mais 34 jogos, somando um total de 72 jogos no período. O que corresponde a uma média de 695 ingressos de cortesias por jogo. Nunca vendi um ingresso e nunca obtive benefícios para realizar meu trabalho!
Todos estes ingressos cortesias foram para atender as demandas do Cruzeiro que me eram repassadas, demandas institucionais, sociais e políticas, como a maioria dos clubes de futebol fazem, sempre de forma gratuita.
Como empregado do clube, sempre atendi as ordens dos meus superiores, seguia as determinações, sendo que uma das minhas atribuições na época era de realizar a entrega destes ingressos cortesias, eu realizava o meu trabalho!
No início deste ano, vários funcionários foram desligados do clube, inclusive eu, nesta ocasião o conselho gestor infringiu a legislação trabalhista com relação aos prazos de pagamentos e aos acertos trabalhistas. Não efetuou o pagamento das minhas verbas rescisórias, tais como: TRCT, salários atrasados (novembro, dezembro e parcial de janeiro), férias, décimo terceiro e parte do FGTS de 17 anos de trabalho. Há 5 meses que aguardo para receber meus direitos trabalhistas e não consigo nenhuma informação de possível data de acerto.
Não cometi nenhuma irregularidade, nenhum crime, sempre cumpri minhas obrigações como trabalhador atendendo as normas e diretrizes do clube durante estes 17 anos. Futuramente as investigações e a próxima gestão poderão comprovar que não faço parte de nenhuma irregularidade".
A reportagem ainda busca contato com Older Milhorato, que não foi encontrado.
Tabela com retirada de cortesias em 2018: