Contratado pelo Cruzeiro para substituir Adilson Batista, Enderson Moreira comandará o clube celeste quando a temporada do futebol brasileiro for retomada após a quarentena contra a pandemia do novo coronavírus. Em entrevista ao podcast “The Pitch Invaders”, do portal Footure, o comandante estrelado falou sobres os desafios da Série B, o fenômeno Jorge Jesus no Brasil e a inspiração que tem em outros esportes.
Anunciado em 18 de março como novo técnico do Cruzeiro, Enderson ainda não teve tempo de trabalhar com os atletas do clube. Desde que deixou o Ceará, todas as atividades do futebol brasileiro estão paralisadas devido à crise da Covid-19. Pela larga bagagem em comandar equipes à elite do futebol nacional - foi campeão da Série B com Goiás (2012) e América (2017), por exemplo - o treinador acertou com a Raposa para cumprir o mesmo objetivo: retornar à primeira divisão.
Com a experiência em acessos, Enderson disse saber quais serão as dificuldades de voltar à Série A. “O primeiro grande desafio é você se localizar, entender do que vai participar. A Série B é extremamente competitiva, todos os times competem muito. É muito importante que você possa ter esse lado competitivo aguçado”, afirmou.
Adepto do jogo mais técnico e da posse de bola, o treinador do Cruzeiro acredita que um grande desafio será os confrontos contra equipes que jogam mais fechadas. Esse fator poderá ser dificultado pela qualidade dos gramados que são, normalmente, inferiores aos das equipes da primeira divisão.
“A Série A tem campos muito melhores. Saber atacar é o grande desafio para nós treinadores no Brasil. Acho que temos desenvolvido pouco esse aspecto de poder criar situações de ataque, principalmente contra defesas bem consolidadas, treinadas e armadas. Às vezes é preciso criar mecanismos para poder desestabilizar essas organizações. Acho que é um grande desafio que temos pela frente, e é só com trabalho e orientação que é possível ter sucesso contra equipes assim”, explicou.
O fenômeno Jorge Jesus
Campeão Brasileiro e da Copa Libertadores com o Flamengo, Jorge Jesus tem ganhado muito destaque pelo estilo de jogo que implementou no time carioca. Porém, diversos treinadores estão incomodados com a repercussão das ações do treinador português. Muitos alegam que o modelo da equipe rubro-negra já foi utilizado no Brasil anteriormente, inclusive Enderson.
“O que mais machuca a gente quando somos criticados pela imprensa em geral é falar que o Jorge Jesus veio para cá (Brasil) e está lançando tudo. Não é assim não, acho que ele tem ideias boas, mas que foram trabalhadas por outros treinadores aqui há muito tempo. Não valorizamos isso, temos aquele complexo que parece que tudo de fora é muito melhor do que tem aqui dentro”, disse.
Para fundamentar seu argumento, explicou a proposta de jogo que implementou ao América, campeão da Série B em 2017. De acordo com Enderson, a repercussão do trabalho de Jesus é grande pelo fato de comandar o Flamengo.
“Eu fiz um trabalho no América em 2016, 2017 e um pedacinho de 2018, em que a equipe tinha muita fundamentação em termos táticos, de posicionamento, de saber atacar, defender. Estou falando por mim, mas você vai ver o Renato (Gaúcho) no Grêmio, o trabalho que foi desenvolvido. Ótimas equipes que nós tivemos nos últimos anos e não valorizamos muito isso. Acham que tudo que ele (Jorge Jesus) está fazendo agora é diferente. Não, ele está fazendo isso no Flamengo, então a repercussão é muito maior”, argumentou.
Apesar de considerar que o desempenho de Jorge Jesus é “supervalorizado”, o treinador do Cruzeiro enxerga os méritos do português. “Ele tem alguns pensamentos muito interessantes, que são coisas bem bacanas, coisas que são próprias dele, pensamentos dele, mas que são executadas com maestria. Tem muito mérito dele, mas também não podemos falar que não temos nada aqui. Acho que temos muita coisa boa e que, às vezes, não tem tanta repercussão como quem vem de fora e consegue fazer”.
Inspiração em outros esportes
Por ter sido técnico de futsal, Enderson disse ter passado a observar como outros esportes influenciaram na maneira em que o futebol é disputado atualmente. “Muita coisa que tem chegado no futebol há poucos anos, no futsal já era desenvolvido há 15 anos. Posicionamento do goleiro hoje, no enfrentamento de um contra um, o atacante contra o goleiro, tem muito do goleiro de futsal, de fazer o X, de fazer com que a bola pegue nele invés de praticar a defesa. Mas esse movimento é do handebol, uma característica do goleiro do handebol há muitos anos”.
Outras modalidades também inspiram o treinador, como o basquete e o futebol americano. “Os bloqueios que são feitos no basquete são maravilhosos, que não são jogadas faltosas, que eu acho que ainda precisamos desenvolver muito no futebol. Às vezes não temos a técnica do bloqueio. Queremos fazer a falta, segurar o jogador, quando na verdade é só impedir que ele possa ocupar um espaço. Quando falo do futebol americano é porque me traz algumas dicas. Como é um lance tão específico, fica claro para o jogador, quando ele observa, qual é a intenção ali. Você faz um movimento para chegar na linha de fundo, um movimento de profundidade”, concluiu.