Gaúcho de Bagé, Luís Fernando defendeu o Cruzeiro sete anos, entre 1990 e 1996. Fez 53 gols em 276 jogos. Meia habilidoso, participou ativamente do processo de recuperação do prestígio nacional e internacional do clube depois de uma década de 1980 apagada. Foi campeão mineiro em 1992, 1994 e 1996; da Supercopa em 1991 e 1992; da Copa do Brasil em 1993 e 1996; da Copa Ouro e da Copa Master, ambas em 1995.
Luís Fernando Flores no time do Cruzeiro campeão da Supercopa de 1991, sobre o River Plate - Foto: Paulo de Deus/EM/D. A Press
Agora, com o clube na Série B pela primeira vez, Luís Fernando entende que a missão de Enderson e sua comissão é ainda mais importante. “Como jogador, sinto que o Cruzeiro começou a mudar de patamar em 1991, com aquela Supercopa. Depois ganhou a Supercopa de 1992, a Copa do Brasil de 1993 e não parou mais. Estou voltando agora, com o Enderson, para reerguer de novo. A nossa ideia é essa. A gente tem essa possibilidade. O Cruzeiro é um gigante adormecido. É momentâneo. Para acordar não precisa muito”.
Esta, na verdade, será a terceira passagem de Luís Fernando pelo Cruzeiro. Depois do período como jogador, ele trabalhou como observador técnico e treinador das categorias juvenil e júnior entre 2005 e 2011. Nesse último ano, pediu demissão justamente para iniciar a parceria com Enderson Moreira.
Desde então, foi auxiliar de Enderson nas passagens por Goiás, Grêmio, Santos, Athletico-PR, Fluminense, América, Bahia e Ceará. A chegada ao Cruzeiro é a realização de um sonho antigo.
“A gente sempre pensou que chegaria a hora de trabalhar no Cruzeiro. É um sonho, sem dúvida. Fui jogador, trabalhei na base. Ele também esteve na base, fomos campeões brasileiros sub-20. Ele venceu a Copa São Paulo de 2007. Nossa parceria começou, na verdade, naquele ano. Fizemos ótimos trabalhos desde então, como no Goiás, no Grêmio, no América, no Ceará. Não tinha como a gente recusar o Cruzeiro. Nossas famílias são de Belo Horizonte, são cruzeirenses. Está todo mundo feliz, postando foto, empolgado com essa chance”, disse o auxiliar.
“Muitos ex-jogadores me ligaram, mandaram mensagem: Nonato, Douglas. Todo mundo desejando sorte. Foi muito boa a repercussão desse acerto”, completou Luís Fernando Flores.
'Estilo Enderson Moreira'
Luís Fernando define Enderson Moreira como muito exigente. O treinador se graduou em Educação Física na UFMG, em 2005, e gosta de acompanhar até mesmo os treinos dos reservas no dia seguinte aos jogos. “Ele gosta de dar treino, de estar à frente de tudo. Não fica ausente de nenhum treino. Há técnicos que só delegam seus auxiliares. Ele, não. Ele mesmo põe a mão na massa e participa de tudo”.
Enderson e Luís Fernando conseguiram acesso do América à elite com título da Série B de 2017 - Foto: Mourão Panda/América
O “comando forte” é uma marca de Enderson, destaca Luís Fernando. “Como a gente diz na gíria, o comando dele é foda. Tanto na parte disciplinar quando no dia a dia de treinos. Antes de cada atividade, ele explica para o jogador o que vai fazer e por que vai fazer. Não é nada aleatório. Ele justifica cada ação, faz o jogador entender que é importante e parte para executar. É um cara firme”.
“Fui treinado pelo Ênio Andrade no Cruzeiro, e ele era um cara que explicava as coisas e antevia o que ia acontecer no jogo. O Enderson é muito assim. Muitas vezes, a gente da comissão não entende por que ele faz uma coisa, mas aquilo que ele treinou acontece no jogo. É um cara muito estudioso”, completou.
Sem privilégios e esquema preferido
Outra qualidade do novo comandante cruzeirense, segundo Luís, é a justiça na definição do time. Garotos da base e medalhões têm o mesmo tratamento. “Se tiver que dar bronca no ídolo, vai dar. No mais novinho, a mesma coisa. É muito rígido. Ele parece ser fechado, não ser se muita conversa com os jogadores, mas é um cara do bem. Não dá muita abertura para o jogador, mas é correto e justo com o que faz. Joga quem estiver melhor”.
Em relação ao esquema de jogo, o preferido é o 4-2-3-1. “O Enderson gosta do jogo posicional, explica ao jogador por que tem que ficar naquela posição, mas não tira a liberdade do meio para frente. Quando perde a bola, faz um 4-4-2. Podem ver que os times dele são ofensivos, mas têm um equilíbrio. Como disse, a maior virtude é a clareza com que ele passa e mostra o que quer ao jogador”.
Observações sobre o Cruzeiro
Por terem residência fixa em Belo Horizonte, Luís Fernando e Enderson Moreira sempre estiveram atentos aos jogos do Cruzeiro este ano sob o comando de Adilson Batista. Eles conhecem os garotos recém-lançados e os jogadores mais experientes remanescentes do Brasileiro de 2019.
Agora, durante a pausa dos campeonatos, motivada pela pandemia de coronavírus, a comissão técnica aproveitará para ver jogos com um olhar mais análitico. O período ainda será importante para discutir a chegada de reforços com o diretor de futebol Ricardo Drubscky e o Conselho Gestor.
“Tivemos a oportunidade de ver alguns jogos. Alguns meninos vão bem e, outros, nem tanto. Isso é normal nesse momento de lançamento. Mas o torcedor espera a chegada de reforços até porque a Série B é uma competição chata. Não se ganha com nome. Temos experiências boas nessa disputa e estamos muito confiantes de que vamos fazer um grande trabalho”, disse Luís Fernando.
A carreira de Luís Fernando nos gramados
Luís Fernando foi um cigano da bola. Nascido em Bagé, começou a carreira profissional no Guarany e rodou por clubes do interior gaúcho: Atlético de Carazinho-RS, Esportivo-RS, Inter de Santa Maria-RS e Pelotas-RS. Depois de uma rápida passagem pelo Botafogo-PB, ele voltou ao Rio Grande e se destacou no Caxias-RS. Aquela foi a credencial para ser adquirido pelo Internacional, onde diz ter vivido seu maior momento técnico. Passou ainda pelo Bahia antes de desembarcar na Toca da Raposa e erguer nove troféus. O camisa 10 ainda vestiu as camisas de Marítimo de Portugal, Villa Nova, ABC-RN e Rio Grande-RS, onde pendurou as chuteiras.
Luís Fernando em jogo contra o Villa Nova em 1996, seu úlitmo ano no Cruzeiro como atleta - Foto: Arquivo EM
“Na minha carreira, sem dúvida, devo muito mais ao Cruzeiro. Sou identificado com o clube, moro em BH há 30 anos, minha família é toda sócia. Tive grandes momentos individuais no Inter, mas fui titular por muito tempo no Cruzeiro e ganhei vários títulos. Sou um cara bem relacionado no clube, com ex-presidentes, até pela minha passagem na base. É um orgulho grande estar de volta”.
Luís Fernando Flores pelo Cruzeiro
Jogador: de 1990 a 1996, com 53 gols em 276 jogos
Títulos:
Campeonatos Mineiros de 1992, 1994, 1996
Supercopas de 1991 e 1992
Copa Master 1995
Copa Ouro de 1995
Copas do Brasil de 1993 e 1996
Cargos na base: de 2005 a 2011
Auxiliar de Enderson Moreira: 2020
Demais clubes como jogador: Guarany-RS, Atlético de Carazinho-RS, Esportivo-RS, Inter de Santa Maria-RS, Pelotas-RS, Botafogo-PB, Caxias-RS, Internacional, Bahia, Cruzeiro, Marítimo de Portugal, Cruzeiro, Villa Nova-MG, ABC-RN, Rio Grande-RS
Demais clubes como jogador: Guarany-RS, Atlético de Carazinho-RS, Esportivo-RS, Inter de Santa Maria-RS, Pelotas-RS, Botafogo-PB, Caxias-RS, Internacional, Bahia, Cruzeiro, Marítimo de Portugal, Cruzeiro, Villa Nova-MG, ABC-RN, Rio Grande-RS
Os trabalhos de Luís Fernando com Enderson:
Goiás, entre 2011 e 2013
2 anos e dois meses
151 jogos: 85 vitórias, 35 empates e 31 derrotas
64,01% de aproveitamento
Campeão goiano em 2012 e 2013
Campeão da Série B em 2012
Grêmio, em 2014
6 meses e 23 dias no cargo
36 jogos: 19 vitórias 10 empates e 7 derrotas
62,03% de aproveitamento
Santos, em 2014 e 2015
6 meses no cargo
30 jogos: 16 vitórias, 5 empates e 9 derrotas
58,88% de aproveitamento
Athletico Paranaense, em 2015
1 mês no cargo
10 jogos: 3 vitórias, 1 empate, 2 derrotas
33,33% de aproveitamento
Fluminense, em 2015
4 meses no cargo
26 jogos: 11 vitórias, 4 empates e 11 derrotas
47,43% de aproveitamento
Goiás, em 2016
6 meses no cargo
27 jogos: 13 vitórias, 7 empates e 7 derrotas
56,79% de aproveitamento
Campeão goiano
América, entre 2016 e 2018
1 ano e 11 meses no cargo
111 jogos: 43 vitórias, 32 empates e 36 derrotas
48,34% de aproveitamento
É o quinto treinador que mais dirigiu o clube
Campeão da Série B em 2017
Bahia, em 2018 e 2019
9 meses no cargo
56 jogos: 22 vitórias, 19 empates e 18 derrotas
50,59% de aproveitamento
Ceará, em 2019
5 meses no cargo
21 jogos: seis vitórias, 5 empates e 11 derrotas
27,2% de aproveitamento
Ceará, em 2020
1 mês e sete dias no cargo
10 jogos: seis vitórias, 4 empates
72,33% de aproveitamento