Demitido pelo Cruzeiro nesse domingo, após a derrota por 1 a 0 para o Coimbra, pelo Campeonato Mineiro, o agora ex-diretor de futebol do clube, Ocimar Bolicenho, fez duras críticas ao trabalho do Conselho Gestor. O grupo é responsável pela administração da Raposa desde o fim de dezembro de 2019, quando Wagner Pires de Sá renunciou ao cargo de presidente.
Em entrevista ao Superesportes, Bolicenho afirmou que teria deixado o Cruzeiro ao lado de Pedro Lourenço se “conhecesse as pessoas” responsáveis pela gestão do clube. Pedro, principal patrocinador da Raposa, deixou o Conselho Gestor em 9 de janeiro, cerca de 20 dias depois de assumir a vice-presidência de futebol.
“Se eu tivesse conhecimento sobre quem eram as pessoas (do Conselho Gestor), teria saído junto com o Pedro, lá no início. Seria melhor ter evitado todo esse processo desgastante. Mas eu não tomei a decisão naquele momento porque seria uma decisão tomada com a opinião dos outros”, explicou.
Questionado sobre os motivos que levaram Pedro a deixar o clube, Ocimar deu um palpite. “Essa pergunta tem de ser feita a ele. Posso dizer o que eu acho. Tenho impressão, pelo que acompanhei, que ele saiu do departamento de futebol porque não aguentava mais gente palpitando o tempo inteiro. Se ele tivesse autonomia, tenho certeza que estaria até hoje no clube. Hoje, cheguei a essa conclusão”, disse.
Ocimar também foi perguntado sobre em que momento sua relação com os administradores do clube começou a não funcionar. “O Carlos (Ferreira) sempre esteve ao meu lado, tentou fazer o melhor possível, mas ele também não decidia sozinho. Mas o restante do Conselho, na verdade, eu mal tive contato. Esse era um dos problemas. Eles queriam participar das decisões, mas não estavam lá. Quase nunca estavam in loco. O dano é 100%”, avaliou.
Atualmente, o Conselho Gestor do Cruzeiro é dividido por áreas de competência, mas todos têm participações nas decisões das mais diferentes competências. Integram o grupo atualmente Emílio Brandi (candidato à presidência na próxima eleição do clube), Saulo Fróes, Gustavo Gatti, Carlos Ferreira, Jarbas Reis, Alexandre Faria e Anísio Ciscotto. O presidente em exercício da Raposa é José Dalai Rocha.
“Faltou autonomia”
Ocimar revelou ainda que tinha extrema dificuldade para agir em nome do Cruzeiro no mercado da bola. O dirigente alegou que, como as decisões precisavam passar por muitos crivos, as negociações não caminhavam na velocidade necessária. Entre as frustrações, ele citou o caso do atacante Berrío, do Flamengo, que estava entre os pedidos do técnico Adilson Batista.
“Faltou autonomia. Na verdade, tive zero autonomia, especialmente depois da saída do Pedro. Todas as ações tinham que passar pelo crivo de todos os gestores. Com muito palpite, a negociação não anda. Tínhamos as tratativas com o Berrío, do Flamengo. Mas como que você decide as questões do negócio sem autonomia? Sempre tem que colocar para apreciação. Aí, obviamente, a coisa não vai andar mesmo. Deixamos de trazer outros também”, revelou.
O que faria diferente e qual o balanço?
Ocimar avaliou que um dos grandes erros do Conselho Gestor foi ter prometido boa campanha no Campeonato Mineiro. O ex-diretor afirmou que “faltou peito” para bancar que o clube utilizaria o Estadual como um laboratório para a Série B do Campeonato Brasileiro.
“Primeiro, eu não prometeria nada no Estadual. Teria dito que seria um laboratório. Mas precisa de peito para dizer isso. Evidentemente, a torcida não aceitaria. Mas é a realidade do Cruzeiro, que precisa ser entendida. Com o time que tem, nas condições que tem, fez até bastante (chegar nesse momento do Mineiro na 5ª colocação)”, disse.
“O que fica no balanço da passagem é que a gente tem que avaliar muito bem quando recebe a missão e conhecer as pessoas que estão no comando. Eu pouco fiz da minha função. Eu resolvi problema dos outros. Muitos. Tive que tomar decisões que não eram minhas. Aí você pega um time com quatro meses de salários atrasados, recomeça uma caminhada, faz 80% do trabalho e é demitido pela performance da equipe”, disse.