Marcada para 21 de maio, a eleição do Cruzeiro já começou nos bastidores. Principais pré-candidatos, Emílio Brandi e Sérgio Rodrigues articulam para formar suas chapas e buscar votos para o pleito tampão, que dará mandato a um conselheiro até o fim de 2020. Ao longo dos últimos três dias, o Superesportes ouviu pelo menos 15 atores da política do clube.
A avaliação inicial é de que Emílio Brandi, integrante do Núcleo Dirigente Transitório do Cruzeiro, está isolado para a eleição. Um de seus principais cabos eleitorais no passado, Gilvan de Pinho Tavares decidiu manter o apoio prometido a Sérgio Santos Rodrigues. À reportagem, o ex-presidente avaliou que Brandi e o Conselho Gestor “sentaram em um pedestal”.
“Eu trabalhei pela chapa única, mas não obtive sucesso nesta tentativa. O Conselho Gestor não quer receber ninguém. Não pode sentar num pedestal e esquecer de dialogar. Estão completamente isolados”, disse. “Eu acho que o pessoal do Conselho Gestor precisa pensar que isso pode trazer de volta a turma do Wagner (Pires de Sá, ex-presidente)”, alertou.
Muito sereno, Brandi recebeu a crítica e buscou se explicar. “É a primeira vez que ouço isso, não sabia dessa opinião dele, mas eu até concordo. Eu sou empresário, não sou político. Não tenho experiência com política. Estamos trabalhando muito, no dia a dia, para reconstruir o Cruzeiro. Tem Fifa, tem Minas Arena. Não sobra tempo para fazer política”, justificou.
“De qualquer forma, eu vou começar a trabalhar a candidatura. Nos próximos dez dias vou apresentar meus vices e vamos para cima dos conselheiros com nossas propostas. Que eles definam o melhor para o Cruzeiro”, complementou. Ex-secretário do Conselho e atual integrante do Núcleo Dirigente Transitório, Gustavo Gatti foi convidado para ser primeiro vice-presidente, mas não aceitou o chamado por razões particulares.
Gilvan garantiu que Sérgio tem, de cara, “pelo menos 200 votos garantidos”. A tese é contestada por outras lideranças - inclusive ligadas a Sérgio. A conta é que cerca de 440 conselheiros terão direito a voto em 21 de maio. Zezé Perrella e Alvimar de Oliveira Costa conseguiriam garantir cerca de 80 a 90 votos, enquanto Gilvan poderia assegurar até 25. Pedro Lourenço também é um apoiador, mas não tem tração política.
Analisado como ‘terceira via’ no xadrez da política do Cruzeiro, Célio Elias, indicado por Pires de Sá para a primeira versão do Conselho Gestor, também se colocou como pré-candidato à presidência. Ele garante liderar um grupo com pelo menos 80 conselheiros natos. Vários deles, conforme apurou a reportagem, eram ligados ao núcleo duro da antiga Família União, principal ala de apoio a Wagner, que ganhou nova roupagem.
Nos últimos dias, Célio recebeu um telefonema de Lidson Potsch Magalhães, ex-vice presidente do Cruzeiro, um dos coordenadores da candidatura de Sérgio Santos Rodrigues e potencial candidato à vice na nova chapa. “O que eu ouvi na ligação é que o grupo do Sérgio está aberto ao diálogo. Ele é médico também e seguimos conversando”, projetou Célio Elias.
O grupo deseja, inicialmente, pelo menos um nome na chapa presidencial. Não necessariamente ocupado por Célio. Ex-vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Márcio Rodrigues faz parte dessa ala. Outras possibilidades de composição envolvem os conselheiros Maurício Marques da Silva, Eduardo ‘Delegado’ e Delcio Pinto da Silva, ex-integrante do Conselho Fiscal no segundo mandato de Gilvan de Pinho Tavares.
“Passado o carnaval, nosso grupo vai sentar e conversar. Eu posso dizer que o Sérgio (por meio de interlocutores) se mostrou aberto ao diálogo. O Emílio, ao que me parece, não quer negociar. Não nos procurou. Não quis conversar. Eu acho que o certo seria o consenso e estamos dispostos. O Dalai também pregou isso em reunião, mas não está colocando na prática”, alegou Célio Elias.
À reportagem, Brandi também respondeu as alegações de Célio. “Ele foi meu médico. Falou que me ligaria, mas não ligou. Eu vou estudar o nome dos dois vices, porque ainda não o fiz. Nosso foco está sendo reconstruir o Cruzeiro e colocar o Cruzeiro nos trilhos. Agora vamos começar a trabalhar a política, porque estamos a três meses das eleições”, garantiu.
Eleição do Conselho
A eleição para o Conselho Deliberativo também já tem seus candidatos - e poder ser o fiel da balança no pleito para a presidência do clube. Giovanni Baroni e Paulo Sifuentes se colocaram à disposição para a disputa. Enquanto Emílio Brandi tem compromisso com Sifuentes e é apoiado por Giovanni Baroni, Sérgio tem essa decisão livre, por ora.
Ainda que tenha tido Baroni como candidato a vice em sua chapa no último pleito, em 2017, o advogado não assegurou nenhuma aliança para a eleição do Conselho. Isso ajuda nas articulações, uma vez que o advogado tem espaço para oferecer apoio a outra liderança e angariar ainda mais votos.
Emílio entende que o apoio de Baroni é fundamental, uma vez que o corretor de imóveis conseguiu criar laços importantes na condução do grupo Cruzeiro Pró-Transparência, movimento que ajudou na derrubada do ex-presidente Wagner. O grupo, inclusive, também diluiu: a família Lorêdo, por exemplo, trabalha nas articulações para Sérgio Rodrigues.
Apesar de entender a importância de Baroni, Brandi e o Conselho Gestor já garantiram apoio à candidatura de Paulo Sifuentes - que também é muito ligado a Sérgio e não aceita, num primeiro momento, abrir mão da cabeça de chapa. “Entendo que é uma ordem natural das coisas. Eu era primeiro secretário, agora devo ser candidato à presidência, muito embora eu defenda o diálogo”, afirmou à reportagem.
O Superesportes apurou que foi oferecido a Baroni o cargo de primeiro secretário do Conselho Deliberativo na chapa encabeçada por Sifuentes e que também deverá ter Waldeyr Estevão de Paula. Num primeiro momento Baroni aceitou, mas depois voltou atrás. Baroni garantiu que ainda terá “muita conversa” com Sifuentes. Ele indicou que, apesar dos interesses, há possibilidade de composição na chapa para o Conselho.