“Tivemos que fazer o acordo com ele na audiência. Nas redes sociais eu vi gente falando que o Cruzeiro ficou satisfeito. Nós não ficamos satisfeitos. Rafael foi ingrato e ganancioso. Isso que o Rafael foi. É um direito legal dele, até porque tinha três meses de salários atrasados. Mas é imoral. E vão dizer que é imoral o Cruzeiro ficar devendo três meses. Não é. Quando você tem e não paga, há imoralidade. Mas quando você não tem de onde tirar, não é imoral”, disse
Na audiência de conciliação, nessa sexta-feira, o Cruzeiro propôs quitar parte dos atrasados (cerca de R$ 2 milhões) com Rafael de forma parcelada e a partir de meados de 2021. Por outro lado, o goleiro conseguiu a rescisão de contrato e está livre para acertar com outro clube. Seu destino provável é o Atlético, que já negociou as bases salariais e aguarda apenas detalhes burocráticos para anunciar o reforço.
Ao longo da entrevista, Carlos deu detalhes das tentativas de acordo extrajudicial com o goleiro. “Rafael chegou perto de mim, estava ao lado do Ocimar e do Benecy, e falou que não queria mais ser coadjuvante, mas protagonista. Deu suas justificativas. Eu disse que ele tinha razão. E aí ele disse que queria sair. É um direito dele, de todos. Eu expliquei para ele, que ele era um ativo do Cruzeiro. Combinamos que o empresário dele buscaria um novo clube, e o Cruzeiro também buscaria um novo clube, já que ele não gostaria de ficar”, explicou.
“A gente começou a ofertar empréstimos, ele dizia que não queria. Emprestar um ano e ele voltava para o centenário. Tudo que você falava com ele, ele não queria (...) Para minha surpresa, quando cheguei no outro dia na Toca, chega a notícia de que o Rafael tinha processado o Cruzeiro. Eu fiquei muito surpreso e indignado. O Rafael processou o Cruzeiro às 14h16. Às 15h30 (do dia anterior) tínhamos encerrado uma reunião inócua. Ele já tinha processado e foi conversar conosco”, complementou.
Carlos indicou que Rafael participou da reunião já com uma decisão tomada. “O Rafael foi para uma reunião conosco, ele, o pai e o advogado, já com a situação resolvida. Para que ele foi fazer uma reunião conosco para tentar um acordo? Acordo de que?”, questionou. “Ainda fui para uma coletiva em que disse que o Rafael estava chateado e que o Cruzeiro negociaria amigavelmente a saída. “Acreditei no que o Rafael disse. Depois dessa situação, seguimos tentando negociar até a audiência (mas o acordo não saiu)”, finalizou.
Processo
Rafael processou o Cruzeiro em 24 de janeiro por causa de atraso no pagamento de salários, direitos de imagem, 13º, 1/3 de férias e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Na ocasião, Carlos Ferreira Rocha, interlocutor do Núcleo Dirigente Transitório com o departamento de futebol do Cruzeiro, tratou o caso como mal-entendido e disse que o goleiro se comprometeu a retirar a ação judicial.
Entretanto, o próprio Rafael se manifestou por meio de sua conta no Instagram alegando que “estava ciente de todos os atos relacionados à carreira”, juntamente com seu pai e o advogado João Henrique Chiminazzo.
As partes preferiram não revelar valores, já que a ação corria em segredo de Justiça. Contudo, conforme apurou a reportagem, Rafael tinha pelo menos R$ 7 milhões a receber do Cruzeiro, considerando remunerações atrasadas e vincendas até o fim de 2021.
Carreira
Mineiro de Coronel Fabriciano, Rafael chegou ao Cruzeiro aos 13 anos, em 2002. Sua promoção ao time principal ocorreu em 2008, sob o comando do técnico Adilson Batista, um ano depois de ter conquistado a Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Sempre que acionado para suprir ausências de Fábio, o goleiro correspondeu às expectativas. Foram 112 partidas e dez títulos: estaduais de 2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019; Copas do Brasil de 2017 e 2018 e Campeonatos Brasileiros de 2013 e 2014.