Apenas um conselheiro, dos 231 presentes, recusou-se a aprovar a nova versão do balanço de 2018: Herones Márcio Amaral Lima.
Ao aprovar o balanço, a mesa diretoria do Conselho Deliberativo fez apenas a ressalva para que as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais sobre a gestão de Wagner Pires de Sá sejam acompanhadas de perto pelos conselheiros. Caso sejam comprovadas outras irregularidades nas finanças, novas modificações podem ser feitas nas demonstrações contábeis do exercício 2018.
Nesta quinta-feira, o Conselho Deliberativo ainda aprovou por unanimidade a atuação do Conselho de Notáveis, também chamado de Conselho Gestor e Núcleo Transitório Dirigente, até que o Cruzeiro eleja o seu novo presidente. Uma nova eleição será realizada até maio para definir o substituto de Wagner Pires de Sá. O ex-mandatário renunciou ao cargo em dezembro de 2019 por suspeitas de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, falsificação de documentos em sua gestão, iniciada em janeiro de 2018.
Formado por empresários de diferentes segmentos, o Núcleo Transitório Dirigente iniciou suas atividades em 23 de dezembro de 2019 e assumiu interinamente a gestão do Cruzeiro. Nesse período, os Notáveis conduziram a política de readequação de salários dos atletas, rescisões e negociações, reduziu o quadro de funcionários, colocou os vencimentos em dia e promoveu mudanças de toda ordem na parte administrativa.
Discussão sobre união ou purificação
Durante o encontro, José Dalai Rocha, presidente do Conselho Deliberativo e que acumula a função interina de presidente executivo, fez um discurso que não agradou a parte dos conselheiros. Ele pediu união e o fim do racha entre o grupo ligado ao ex-presidente Wagner Pires de Sá e as demais alas.
“Inacreditáveis acontecimentos. Coisa que nunca pensamos viver e vivemos. Vendo esse auditório e irmandade, rostos vibrantes cantando hino. Onde tem lugar pra ódio, onde tem lugar pra raiva? Todos somos cruzeirenses. Nunca entendi esse nós e eles. Toda vez que passo por nós e eles recebo pancadas de xiitas. Para onde nós leva isso? A gente sabe. Leva para onde estamos. Não vamos aprender? Vamos seguir nos separando? Vamos acabar com isso. Estava ansioso para ter essa oportunidade. A eleição parece que não acabou e já está misturando com a próxima. Precisamos refletir. Erros, vários cometeram. Difícil saber quem não errou. Erramos por ação, por omissao. Todos queremos sair desse chão que estamos. Somos o maior clube brasileiro do século XXI. Incomodamos o eixo, temos título que invejam outros. Chega de revanchismo. Quero fazer uma reunião no Barro Preto com todos em uma só mesa. Somos irmãos, não somos adversários. Por favor, vamos fazer isso”, rogou Dalai.
Imediatamente, Celso Luiz Chimbida, ex-integrante do Conselho Fiscal do Cruzeiro, pediu a palavra e rechaçou o discurso de Dalai que pregou união. Segundo ele, é hora de eliminação do Conselho os conselheiros que lesaram o clube na gestão de Wagner Pires de Sá. “Eu me senti ofendido quando o Dalai pega e abre, e simplesmente nos chama atenção. E diz simplesmente somos xiitas, somos... Que simplesmente nós temos que unir. Unir, não! Eu acho que o momento é de purificar o Cruzeiro. Nós não podemos simplesmente passar a mão no que aconteceu”.
Em sua réplica, Dalai esclareceu que não é a favor de jogar eventuais irregularidades para debaixo do tapete. “Quero dizer que o é xiita pra mim é o cruzeirense do ódio, que quer ofender, retaliar. Xiita pra mim é o cruzeirense que provocou mais de dez pedidos, esta semana, para mim, de segurança de vida, por ameaças de morte. Esses são xiitas. Estou na presidência e sou para-raio dessas emoções, dessas pressões. É por isso que digo: quando eu falo xiita, não é passar a mão, esquecer. Para isso tem órgãos apurando”.
O ex-presidente Wagner Pires de Sá não compareceu à reunião, assim como o ex-diretor-geral Sérgio Nonato, que é conselheiro e alvo das investigações da Polícia Civil e do Ministério Público. O ex-vice-presidente de futebol Itair Machado, braço direito do ex-mandatário, não integra o Conselho Deliberativo.
O ex-presidente do Conselho, Zezé Perrella, também faltou à reunião. Por outro lado, compareceram nomes de peso na política do clube, como os ex-presidentes Gilvan de Pinho Tavares, Alvimar de Oliveira Costa e César Masci.
Potencial candidato à presidência, Sérgio Santos Rodrigues esteve presente na reunião do Conselho e manteve contato com vários conselheiros no sentido de consolidar seu nome no próximo pleito.
Celso Luiz Chimbida rechaçou pedido de paz feito por José Dalai Rocha - Foto: Túlio Santos/EM/D.A. Press