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Justiça quebra sigilo bancário e de dados digitais de ex-dirigentes do Cruzeiro; conselheiros negociam colaborações

Wagner Pires de Sá, Itair Machado e Sérgio Nonato estão entre os investigados

Rafael Arruda Tiago Mattar
Wagner Pires de Sá e Itair Machado são investigados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público - Foto: Tulio Santos/EM D.A Press
Matéria atualizada às 12h35 de 23 de janeiro
A Justiça determinou a quebra de sigilo bancário de integrantes da antiga diretoria do Cruzeiro. Estão na lista o ex-presidente Wagner Pires de Sá, o ex-vice-presidente de futebol Itair Machado, o ex-diretor-geral Sérgio Nonato e o ex-diretor jurídico Fabiano de Oliveira Costa. A informação do jornal O Tempo foi confirmada pelo Superesportes.



O Superesportes apurou ainda que a Justiça também ordenou a quebra de sigilo de dados digitais de ex-dirigentes. Tanto que a Polícia Civil e o Ministério Público já tiveram acesso a e-mails trocados com mensagens e documentos referentes à administração de Wagner Pires no Cruzeiro.

De vários conselheiros remunerados que foram intimados a depor, dois negociam uma espécie de “colaboração premiada” para revelar como tudo aconteceu ao longo desse período.

As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público miram ainda contratos com empresários e jogadores. Existe a suspeita de “rachadinha”, já que a diretoria ofereceu constantes reajustes e outros benefícios separados dos salários na carteira de trabalho e em direitos de imagem de atletas.


Estágio avançado


No último dia 15 de janeiro, o promotor Daniel de Sá, responsável pela 11ª Promotoria de Justiça de Combate ao Crime Organizado e Investigação Criminal do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), havia afirmado a jornalistas e torcedores que as apurações de possíveis fraudes cometidas por ex-dirigentes do Cruzeiro estavam em estágio avançado.

“Podem ter certeza que o objetivo do Ministério Público e da Polícia Civil é apurar tudo aquilo que tiver acontecido de forma criminosa no Cruzeiro, responsabilizando as pessoas que tiverem de ser responsabilizadas e fazer isso de forma responsável, rápida, para dar um retorno. Embora eu não possa dar detalhes da investigação, posso dizer que a investigação está avançando bem. Os resultados serão satisfatórios e atenderão aos desejos da torcida”.

Na ocasião, Daniel de Sá e o delegado Gustavo Xavier receberam três integrantes do Núcleo Dirigente Transitório do Cruzeiro: o presidente Saulo Fróes, o superintendente jurídico Kris Brettas e o responsável pelas áreas administrativa e financeira, Emílio Brandi.


Nós fomos entender como está o andamento das investigações na Polícia Civil e no Ministério Público, e até agora o que nos foi passado é que as investigações estão caminhando bem, em alguns pontos já estão bem avançadas. Mas tudo corre em segredo de justiça, o que é importante para a investigação dos fatos”, declarou Kris Brettas, na ocasião.

Sérgio Nonato recebeu vários aumentos enquanto diretor do Cruzeiro. Seu primeiro contrato com o clube previa salário de R$ 60 mil por mês, sem dinheiro de bichos por premiações. Em maio de 2018, ele assinou um aditivo, com luvas de R$ 300 mil e reajuste na remuneração para R$ 75 mil. No fim do ano, foi concedido um novo aumento, para R$ 125 mil. De acordo com apuração da TV Globo, Serginho tinha direito a comissões por patrocínios fechados por seu intermédio. - Foto: Ramon Lisboa/EM D.A Press

Denúncias


A antiga diretoria do Cruzeiro é investigada por suspeitas de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica, além de quebras de regra da Confederação Brasileira de Futebol, da Fifa e do Governo Federal. As investigações se tornaram públicas por meio de reportagem exibida no programa Fantástico, da TV Globo, no dia 26 de maio de 2019.

Um dos casos mais graves era sobre um empréstimo de R$ 2 milhões contraído com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção. Para abater o débito, o clube, segundo inquérito da Polícia Civil, incluiu parte dos direitos de jogadores do profissional, como David (20%), Raniel (5%), Murilo (7%), Cacá (20%), e de outros que passaram pela base e foram negociados, casos de Gabriel Brazão (20%) e Vitinho (20%). Além disso, o Cruzeiro inseriu participação em uma possível venda do promissor Estevão William, de apenas 12 anos, que, pelas leis trabalhistas, só poderá assinar vínculo laboral a partir dos 16.



A Polícia Civil ainda apura superfaturamento de serviços, notas frias, comissões abusivas para empresários de atletas, aumentos substanciais nos salários de dirigentes, entre os quais Itair Machado, de R$ 180 mil mensais (multa rescisória de R$ 2 milhões), e Sérgio Nonato, de R$ 125 mil mensais (multa rescisória de R$ 1 milhão). Integrantes das demais pastas também tinham remunerações consideradas acima do mercado. Outras possíveis irregularidades investigadas pela Polícia Civil foram apontadas nas contratações de conselheiros para a prestação de serviços e o pagamento a torcidas organizadas.

Dívida astronômica


Economista graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e sócio de uma empresa especializada em fabricar produtos químicos, Wagner Pires de Sá assumiu a presidência do Cruzeiro em janeiro de 2018 com a promessa de reorganizar as contas do clube. Na prática, ocorreu o contrário. A dívida de R$ 383 milhões, herdada da gestão de Gilvan de Pinho Tavares, já superou R$ 800 milhões. O crescimento de 110% no passivo é extraoficial, já que o balanço patrimonial do exercício de 2019 só será divulgado em abril de 2020.

Em recente declaração por meio de uma transmissão on-line no Facebook, o empresário e ex-CEO do Cruzeiro, Vittorio Medioli, afirmou que a dívida total ultrapassou R$ 1 bilhão. Por causa dos débitos impagáveis em curto prazo, o clube abriu mão de jogadores renomados e tenta enxugar gastos tanto no futebol quanto no departamento administrativo. Na Série B, a previsão de receitas gira em torno de R$ 80 milhões.