Em entrevista ao Superesportes, o próprio Flávio Pena admitiu que havia discordâncias com o conselho gestor em alguns temas. Um deles é o caso da venda de Arrascaeta. "Eu continuo pensando da mesma forma, mas meus pares dentro do Cruzeiro pensam diferente. O balanço já foi alterado e enviado para o APFUT, só falta agora a aprovação do Conselho".
O Cruzeiro concretizou a venda do meia Arrascaeta ao Flamengo em janeiro de 2019 pelo valor de 13 milhões de euros (R$ 55,2 milhões na cotação da época). Em tese, a receita deveria entrar no balanço patrimonial apenas no exercício de 2020, porém o clube “puxou” o dinheiro para os demonstrativos contábeis de 2018 em função de o Profut exigir que entidades desportivas tenham prejuízo de no máximo 10% em relação à arrecadação total em um ano (o gasto de R$ 400,5 milhões foi 7,3% maior que o faturamento de R$ 373,5 milhões). O ex-diretor financeiro Flávio Pena afirmou que o procedimento é permitido pelo Código de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Apesar disso, o clube fez a mudança no balanço.
Flávio se arrepende de não ter vinculado o departamento de futebol ao setor financeiro. Sob o comando de Itair Machado, vice de futebol de Wagner Pires de Sá, a Raposa gastava com a folha salarial dos atletas cerca de R$ 15 milhões ao mês, valor incompatível com a realidade do clube.
"A única coisa que eu tentei e não consegui foi o futebol, que não pode estar desatrelado de um orçamento da diretoria financeira. O diretor financeiro tem que dar palpite na contratação, não na parte técnica, mas na questão financeira. O muro que existe entre o futebol e o financeiro é intransponível, um dos poucos clubes que consegue fazer isso, que traça essa estratégia, é o Grêmio", disse Flávio Pena.
Aposta arriscada
Três diretores financeiros passaram pelo Cruzeiro com o ex-presidente Wagner. O primeiro deles, Divino Alves de Lima, ficou menos de três meses no cargo por causa da irresponsabilidade do departamento de futebol. “Não tive a habilidade necessária para conviver com o contraditório pelo meu excesso de transparência, contundência e retidão!”, diz parte da carta de despedida de Divino.Divino assumiu o financeiro do clube em janeiro de 2018. Ele fez carreira em bancos e tinha mais de 36 anos de experiência no mercado financeiro. “Desligo-me hoje (15 de março de 2018) do Cruzeiro Esporte Clube com a frustração de não ter podido contribuir mais com a recuperação do nosso quase centenário clube”, escreveu Divino.
Naquela época, o Cruzeiro já buscava uma equação para as dívidas que cresceram na administração Gilvan de Pinho Tavares. Observando que não haveria responsabilidade financeira, Divino preferiu deixar o clube.
José Osvaldo Cardoso Sobrinho assumiu o cargo. Ficou até ser substituído por Flávio Pena.
Trabalho árduo do sucessor
Flávio Pena disse que o fato de ter participado da gestão de Wagner Pires de Sá contribuiu para a interrupção do trabalho. "Acho que influenciou sim. Mas eu sou um cara técnico, não sou conselheiro, nem amigo de conselheiro. Não sou amigo do Serginho nem do Itair. Fui o terceiro diretor financeiro dessa gestão (Wagner Pires de Sá)", frisou.O substituto de Flávio Pena terá muito trabalho na área financeira. "O meu sucessor vai ter trabalho extramente cansativo, uma equipe sem crédito no mercado financeiro, mas o comitê gestor está passando credibilidade. Por outro lado, pode encontrar muitas oportunidades também, como o apelo do programa de sócio”.