A queda para a Série B do Campeonato Brasileiro é um tormento para qualquer grande clube. Porém, quando ocorre, deve ser usada para reestruturação profunda, que permita à agremiação voltar mais forte à elite nacional e também almejar voos mais altos. Para isso, o Cruzeiro pode se inspirar em coirmãos que desceram na Era dos pontos corridos e retornaram com capacidade de brilhar no cenário internacional. Os exemplos vêm de perto, caso do Atlético, e de longe, como o Grêmio, passando pelo Corinthians, que alcançou a glória maior do futebol mundial quatro anos depois de amargar a Segunda Divisão.
Novo vice-presidente de futebol celeste, Pedro Lourenço reconhece que a situação é grave e que o desafio inicial é a reestruturação administrativa a partir da perspectiva de que o clube está “quebrado”, o que implicará redução de salários e dispensa de medalhões, mas aposta na reconstrução do clube. Nesse cenário, não estão previstas contratações e já está definida atenção especial a atletas da base. “É cuidar mais dos meninos e montar um time no Mineiro, além de fazer um time para subir. Depois, a gente volta aos velhos tempos”. Confira exemplos de clubes do Brasil que caíram, mas retornaram maiores.
Atlético
Ano da queda: 2005
Auge: Campeão da Libertadores'2013
A disputa da Série B do Campeonato Brasileiro em 2006 foi encarada por muitos como o “início do fim” do Galo. Porém, depois de um começo ruim, a equipe se estabilizou, reagiu e conquistou o título da Segunda Divisão, abrindo caminho para a reestruturação que foi completada pela gestão seguinte. Os frutos já puderam ser colhidos no ano seguinte, com a conquista do título mineiro depois de sete edições de jejum. O vice-campeonato brasileiro de 2012 foi o prenúncio que coisas boas poderiam vir, o que se confirmou no ano seguinte, com a conquista da Copa Libertadores pela primeira vez na história, sob o comando do técnico Cuca e do craque Ronaldinho Gaúcho. Em 2014, outro título inédito, o da Copa do Brasil, e exatamente sobre o maior rival, o Cruzeiro, além da Recopa Sul-Americana.
Corinthians
Ano da queda: 2007
Auge: Campeão Mundial de Clubes'2012
O fim da parceria com a empresa MSI, em 2006, levou o Timão à penúria financeira e técnica, pois alguns dos principais jogadores, como Tévez, saíram. Assim, a queda foi uma consequência desse desarranjo em 2007, mas também serviu para que a nova administração implementasse sua filosofia, com marketing agressivo. Vice da Copa do Brasil em 2007, ano em que conquistou a Série B do Brasileiro, foi campeão do mata-mata nacional dois anos depois. Faturou o Brasileiro em 2011, o que se repetiu em 2015 e 2017. Mas a glória mesmo veio em 2012, quando se sagrou campeão da Copa Libertadores, batendo o Boca Juniors na final, e Mundial, derrotando o poderoso Chelsea-ING com gol de Guerrero. Em 2013 foi campeão da Recopa Sul-Americana. Além dos bons resultados em campo, o clube também conseguiu realizar velho sonho da torcida, construindo estádio próprio.
Grêmio
Ano da queda: 2004
Auge: Campeão da Libertadores'2017
Em gravíssima situação financeira depois do fim da parceria com a MSI, o Tricolor Gaúcho teve de se superar para voltar à Primeira Divisão em 2005, vencendo o Náutico na última rodada do quadrangular, mesmo com quatro jogadores expulsos, naquela que ficou conhecida como “Batalha dos Aflitos”. Reestruturado, foi terceiro colocado no Brasileiro de 2006, vice da Libertadores de 2007 e do Brasileiro de 2008. Fez outras boas campanhas, sendo semifinalista da Copa do Brasil em 2013 e 2014 e vice do Brasileiro em 2013, até vencer novamente o mata-mata nacional em 2016, já comandado pelo ídolo Renato Gaúcho, encerrando jejum que durava desde 2001. No ano seguinte, quebrou tabu ainda maior ao conquistar a Libertadores pela terceira vez, repetindo 1983 e 1995. Ganhou também a Recopa em 2018.
Palmeiras
Ano da queda: 2012
Auge: Campeão da Copa do Brasil 2015, Brasileiro'2016 e 2018
O Verdão é exemplo típico de como a Copa do Brasil pode mascarar situação ruim, pois foi campeão de forma invicta do mata-mata e rebaixado no Brasileiro, tudo em 2012, quando teve administração conturbada. Isso mostra que o planejamento não foi o ideal e o clube não se preparou para andar com as próprias pernas, repetindo o erro cometido anos antes, ao perder investidor máster. Já sob nova administração, garantiu a volta à elite no ano seguinte, porém, por pouco não caiu de novo em 2014. Em 2015, com equipe reforçada por jogadores como o goleiro Fernando Prass e mais adaptado à recém-inaugurada Arena Palmeiras, foi campeão da Copa do Brasil (foto), conquistando o Brasileiro em 2016, encerrando jejum de 22 anos, e em 2018, se consolidando como o maior papa-títulos nacional.
Atlhetico
Ano da queda: 2011
Auge: Copa Sul-Americana'2018 e Copa do Brasil'2019
Depois de ir ao fundo do poço em 2011, com o rebaixamento à Série B, o Athletico teve como mérito a readequação financeira, com redução dos custos de futebol e inserção no Refis para o pagamento de dívidas tributárias. O clube voltou à elite no ano seguinte e investiu nas categorias de base e na modernização do CT do Caju, considerado um dos melhores do país. Com orçamento inferior ao de vários times do país e torcida nem tão grande, o Furacão chegou ao terceiro lugar no Brasileiro de 2013 e conquistou a Copa Sul-Americana em 2018 diante do Junior Barranquilla-COL (foto) e a Copa do Brasil em 2019, batendo o Flamengo. Nesse período, negociou bem seus jogadores, como o atacante Pablo (vendido para o São Paulo por R$ 26,2 milhões) e o lateral-esquerdo Renan Lodi (R$ 87,2 milhões, para o Atlético de Madrid). Em 2020, mesmo com os R$ 60 milhões pelo título nacional, a diretoria promete manter os pés no chão para não ameaçar o equilíbrio financeiro.