Vivendo a mais grave crise política de seus quase 99 anos, o Cruzeiro iniciará, a partir de segunda-feira, um novo capítulo de sua história. Depois das renúncias do presidente Wagner Pires de Sá e de seus vices, Hermínio Lemos e Ronaldo Granata, um Conselho de Notáveis assumirá a administração do clube.
O que representa o fim da administração mais danosa do Cruzeiro? O que esperar dos novos gestores? Há esperança? O Superesportes ouviu onze lideranças do Conselho Deliberativo do Cruzeiro:
Alvimar de Oliveira Costa
Ex-presidente do Cruzeiro (2003-2008)
Alvimar de Oliveira Costa - Foto: Jorge Gontijo/EM/D.A Press
“Eu acho que a renúncia coletiva é o que todos esperavam, é um anseio da torcida. A expectativa é que seja consumada e protocolada o mais rápido possível e que o clube volte a ter uma conciliação política. Sobre a nova gestão, a expectativa é a melhor possível, porque as duas últimas, do Gilvan e do Wagner, foram um desastre absoluto”.
Bruno Vicintin
Ex-vice-presidente de futebol do Cruzeiro (2015-2017)
Bruno Vicintin - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Temos que dividir essa renúncia em duas partes. Primeiro, o Wagner Pires é o chefe de uma organização criminosa que tomou o Cruzeiro de assalto junto com os senhores Itair Machado, Sérgio Nonato e Fabiano de Oliveira Costa. Cometeram uma série de atrocidades que nos levaram à Segunda Divisão e à ruína financeira. O senhor Hermínio Lemos foi cúmplice, no mínimo, dessa organização criminosa e passou esses dois anos como vice-presidente, omitindo-se ou defendendo a mesma. Já o senhor Ronaldo Granata, até que se prove o contrário, não tem nada a ver com essa corja. Porém, era extremamente necessária a sua renúncia para que se renunciasse a chapa toda. Ele, até onde eu sei, não participou de nada. Eu acho que este é o reinício do Cruzeiro. Agora, cabe a todos pacificar, unir o clube e dar apoio às pessoas que estão heroicamente assumindo no Conselho Gestor. Quero destacar o trabalho de três pessoas, três amigos meus: o incansável Gustavo Gatti, o Kris Bretas e o Toninho Assunção, que saiu de casa nessa sexta para ajudar a convencer o Ronaldo Granata a renunciar. Quero lembrar que todos os dois foram expulsos do Conselho do Cruzeiro por essa organização criminosa e, mesmo assim, hoje, lutam sem fazer parte de Conselho Gestor para ajudar na reconstrução do clube. Eu acho que é isso que todos devem fazer, passar por cima das vaidades para ajudar, cada um em sua área, esse Conselho de Notáveis a reerguer esse gigante. Para finalizar, vamos acreditar que o Cruzeiro vai sair dessa ainda mais forte e confiar que o bem sempre vence o mal e que o Gigante irá voltar em breve e dar muitas alegrias aos nove milhões de torcedores.
Celso Chimbida
Ex-conselheiro fiscal do Cruzeiro
Celso Chimbida - Foto: Twitter/reprodução
“Eu entendo que depois do que passamos, do momento que passamos nesse último semestre, havia a necessidade muito grande de acreditar em novos tempos. A renúncia, que foi muito trabalhosa, é importante para que a gente possa pensar em novos tempos. Apesar disso, a situação que eles entregam o clube é degradante. Precisaremos do empenho de todos, do Conselho, do torcedor, para iniciar uma reconstrução. Podemos acreditar nessa reconstrução a partir de agora”.
Emílio Brandi
Integrante do futuro Conselho de Notáveis
Emílio Brandi - Foto: Rafael Souza/Divulgacao
“É muito triste tudo que isso que passou para a história do Cruzeiro. Eu nasci no clube, meu tio (Felício Brandi) era presidente e sou cruzeirense há 57 anos. Ver meu time ir para a Série B, entrar em páginas policiais, com o time na situação que está, com salários atrasados, é triste. Mas pode estar certo que esse Conselho de Notáveis, com cruzeirenses ilustres, quer fazer tudo pelo Cruzeiro e sem receber nada. São pessoas do bem, empresários, que vão disponibilizar seu tempo sem remuneração para voltar com o Cruzeiro para os trilhos. É o que esperamos para essa reconstrução. Vamos reunir na segunda-feira e ver as prioridades, tentar quitar os atrasados, cuidar dos contratos de jogadores e fazer uma força-tarefa com advogados para cuidar de tudo isso. O maior patrimônio dos empresários são clientes. O maior patrimônio do Cruzeiro se chama torcida. Contamos com todos e vamos para a reconstrução”.
Gilvan de Pinho Tavares
Ex-presidente do Cruzeiro (2012-2017)
Gilvan de Pinho Tavares - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
“Tenho toda esperança que, agora, com as pessoas que estão chegando, o Cruzeiro reassuma o seu devido lugar na história do futebol brasileiro. Não merecíamos passar por tudo isso que presenciamos. Creio que o melhor ganho com a entrada do Conselho de Notáveis será de credibilidade. O Cruzeiro voltará a ser respeitado”.
Giovanni Baroni
Ex-candidato à vice-presidência do Cruzeiro
Giovanni Baroni - Foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press
“Quem sempre encabeçou a oposição em relação ao Itair Machado, ao Wagner Pires de Sá, fui eu. Estou nessa luta desde setembro de 2018. No início tentei me aproximar, depois percebi que o Cruzeiro estava sendo conduzido por pessoas que queriam se perpetuar no poder, com envolvimento de conselheiros. Percebendo isso, comecei a investigar naquele mês de setembro. Na época, procurei o Zezé (Perrella, então presidente do Conselho Deliberativo), ele estava em Brasília e não deu muita atenção. O Conselho Fiscal, eu ajudei a montar, mas ele não tinha acesso a nada. Com a renúncia, o Cruzeiro vive um alívio. O que poderia ser feito de pior foi feito na gestão do Wagner. Ele pegou um clube com dívida, e ainda administrou com fanfarra. Vejo com otimismo a chegada do Conselho Gestor. Se a gente fizer campanha para sócio, centenário do clube, eu acho que a gente tem possibilidade de mudar o Estatuto e valorizar profissionais por capacidade técnica”.
Gustavo Gatti
Ex-secretário do Conselho Deliberativo
Gustavo Gatti - Foto: Eugenio Gurgel/Especial para o EM/D. A . Press
“Eu acho que viramos uma página negra na história do Cruzeiro, de desmandos, de orgia, confusão, falta de responsabilidade, de caráter. Vamos tentar resgatar a nação do Cruzeiro. Eu acho que, agora, vamos unir forças, todos os cruzeirenses, sem chapa A e B. Temos que unir os cruzeirenses para reconstruir, porque o clube hoje é terra arrasada. Não sobrou nada. Eu confio muito em pessoas sérias, competentes, do bem. A qualidade das pessoas que estão se oferecendo é muito boa”.
Pedro Lourenço
Principal patrocinador e integrante do futuro Conselho de Notáveis
Pedro Lourenço - Foto: Youtube
“O ano de 2020 vai ser um ano muito melhor pra nós. Podem ter certeza que estamos juntos e, no que depender de mim, vamos fazer o melhor para o Cruzeiro. E, torcedores, confio em vocês. Vamos dar a volta por cima. Faço parte disso. A torcida vai ter um ano muito melhor”.
Sérgio Santos Rodrigues
Ex-superintendente e ex-candidato à presidência do Cruzeiro
Sérgio Santos Rodrigues - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press.
"O 20 de dezembro de 2019 é o dia triste mais feliz que o Cruzeiro está passando, ou o dia feliz mais triste da história do clube. Era necessário acontecer para ter uma reconstrução. Agora, contamos com o apoio da torcida para nos recuperarmos".
Ubirajara Pires Glória
Ex-membro do Conselho Fiscal do Cruzeiro
Ubirajara Pires Glória - Foto: Arquivo pessoal
“Com a renúncia desta diretoria, que foi altamente prejudicial, o Cruzeiro, hoje, começa a nascer de novo. Estou muito otimista com o que pode vir pela frente, com o Conselho de Notáveis. Chegamos ao fundo do poço e acredito que as medidas que essa nova gestão poderá tomar significam esperança”.
Zezé Perrella
Ex-presidente do Cruzeiro (1995-2002/2009-2011) e ex-presidente do Conselho
Zezé Perrella - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
“O Cruzeiro tem que se reerguer das cinzas. Com esse pessoal, sem qualquer credibilidade, a possibilidade disso acontecer era 0. Estou muito animado. Estou muito animado com o Pedro Lourenço, que tem totais condições de fazer um bom trabalho. Eu vejo no Pedro como nossa principal esperança. O estrago que fizeram foi muito grande. Além da dívida de R$ 700 milhões, adiantaram as cotas de televisão. Ficaremos dois anos sem receber nada na TV. Ou seja, o rombo é de R$ 900 milhões. O que fizeram foi uma insanidade. A solução encontrada foi perfeita. O José Dalai Rocha (presidente do Conselho) é muito respeitado no clube. Eu voltei a fazer parte da torcida, como sempre foi, e não quero cargo nenhum, não quero mais voltar”.