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Conselho fragmentado e sem lideranças firmadas torna futuro político do Cruzeiro obscuro após rebaixamento para Série B

Clube tem eleição presidencial prevista para o fim do ano

Tiago Mattar
Com rebaixamento, permanência de Wagner na presidência deve ser contestada novamente - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press
Se tudo correr como planejado - o que está longe de ser uma regra no Barro Preto -, o Cruzeiro passará por eleição presidencial no segundo semestre de 2020. Sofrendo com a crise política que assola os bastidores desde meados de 2016, o clube tem tudo para viver novo pleito conturbado às vésperas do centenário (em 2021) e em meio à disputa da Série B do Campeonato Brasileiro.



Fontes ouvidas pelo Superesportes, de todas as alas do Cruzeiro, não se arriscam sobre possíveis candidatos à sucessão de Wagner Pires de Sá. A explicação vem dos mais esclarecidos: o Conselho Deliberativo do clube está fragmentado e sem lideranças firmadas. Há interessados sem qualquer força política e há também aqueles que conseguiriam vencer nos votos, mas não têm interesse em assumir a presidência. Outro grupo reúne os que deverão se candidatar, mas que colocariam ainda mais fogo na rotina do Barro Preto em caso de vitória nas urnas.

O único “time” que se manteve coeso em meio a acusações de golpe, escândalos e divergências foi a Família União. Ao longo do tempo, o grupo que elegeu Wagner Pires de Sá ainda ganhou novos adeptos: vários deles antigos aliados de Sérgio Santos Rodrigues, derrotado pelo atual mandatário em outubro de 2017 por uma diferença de 35 votos. Pelo menos dois coordenadores da campanha do advogado - Renê Salviano e Fábio Elias - ganharam cargos no organograma gerido por Pires de Sá. 

Tendo como principal referência o ex-vice de futebol Itair Machado, a União é coordenada politicamente por Alexandre Comoretto, vulgo Gaúcho, remunerado pelo Cruzeiro para gerir a  Sede Campestre, na Pampulha. Embora não seja conselheiro, é ele quem consegue manter harmonia, custe o que custar. Destaque também para a liderança de Vitório Galinari, que chegou a ser hostilizado pela torcida celeste depois de um jogo no Mineirão.



Sobre oposição ao grupo situacionista, um conselheiro com fortes poderes, mas que pediu anonimato, definiu bem: “Há muitos opositores, mas nenhuma oposição”. Construída ao longo de 2019, a ala Cruzeiro Pró-Transparência acabou fragmentada depois que Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo, assumiu a gestão do futebol na administração de Wagner e cancelou reunião para votar possível afastamento do mandatário.

A decisão de Perrella foi a gota d’água para que membros do grupo abandonassem qualquer esperança de real mudança das políticas institucionais do Cruzeiro. Em 10 de outubro, quando a saída de Itair e a nomeação de Perrella foram oficializadas, a reportagem acompanhou as movimentações e consequentes frustrações no grupo de conselheiros criado no Whatsapp.    

Saídas


Único potencial candidato capaz de conciliar é Pedro Lourenço, antigo parceiro e patrocinador do Cruzeiro. Como informou o Superesportes ao longo de 2019, no entanto, sua posição não é certa nem para os aliados mais próximos. Em mais de uma oportunidade, Pedrinho, como é conhecido, já disse que aceita o cargo e mudou de ideia ao fim do dia. Neste momento, pode-se dizer, ele está inclinado a não se candidatar à presidência em 2020.

Tão sonhada por parte da torcida, a ‘união de grandes empresários do conselho’ dificilmente acontecerá no curto prazo. Isso porque nenhum deles é próximo de Zezé Perrella, que deverá ser peça-chave neste jogo de xadrez em 2020. Emílio Brandi (Nova Safra), Gustavo Gatti (Gatti Engenharia), Pietro Sportelli (Aethra) e Aquiles Diniz (Banco Inter) estão entre os presidenciáveis, mas apenas o último cogita ser candidato no próximo pleito e só em caso de conciliação absoluta. A maioria deles é muito ligada a Bruno Vicintin, ex-vice de futebol (entre 2015 e 2017), ‘excluído’ do Conselho Deliberativo em 2017. 



Dificilmente a Família União não lançará um candidato em 2020. Isso porque, apesar de não existirem grandes lideranças dentro do grupo, há muitos votos. A depender das articulações dos opositores, o escolhido para representar essa ala no pleito será um dos favoritos. Ainda timidamente, desponta o nome do atual segundo vice-presidente, Hermínio Lemos, que ainda precisaria se cacifar e reestruturar relações com outros dirigentes da ‘família’. 

Por fim, entre as ‘novas’ lideranças, destaca-se Sérgio Santos Rodrigues, hoje sem o apoio de Zezé Perrella, e Giovanni Baroni, que chegou a ser nomeado para o recém-criado Conselho Gestor, mas teve o nome retirado depois da pressão de adversários políticos. Embora tenha apoio do torcedor comum, manifestado especialmente nas redes sociais, a dupla, que é aliada, poderá encontrar certa dificuldade para viabilizar uma chapa.