“Claro que doem e incomodam. Muitas coisas que estou vendo, estão me culpando pela demissão do Rogério, coisa que eu não fiz, eu não faço isso. Acho que ele mesmo cometeu seus erros, cometi os meus também, como fui humilde de pedir desculpas para ele na sala dele. Incomoda muita coisa que eu leio, do torcedor botando a culpa em mim, ainda mais em um momento complicado que estamos passando. Até peço para pararem, porque a culpa não foi só minha, foi do Rogério também, enfim”.
As últimas semanas têm sido difíceis para Thiago, não apenas pela carga atribuída a ele em razão do desgaste com Rogério Ceni, mas também por causa da sequência de oito jogos sem vitória no Campeonato Brasileiro que fez o Cruzeiro se afundar na zona de rebaixamento. O camisa 10 procura desabafar a respeito da má fase com um amigo, além de enfrentar dificuldades até mesmo para dormir e descansar.
“Eu tenho um amigo que está comigo. Na volta do estádio para casa já procuro desabafar e falar tudo que tenho para falar. Deixo ele só de ouvido, porque se falar também, a gente discute e briga logo. É um momento difícil, porque você não consegue esquecer o jogo da Chape, mas ao mesmo tempo tem o São Paulo, uma pedreira. Estou tentando ao máximo esquecer as coisas, tentando ficar tranquilo, tentando relaxar para dar tranquilidade a todo mundo, mas confesso que é bem difícil, ainda mais depois de todo o peso que todo mundo colocou nas minhas costas com a demissão do Rogério. Particularmente, sinto-me muito pressionado e é difícil dormir e relaxar para fazer boa partida”.
Com a saída de Rogério Ceni e a contratação de Abel Braga, o Cruzeiro jogou quatro partidas. Na estreia do treinador, o time perdeu para o Goiás por 1 a 0, no Serra Dourada, em Goiânia. Depois, empatou com Internacional (1 a 1, no Mineirão), Fluminense (0 a 0, no Mineirão) e Chapecoense (1 a 1, na Arena Condá). Na opinião de Thiago Neves, a equipe apresentou evolução e ganhou confiança para sair da zona de rebaixamento, mas precisa ser fria no momento da conclusão das jogadas. Nesta quarta-feira, às 21h, no Mineirão, a Raposa receberá o São Paulo, pela 26ª rodada do Brasileiro.
No Cruzeiro desde 2017, Thiago Neves disputou 144 jogos e marcou 40 gols - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro
“Melhorou muito. Estamos jogando para cima de todo mundo, da forma que tem que jogar o Cruzeiro, pela camisa que a gente tem. O Abel está dando confiança a todos os jogadores, todos para ele são importantes, é o que precisávamos neste momento. Tem que ter, obviamente, a sorte, e acho que está um pouquinho longe. Mas, acima de tudo, tem que ter tranquilidade. É um momento importante, difícil, de muita pressão, mas precisamos de tranquilidade para fazer o gol, para dar um bom passe ao companheiro. Precisamos ser um pouco frios na grande área para fazer o gol”.
Diante do São Paulo, TN10 pede que os torcedores tenham mais paciência, não apenas com ele, mas com outros atletas em baixa, como o atacante David. “Sobre a vaia, algumas eu acho que foi injustas, até para alguns jogadores. Comigo, no jogo contra o Grêmio, a gente acabou de tomar o gol, quando eu peguei na bola, o torcedor começou a me vaiar como se eu tivesse feito gol contra. No jogo em casa, contra o Inter, a torcida já começou a pegar de imediato no pé do David. Algumas vaias estão sendo injustas, até porque estamos tentando fazer o melhor. Não estou ali brincando e nem para prejudicar o Cruzeiro, pelo contrário, estou fazendo o que posso. Como falei há pouco, às vezes deixo de ser um cara mais técnico para ajudar na marcação, em outro tipo de jogo. Espero que o torcedor entenda isso daqui pra frente, pois todo mundo está pressionado e concentrado em tirar o Cruzeiro dessa situação”.
Voltar a ser decisivo
Thiago Neves também promete ser decisivo para tirar o Cruzeiro do Z4, tal como foi nas conquistas recentes do clube: Copas do Brasil de 2017 e 2018 e Campeonato Mineiro de 2018 e 2019. “Da mesma forma em que fui decisivo nos títulos e nos jogos importantes, preciso ser decisivo nessa fase complicada que estamos passando, para levantar e tirar o Cruzeiro dessa situação. Não merece pelo elenco que a gente tem e por tudo que vivemos nos últimos dois anos. Pode ter certeza de que estou me doando e me entregando, os números provam o quanto estou me dedicando. Às vezes você abre mão de ser um jogador decisivo para ajudar mais a marcação como foi agora contra a Chapecoense. Estou correndo de 11 a 12 quilômetros por jogo, correndo pelo Fred, pelo David, por outros jogadores quando estão cansados. Às vezes abro mão da parte técnica para colocar um pouco mais de raça e vontade para conquistarmos as vitórias que precisamos”.
Por fim, o armador admite: a luta do Cruzeiro para permanecer na Série A é o momento mais difícil de sua carreira. “Nunca passei por isso. Já tive momentos de muita pressão na minha carreira, mas o que estou passando agora, não. De chegar em casa e não ter vontade de fazer nada, de ficar só pensando no Cruzeiro, olhando tabela e vendo qual adversário vamos enfrentar. Acho que é o momento mais difícil na minha vida”.
. O Cruzeiro é 18º colocado no Brasileiro, com 22 pontos, quatro a menos que o Ceará, 16º. De acordo com cálculos de probabilidade do Departamento de Matemática da UFMG, neste momento as chances de rebaixamento são de 73,1%. Para permanecer na Série A em 2020 e evitar queda brusca em receitas, a Raposa precisa vencer ao menos sete das últimas 13 rodadas. Com 43 pontos, o risco de queda é de “apenas” 8%.