Itair Machado trabalhou no Cruzeiro por quase dois anos (Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Durante quase dois anos, Itair Machado gozou de grande influência na administração do Cruzeiro. Tanto que o presidente Wagner Pires de Sá foi apelidado de “Rainha da Inglaterra”, pois, na prática, o vice-presidente de futebol era quem tomava as decisões mais importantes no clube. A partir de um compilado de entrevistas e notícias, o Superesportes apresenta alguns pontos da passagem do dirigente pela Raposa.
Entre as negociações efetivadas, a de maior impacto foi de Fred, em dezembro de 2017. O acerto com o camisa 9 gerou um impasse judicial com o Atlético, que havia inserido na cláusula rescisória uma multa de R$ 10 milhões ao atleta caso ele assinasse com o Cruzeiro. Até hoje o caso está em discussão nos tribunais.
Fred assinou contrato com Cruzeiro em 23 de dezembro de 2017 (Foto: Divulgação)
Com relação a investimentos suntuosos em 2019, o Cruzeiro se comprometeu a pagar 4 milhões de dólares (R$ 15 milhões) pelo meia Rodriguinho, em definitivo, e 750 mil euros (R$ 3,2 milhões) pelo empréstimo do atacante Pedro Rocha. Em 2018, David foi adquirido ao Vitória, por 2,5 milhões de euros (R$ 10 milhões); Bruno Silva teve os direitos econômicos comprados ao Botafogo, por R$ 5 milhões; e Mancuello, do Flamengo, custou US$ 1,8 milhões (quase R$ 6 milhões).
O Cruzeiro também usou seus atletas como moedas de troca. Foi assim para ter o lateral-direito Edilson, em 2018. Como compensação, o Grêmio recebeu Alisson em definitivo e Thonny Anderson por empréstimo, com cessão de 30% dos direitos econômicos e opção de compra de mais 20% por R$ 500 mil.
Na virada de 2018 para 2019, o clube acertou as idas do lateral-direito Ezequiel e do volante Bruno Silva ao Fluminense, que, em contrapartida, liberou Jadson para a Toca da Raposa.
Houve ainda “negócios de ocasião”, como as contratações de Hernán Barcos, no segundo semestre de 2018, e de Marquinhos Gabriel, para a temporada 2019.
O Cruzeiro também investiu em jovens desconhecidos, entre eles o volante Éderson, o lateral-esquerdo Patrick Brey e o atacante Renato Kayzer, e recorreu ao mercado internacional para suprir carência na lateral direita com o colombiano Orejuela, do Ajax.
Em várias entrevistas, Itair Machado afirmou que não pretendia negociar nenhum jogador da base bicampeã da Copa do Brasil. Contudo, viu-se obrigado a vender Arrascaeta ao Flamengo, por 13 milhões de euros, após o atleta decidir não se reapresentar na Toca da Raposa II. Posteriormente, saíram o zagueiro Murilo, o atacante Raniel e o volante Lucas Romero. Jovens promissores sub-20 também deixaram o clube, como o goleiro Gabriel Brazão e o lateral-direito Vitinho.
Itair Machado conduziu renovações com atletas importantes no Cruzeiro. Em janeiro de 2019, Thiago Neves ampliou seu vínculo para dezembro de 2020, com a condição de estender até 2021, caso participe de 42 partidas na próxima temporada. Em fevereiro, foi a vez de o volante Henrique e o lateral-esquerdo Egídio assinarem contratos até o fim de 2020. O mesmo ocorreu com o goleiro Fábio. Já o meia Robinho seguirá na Toca até dezembro de 2021. Em 2018, a diretoria havia prorrogado as ligações com os zagueiros Leo e Dedé e o volante Ariel Cabral.
Thiago Neves assinou novo contrato com Cruzeiro em 7 de janeiro de 2019 (Foto: Divulgação/Cruzeiro)
A maior conquista do Cruzeiro na gestão de Itair Machado foi a Copa do Brasil de 2018,que proporcionou ao clube arrecadação milionária de R$ 61,9 milhões - R$ 50 milhões exclusivamente pelo título. O atacante Hernán Barcos, contratado pelo vice-presidente de futebol, teve participação decisiva na campanha ao marcar os dois gols celestes nos duelos contra o Palmeiras pelas semifinais (vitória por 1 a 0, no Allianz Parque, e empate por 1 a 1, no Mineirão). O time celeste também ganhou duas edições do Campeonato Mineiro, em ambas batendo o Atlético na decisão.
Tanto Itair quanto Wagner Pires de Sá declararam em várias oportunidades que o Cruzeiro havia herdado dívidas da gestão anterior, de Gilvan de Pinho Tavares. Ao mesmo tempo em que prometiam equacionar as contas do clube, eles elevaram a dívida. O gasto com pessoal, por exemplo, saltou de R$ 174,3 milhões para R$ 226,1 milhões - quase 30% de aumento. Relatório da comissão de sindicância designada para apurar as finanças celestes apontou crescimento de 15% no quadro de funcionários entre dezembro de 2017 e abril de 2018 (624 a 736).
“Eu tenho vendido para eles a imagem de vir para o Cruzeiro, fiscalizar, ter o poder de fiscalização. Uma coisa que as duas chapas gostaram no discurso do Wagner foi esse discurso, queremos o cruzeirense, o conselheiro, fiscalizando o Cruzeiro. Queremos criar o Portal da Transparência, em que todos os negócios feitos na gestão Wagner Pires poderão ser acessados. É um trabalho bacana do Flamengo, que fez isso”.
Entretanto, como o governo precisaria ressarcir a Minas Arena, que assinou contrato de Parceria Público Privada (PPP) em 21 de dezembro de 2010 com valor de R$ 677,3 milhões, não houve avanço na negociação. O prazo de vigência da concessionária é de 27 anos, finalizando em 2037, com a previsão de extensão contratual até 2045.
REMUNERAÇÃO
No dia 16 de abril de 2019, o jornalista Jorge Nicola, do portal Yahoo!, revelou que Itair Machado havia recebido em 2018 R$ 4.249.963,80 por meio de sua empresa, a IMM Assessoria e Consultoria Esportiva Ltda., pelos serviços prestados como vice-presidente de futebol do Cruzeiro. A quantia milionária incluía salários (incluindo 13º) e prêmios por títulos. A média mensal era de R$ 354 mil.
, e o “acréscimo considerável” se deveu às conquistas do Cruzeiro no Campeonato Mineiro e na Copa do Brasil.
Multiplicado por 13, o salário de R$ 180 mil corresponde a R$ 2.340.000,00 em um ano. Assim, Itair Machado teria embolsado quase R$ 1,9 milhão pelos títulos da Copa do Brasil e do estadual em 2018.
Em quase dois anos no Cruzeiro, Itair Machado protagonizou várias polêmicas. Na conturbada saída de Arrascaeta para o Flamengo, o dirigente chamou o empresário Daniel Fonseca de “bandido” e o acusou de obrigar o jogador a não se reapresentar ao clube.
“Na verdade nunca chegou uma proposta oficial pelo Arrascaeta. Na de hoje, o procurador me ligou, falou que ia chegar ontem à noite em Belo Horizonte. Ele veio, falou que a proposta era do Flamengo, fez uma proposta para o Cruzeiro e eu não aceitei a proposta. Uma hora depois, ele trouxe o atleta. Ele foi muito ríspido com o Cruzeiro, levou o jogador embora, o jogador não se reapresentou no Cruzeiro. A nossa parte jurídica vai multar o atleta. Isso já aconteceu há alguns anos com esse próprio procurador. Eu comuniquei a ele e quero comunicar a vários órgãos de imprensa que o Cruzeiro tem comando. Ninguém vai chegar aqui e tirar jogador do Cruzeiro sem que o Cruzeiro se interesse pela proposta. Estamos aqui para ganhar títulos. Não estamos aqui para ser banco, vender jogador e ganhar dinheiro. O interesse nosso é sentar nessa cadeira para ganhar títulos”, disse Itair, no dia 3 de janeiro.
Arrascaeta, de fato, parou de responder aos contatos da diretoria e ficou em Montevidéu, no Uruguai, até que a história fosse resolvida. No fim das contas, o Flamengo precisou desembolsar 18 milhões de euros pela contratação do meia, sendo 13 milhões exclusivamente pela fatia de 50% dos direitos econômicos pertencentes ao Cruzeiro.
Em 2019, Arrascaeta é um dos destaques do Fla, pelo qual já marcou 14 gols em 39 partidas na temporada. Na Raposa, o ex-camisa 10 se tornou o maior artilheiro estrangeiro, com 50 gols em 188 jogos, e conquistou três títulos: duas Copas do Brasil, em 2017 e 2018, e um Campeonato Mineiro, em 2018.
Arrascaeta é um dos destaques do Flamengo em 2019 (Foto: NELSON ALMEIDA/AFP)
Relação com a imprensa
Itair Machado costumava soltar muitas informações em suas entrevistas, mas, em algumas ocasiões, entrava em atrito com repórteres. Em 27 de maio, dia posterior à denúncias exibidas pela TV Globo no programa Fantástico, o vice de futebol discutiu com o jornalista Vinícius Nicoletti, da Fox Sports Brasil.
Itair respondia questionamento de Nicoletti sobre a cessão de 20% dos direitos econômicos do garoto Estevão Willian, de 12 anos, como garantia de pagamento de uma dívida do Cruzeiro com o empresário Cristiano Richard.
O dirigente ficou bastante descontente com o argumento de Vinícius de que o menino nem sequer era atleta profissional e não poderia ser envolvido em negociações. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a inclusão de crianças em transações como essa. Estevão, por sinal, só poderá ter o primeiro contrato profissional em 2023.
Depois de pouco mais de uma hora de coletiva, Itair Machado deixou a sala de imprensa da Toca da Raposa II ironizou a imprensa. “Para infelicidade de muitos, o Cruzeiro não vai ser punido”, bradou o dirigente ao se retirar do local.
Itair Machado discutiu com jornalista em entrevista na qual explicava denúncias (Foto: Tulio Santos/EM D.A Press)
Já na última entrevista como vice de futebol do Cruzeiro, em 27 de setembro, Itair respondeu de maneira ácida a pergunta do jornalista Adroaldo Leal, da Rádio 98, sobre os motivos de sua permanência na diretoria em meio ao caos político e administrativo no clube.
“Eu fico porque: uma, o grupo de jogadores me pediu para ficar. Outra, porque acredito no meu trabalho e não quero que o time caia na Série B. Sobre o que você falou aí, eu se quiser vou lá na Polícia amanhã e faço uma denúncia anônima de você. Aí o que você vai responder? Vão te perguntar: ‘você está sendo acusado, e tal, e aí?’. Denúncia tem que ter nome, tem que ter cara, e vocês deram muita importância a isso. Mas eu não vim aqui para falar disso hoje. Sobre se eu fico ou não no Cruzeiro, é uma opção minha, não é pertintente nesse momento. Mas depois, se você quiser, vou lá na sua rádio e falo até de mais coisas. Mas nesse momento aqui não é pertinente. O que me estranha muito é isso aí. O tratamento é diferente com o Cruzeiro. É diferente. A própria emissora sua trata diferente os dois lados. O que eu queria pedir é que vocês tenham o mesmo tratamento. Atrasou salário lá (referindo-se ao Atlético)? Divulguem. Atrasou salário aqui? Divulguem. Estou falando de modo geral”.
Adroaldo alegou que a pergunta havia sido feita baseado no que os torcedores do Cruzeiro pretendiam saber. Itair Machado, então, retrucou. “É, eu sei, você é guiado pela rede social, é normal. E eu estou aqui para responder o que o torcedor quer saber. Mas eu sou guiado pela verdade, não pela rede social”.
Itair também se incomodou com questionamento feito pelo repórter Luiz Augusto Barros, do Superesportes, sobre autoavaliação do trabalho como dirigente. O debate foi levantado depois que entrevista do dirigente à reportagem, em 10 de novembro de 2018, viralizou nas redes sociais. Na ocasião, Itair ressaltou que “se não desse resultado”, teria “desconfiômetro” e “pediria para sair”.
“Sobre a minha entrevista, não é surpresa vocês terem feito aquilo, replicar aquilo ali. Até porque, se você avaliar, meu trabalho não está ruim. Fui campeão mineiro, falando eu, porque você perguntou eu. Fui campeão mineiro, semifinal da Copa do Brasil e estamos mal no Brasileiro. E na Libertadores nós demos azar no jogo contra o River. Você ser eliminado pelo River não quer dizer que houve incompetência. Não quer dizer. Acredito que meu trabalho será ruim se a gente não se recuperar no Brasileiro. Por isso não saí. Não saí porque acredito que meu trabalho está bom. Se você for olhar isso, nosso rival tem que demitir todo mundo. Tem dois anos que não ganha nada. Esse ano, ganhamos o Mineiro em cima deles, eliminamos eles na Copa do Brasil, foram eliminados na Sul-Americana, então lá todo mundo tem que ser demitido. No São Paulo tem que ser demitido. No Internacional tem que ser demitido. Se a avaliação do meu trabalho for ruim, não só eu quem tem que sair não. No futebol brasileiro, vários têm que sair. No Flamengo, vocês não se classificaram na Libertadores (na verdade, Copa do Brasil). Hoje para mim é o melhor time, inclusive mundial. Se pegar dez clubes hoje, eu colocaria nos dez clubes mundiais que estão bem. Mas não está ganhando tudo”.
Federação Mineira de Futebol
Na comemoração do título mineiro de 2018, em entrevista à TV Alterosa, Itair Machado disparou críticas contra a Federação Mineira de Futebol por supostamente beneficiar o Atlético em suas decisões (assista ao vídeo abaixo).
Em 24 de janeiro de 2019, mais uma polêmica, desta vez pelo fato de a FMF não ter intermediado para que o clássico contra o Atlético, na primeira fase do Campeonato Mineiro, fosse realizado com torcida meio a meio no Mineirão.
“Por que a Federação não entrou no meio? Porque a Federação Mineira não intermediou (o contato entre os clubes para clássico com torcida meio a meio)? E a partir deste momento o Cruzeiro está rompido com a Federação Mineira. Inclusive, vamos estudar juridicamente, já começamos a fazer isso hoje (quinta-feira), para pedir a anulação da eleição do Adriano Aro, porque entendemos que foi ilegal. O Cruzeiro vai entrar na Justiça pedindo anulação. Tudo que se briga na Federação e na CBF, por ter esse vice-presidente (Castellar Neto) lá, o Cruzeiro perde”, reclamou Itair, deixando claro o rompimento de relações entre o clube celeste e a entidade responsável pelo futebol mineiro.
Descumprimento de norma judicial
Justamente por causa das declarações contra a FMF, Itair Machado foi suspenso por 15 dias pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais no fim de abril. O dirigente, contudo, desrespeitou a determinação do órgão e compareceu às dependências do Mineirão em 1º de maio para acompanhar a vitória do do Cruzeiro sobre o Ceará, por 1 a 0, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro.
Suspensão pelo STJD
Como punição pelo descumprimento judicial, Itair Machado foi multado em R$ 10 mil pelo Tribunal Pleno do STJD e suspenso por 90 dias. Procurador-geral do órgão, Felipe Bevilacqua definiu o dirigente cruzeirense como “homem polêmico”.
“Processo muito simples. Figura conhecida no meio esportivo. Sou sempre bombardeado com tudo que ocorre no futebol diariamente. Caso que se assemelha muito ao Petraglia que causa sempre polêmica com muitas declarações inapropriadas. Acho que a proporção da pena foi razoável por Itair ser primário. A condenação se faz necessária para que possamos aplicar novas penas nos casos mais graves que virão”.
Em 12 de setembro, o STJD aceitou o pedido de reconsideração do Cruzeiro e converteu o gancho aplicado a Itair Machado em multa de R$ 74 mil, sendo R$ 37 mil à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o restante dividido entre três instituições: R$ 18,5 mil vão para a creche escola Arco-Íris, de Belo Horizonte; R$ 10 mil para a Instituição Casa do Caminho, de Araguari-MG; e R$ 8,5 mil para o Instituto Veras, do Rio de Janeiro.
Na semana anterior, Itair Machado havia saído vitorioso na Justiça Comum ao derrubar, por meio de um agravo, decisão que o impedia de ocupar o cargo de vice-presidente de futebol do Cruzeiro. A ação foi movida por um grupo de conselheiros e associados do clube.
Itair Machado em sessão no STJD (Foto: Daniela Lameira/STJD)
ESTRUTURA DE PODER
Carta branca dada por Wagner Pires
Nos bastidores do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá era tratado como ‘Rainha da Inglaterra’, já que, efetivamente, Itair Machado tomava as decisões no clube.
Em 4 de junho, o Superesportes publicou organograma da administração do Cruzeiro, no qual constavam os nomes de 27 profissionais com cargos diretivos ou relevantes nos departamentos de futebol, marketing, comercial e nas sedes sociais. Posteriormente, alguns profissionais foram desligados do clube, como o ex-diretor de marketing Leandro Freitas e a ex-gerente de eventos Paula Trindade.
Estrutura de poder do Cruzeiro em junho de 2019 (Foto: Soraia Piva/Arte/Superesportes)
1 - Irmão da esposa de Itair. É a pessoa mais próxima do vice em toda estrutura.
2 - Principal homem de confiança de Itair na Sede Administrativa do Cruzeiro.
3 - Braço direito de Wagner Pires de Sá na Sede Administrativa.
4 - Principal articulador político de Itair Machado no Conselho Deliberativo. É fundamental para manter os associados sob controle.
5 - Assim como Gaúcho, tem responsabilidade na articulação política no Conselho.
6 - Velho conhecido de Itair desde os tempos de Ipatinga, Amarildo controla as categorias de base.
7 - Mulher de Wagner Pires de Sá. Comanda o Instituto 5 Estrelas e tem poder para tomar decisões em diversos departamentos na Sede Administrativa
8 - Uma espécie de chefe de gabinete de Zezé Perrella no Conselho Deliberativo. Não é secretário (há outra funcionária com esse cargo), mas, sim, principal interlocutor.
9 - Ex-candidato a vice-presidente na chapa de Sérgio Rodrigues, Miranda é o principal elo entre Zezé e Wagner Pires de Sá.
10 - Filho de Wagner Pires de Sá. Embora esteja lotado na Toca I, tem olhos atentos na Sede Administrativa.
11 - Apoiou Sérgio Rodrigues na eleição presidencial, mas ganhou espaço e confiança de Itair Machado.
12 - Filho do ex-presidente do Conselho Deliberativo, Wilmer Santa Luzia. Ganhou espaço após participação ativa do pai na campanha de Wagner.
13 - O ex-preparador físico do profissional é mais ligado ao vice-presidente Hermínio Lemos, que é seu tio.
14 - Advogado, foi um dos primeiros nomeados por Itair para as categorias de base.
15 - Nora do ex-presidente do Conselho, João Carlos Gontijo Amorim, ficou próxima da cúpula de Itair na Sede Administrativa mesmo após apoiar Sérgio Rodrigues na campanha presidencial.
16 - Está lotado no departamento de eventos. É braço de direito de Paulinho Céu Azul
17 - Homem de confiança do vice-presidente Hermínio Lemos.
18 - Filho de Zezé Perrella, é o elo de Itair Machado com o presidente do Conselho.
19 - Conselheiro, próximo ao vice-presidente Hermínio Lemos.
20 - Conselheiro próximo de Itair. Pai de Hudsinho, funcionário da Nike.
21 - Participou ativamente da campanha de Sérgio Santos Rodrigues por ser próximo de Zezé e Gustavo Perrella. Com o tempo, adquiriu confiança de Itair e Wagner.
22 - No clube há mais tempo, ganhou prestígio com a eleição de Wagner. É próxima de Marina, esposa de Itair Machado.
23 - Ex-integrante da torcida Geral Celeste e muito próximo de Leandro Freitas.
24 - Muito próximo de Fabrício Visacro e Leandro Freitas.
25 - Ex-funcionário da Federação Mineira de Futebol.
26 - Filha de Hissa Elias Moyses, diretor do braço esportivo do Banco BMG.
27 - Pessoa de confiança de Ana Flávia Nazaré, gerente de marketing.
“O que errou ou não errou, é muito relativo. A parte administrativa do Cruzeiro, se errou ou não errou, não diz respeito a mim. Sei que eu entrei no Cruzeiro, ganhei três títulos e batalhei para manter os salários em dia. Pegamos um Cruzeiro com seis meses de imagem e três meses na carteira atrasados. Naquele momento, os jogadores estavam cogitando não se reapresentar em janeiro. O que eu sei é que fiz meu trabalho, reformulei a Toca toda com muita luta, com alguns amigos ajudando financeiramente. E o nosso departamento de futebol, que eu tomo conta, está no caminho. Fui muito prejudicado aqui no Cruzeiro por querer defender o Cruzeiro em todas as áreas. Desde o início, quando assumi o Cruzeiro, quis defender em todas as áreas. Na minha conversa com o presidente há um mês, disse que não vou mais entrar em outra área”.
Internamente, Itair Machado tinha relação estremecida com o ex-diretor-geral Sérgio Nonato, também homem de confiança de Wagner Pires. Em várias entrevistas, Serginho, como é conhecido, negou ter participado de ilicitudes e garantiu que ele e o presidente Wagner Pires de Sá apoiavam as investigações do Ministério Público e das Polícias Civil e Federal.Além disso, Nonato enfatizava com frequência que sua atribuição no Cruzeiro era fora do futebol.
Sérgio Nonato se isentou de irregularidades no Cruzeiro ao afirmar que não fazia parte do departamento de futebol (Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
A Lei Pelé e o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbem negociações envolvendo crianças. O primeiro contrato profissional só pode ser assinado por atletas aos 16 anos.
Em entrevista coletiva na Toca da Raposa II no dia 27 de maio, o presidente Wagner Pires de Sá e o vice de futebol Itair Machado alegaram que fizeram uma “cesta” de percentuais de atletas para quitar o empréstimo com Cristiano Richard um mês depois (3 de abril de 2018). Segundo eles, a intenção era evitar que o débito de R$ 2 milhões aparecesse no balanço financeiro fechado naquele mesmo mês.
“O Cruzeiro jamais venderia e nem empresário é burro de comprar menino de 12 anos. Ele entrou em cesta de garantia para empréstimo. Fez empréstimo por necessidade. O Cruzeiro não diminuiu o patrimônio, não vendeu, e não houve desonestidade (...) Juridicamente, o que vale o contrato de hoje. O Cruzeiro vai pagar em 8 parcelas de R$ 195 mil”, disse Itair Machado na ocasião.
Quatro meses depois, Itair voltou a considerar normal a inclusão de Estêvão William como garantia de pagamento de dívida, já que o nome do garoto estava registrado no Boletim Informativo Diário da CBF, sistema no qual ficam registrados vínculos de atletas.
“A matéria que saiu no Fantástico, quem entende de futebol - e todos aqui entendem - sabe que aquilo ali não é nada. Todos os clubes pegam dinheiro emprestados e dão jogadores como garantia. O menino de 12 anos que está lá, ele está no BID. Ninguém teve a preocupação de ir à Federação e olhar se o jogador está no BID. Hoje pode, está no BID”.
A comissão de sindicância designada por Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, para avaliar as contas do clube atestou inconsistências em oito pontos dos documentos de 2018. Uma delas é a intermediação de mais de um agente para a negociação do mesmo atleta. O grupo informou que foram gastos R$ 23.693.800,50 com intermediários na temporada passada.
O empresário Carlinhos Sabiá, muito próximo de Itair Machado, recebeu R$ 800 mil de comissão na venda do lateral-direito Mayke ao Palmeiras. O detalhe é que agente e jogador não trabalham juntos. Já como representante do volante Bruno Silva, adquirido ao Botafogo, Sabiá faturou R$ 1,1 milhão.
Pagamento a torcidas organizadas
A TV Globo revelou também que o Cruzeiro havia feito contratos com duas organizadas: Máfia Azul e China Azul. Em nota enviada à TV, o clube celeste justificou os “investimentos” como “ações de marketing ou comerciais” e “exposições de mídia em propriedades comerciais” das torcidas.
A Máfia Azul recebeu R$ 88 mil em 2018 e tinha acordo para ganhar R$ 8 mil mensais até dezembro de 2020. Já a China Azul faturaria R$ 6 mil por mês.
Máfia Azul recebeu R$88 mil do Cruzeiro em 2018 (Foto: Arquivo/Estado de Minas)
Na coletiva de 27 de maio, Itair justificou tais pagamentos:
“Esse outro tema eu tenho facilidade de falar, porque foi ideia minha. O Cruzeiro, na gestão passada, não só na passada, sempre teve muita briga entre as torcidas organizadas. Quando veio o projeto da TV Máfia Azul, o Cruzeiro fez um contrato de publicidade, analisado pelo departamento comercial e marketing, que seria uma boa o Cruzeiro apoiar o projeto. Ele é o foco alvo nosso. Vocês da imprensa não têm o Cruzeiro como foco. A TV Máfia Azul tem o Cruzeiro como foco e ela tem dado muita audiência para o Cruzeiro. O retorno é satisfatório. Sobre China Azul, é a mesma coisa. O Cruzeiro tem um trabalho social e o contrato não é com a torcida, é com uma pessoa física. Tem um trabalho social muito grande onde, lá, é situada a sede da torcida. Dentro disso tudo, o Cruzeiro pactuou com as torcidas que teria que ser obrigatório pactuar as brigas nos estádios. Se vocês pesquisarem na internet, na nossa gestão, depois disso, não houve violência no estádio”. Em episódio recente, integrantes da Máfia Azul invadiram a Toca da Raposa II para cobrar de jogadores e dirigentes reação no Campeonato Brasileiro (relembre aqui).
Afastamento e batalha judicial
A crise administrativa e política gerou grande desgaste interno no Cruzeiro. O próprio técnico Mano Menezes, que saiu do clube em 7 de agosto e hoje comanda o Palmeiras, admitiu que o desempenho técnico foi prejudicado pela turbulência fora de campo.
“Tenho certeza absoluta que a parte de fora interfere muito na condução do nosso trabalho. Na medida em que o ambiente não consegue ser mais aquele, que os jogadores não têm segurança financeira, que a estrutura passa a não ser mais tão boa, tudo isso influencia e tira a tranquilidade de o técnico conduzir o trabalho”, disse Mano, em entrevista ao ex-treinador e atual comentarista do SporTV, Muricy Ramalho.
Depois do dia 26 de maio, o Cruzeiro jogou 25 partidas: ganhou três, empatou 12 e perdeu 10.
A partir daquele momento, a diretoria enfrentou problemas para pagar salários. Houve até mesmo atrasos nas remunerações de funcionários.
A torcida, então, começou a protestar. Primeiro, com faixas instaladas em pontos específicos do Barro Preto. Depois, com fogos de artifício na casa dos três principais alvos: Wagner Pires, Itair Machado e Sérgio Nonato.
Além disso, grupo de conselheiros e sócios do Cruzeiro entrou com processo na Justiça solicitando o afastamento de Itair da vice-presidência de futebol. O dirigente chegou a recorrer dos processos, porém, em 10 de julho, cumpriu a decisão judicial.
Conselheiros influentes no Cruzeiro, então, passaram a exercer pressão para que Wagner Pires de Sá demitisse o cartola. Um deles era Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo e agora gestor de futebol celeste.
Com Abel, o Cruzeiro ainda não conseguiu vencer. Na estreia do técnico, o time perdeu para o Goiás, por 1 a 0, no Serra Dourada, em Goiânia. Em seguida, empatou dois jogos no Mineirão, com Internacional (1 a 1) e Fluminense (0 a 0). Nesta última partida, em 9 de outubro, torcedores celestes protestaram de maneira enérgica contra a atual diretoria e seus apoiadores na saída dos camarotes do estádio. Houve princípio de confusão.
Na entrevista coletiva concedida nessa sexta-feira (clique no link para ler a íntegra), Zezé criticou o modelo de administração de Itair Machado, ressaltou que está em busca de parceiros para quitar os salários de agosto e setembro e demonstrou confiança nas capacidades do Cruzeiro de sair da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro (atualmente em 18º lugar, com 21 pontos em 24 rodadas.
