Ainda que temporária, a presença de Zezé Perrella no comando do futebol do Cruzeiro, anunciada nesta quinta-feira, deve impedir que ele ocupe simultaneamente o cargo de presidente do Conselho Deliberativo. Embora o Estatuto do clube não faça referência a esse acúmulo de funções claramente, os dois cargos são incompatíveis eticamente.
O cargo de Zezé Perrella no futebol, ainda indefinido, pertence à área executiva do clube. Já o presidente do Conselho Deliberativo, função para a qual ele foi eleito no fim de 2017, tem a missão justamente de fiscalizar as contas de todas as diretorias.
O inciso V do Art. 20 do Estatuto do Cruzeiro diz que uma das competências do Conselho Deliberativo é “aprovar as contas da Diretoria”.
Baseado nessa incompatibilidade ética, Zezé Perrella poderia se licenciar ou ser substituído temporariamente na presidência do Conselho Deliberativo pelo seu vice, José Dalai Rocha.
Remuneração
Enquanto presidente do Conselho Deliberativo, Perrella não tem direito a remuneração, como prevê o parágrafo segundo do Art. 19 do Estatuto do Cruzeiro. “É vedada a remuneração dos membros da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo e de Conselheiro do Cruzeiro Esporte Clube”.
Por outro lado, ocupantes de funções executivas no futebol são, historicamente, remunerados. Ao assumir o comando do departamento, Perrella ainda não informou se o fará de forma voluntária, sem qualquer contrapartida financeira.
Itair Machado, que perdeu o cargo de vice-presidente de futebol nesta quinta-feira
, tinha um salário R$ 180 mil, conforme foi revelado por Wagner Pires de Sá. Ele ainda recebia premiações por eventuais títulos. Recentemente, Perrella determinou que conselheiros remunerados pelo Cruzeiro perdessem o direito a voto em decisões do Conselho Deliberativo. A medida foi tomada após as denúncias feitas pelo Fantástico, da TV Globo, em maio, de que a gestão de Wagner Pires de Sá mantinha um elevado número de conselheiros com cargos remunerados ou com contratos de prestação de serviço vigentes.