Capitaneada pelo presidente Wagner Pires de Sá, a diretoria do Cruzeiro prepara ação na Justiça para tentar impedir a realização da reunião do Conselho Deliberativo marcada para as 19h do próximo dia 21, no auditório do Dayrell Hotel, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
A convocação será feita nesta quinta-feira por meio de edital assinado por Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro. O objetivo é votar um possível afastamento de Pires de Sá e de seus vices, Hermínio Lemos e Ronaldo Granata, além da instauração de um Comitê Gestor.
A informação foi divulgada inicialmente pelo Yahoo Esportes e confirmada pelo Superesportes. Os principais argumentos da diretoria celeste são que não há "instrução processual", "direito da ampla defesa" e outros pontos considerados importantes num rito de afastamento presidencial. O grupo não crê que a Justiça vá autorizar, sequer, a realização da reunião.
Já os opositores entendem que o Estatuto do Cruzeiro dá respaldo para realização da reunião para o afastamento de Wagner. Esse seria, na opinião deles, o primeiro passo do rito. "Não tem como averiguar nada antes do afastamento, porque eles sonegam, inclusive, os documentos", alegou um representante à reportagem.
No edital, divulgado nesta quarta, Perrella usa como justificativa para pedir a saída de Wagner os incisos III e IV do artigo 30 do Estatuto do Cruzeiro, que trata do afastamento de membros da direção executiva.
No edital, divulgado nesta quarta, Perrella usa como justificativa para pedir a saída de Wagner os incisos III e IV do artigo 30 do Estatuto do Cruzeiro, que trata do afastamento de membros da direção executiva.
Como não há qualquer especificação sobre quórum qualificado, os conselheiros entendem que a votação será vencida por quem tiver a metade mais um dos votos. De acordo com o presidente do Conselho Deliberativo, o pleito será todo aberto.
Ainda segundo a convocação, “os Conselheiros que recebem remuneração do Cruzeiro Esporte Clube, sob qualquer modalidade de contratação (CLT, RPA, Pessoa Jurídica), terão os votos registrados e computados separadamente”. Logo, serão computados nessas deliberações apenas os votos de conselheiros que não mantém relação trabalhista e comercial com o Cruzeiro.
Mesmo que o resultado da votação do dia 21 seja pelo afastamento de Wagner, ele não deixará de ser presidente do Cruzeiro. O mandatário será apenas afastado de suas funções por período determinado e decidido antes do início da votação. Destituição ou impedimento de Pires de Sá exigiria dois terços dos votos.
O Cruzeiro foi procurado e enviou a seguinte resposta à reportagem: "O departamento jurídico acha por bem somente se manifestar se houver a publicação oficial da convocação do Conselho Deliberativo, o que até o momento não aconteceu", disse, por meio de nota.
Itair, Sérgio Nonato e demais diretores
Embora o edital não cite os afastamentos do vice-presidente de futebol Itair Machado, do diretor-geral Sérgio Nonato e de outros integrantes da diretoria executiva, o futuro deles estaria nas mãos do Comitê Gestor caso Wagner seja mesmo retirado temporariamente do cargo. O novo órgão teria, por exemplo, autonomia para demiti-los.
A estratégia para tentar afastar Wagner Pires de Sá foi definida na última segunda-feira, em apresentação para cerca de 80 conselheiros. Segundo apurou a reportagem, nenhum dos convidados pôde fotografar ou realizar gravações durante o encontro.
Crise institucional
O afastamento de Wagner Pires de Sá é pauta da oposição do Cruzeiro desde maio, quando o programa Fantástico, da TV Globo, divulgou uma série de denúncias contra a diretoria do clube baseadas em investigações da Polícia Civil. Dirigentes da atual gestão são suspeitos de cometer crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsificação de documentos. Paralelamente, a instituição também é investigada pelo Ministério Público.
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O Cruzeiro ainda é suspeito de quebrar regras da Fifa e da Confederação Brasileira de Futebol na transferência de jogadores.
Na gestão de Wagner Pires de Sá, o Cruzeiro aumentou sua dívida, antecipou receitas da TV Globo até 2022 e passou a atrasar os salários não só de atletas, mas de funcionários das áreas administrativas, das Tocas da Raposa I e II e dos clubes sociais. Ironicamente, diretores, gerentes e outros colaboradores com cargos de coordenação tiveram aumento substancial dos seus salários neste mandato.
Em campo, o time corre risco de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Sem previsão de receitas extras para 2020, o clube tende a entrar num longo período de austeridade, ainda que confirme sua permanência na elite nacional.