“Eu lembro do gol e lembro que tinha vindo para cá após me recuperar. Como era bom jogar naquele Cruzeiro. Luiz Antônio (goleiro), Nelinho, eu, o quarto zagueiro não me lembro. Tinha Joãozinho, Eudes, o time era legal. Sei que no Mineirão, a gente combinava de revezar Nelinho e eu. Eu saía, Nelinho vinha para dentro”.
O companheiro de zaga de Abel era Zezinho Figueroa, morto em 1986, aos 33 anos, após sofrer mal-súbito em treino na Inter de Limeira.
Abel também contou um episódio em que se envolveu em confusão com um atleta adversário. Segundo ele, a troca de agressões lhe causou lesão no joelho.
“Teve um jogo no Mineirão, que estava 0 a 0, o cara me deu uma porrada no joelho que não estava 100%, aí eu levantei e dei nele uma porrada e fui expulso”.
Zagueiro vigoroso, de 1,87m, Abel tinha grande qualidade na bola aérea - Foto: Celson Birro/Estado de Minas
Bem-humorado, o treinador disse que a cirurgia realizada por Ronaldo Nazaré, ortopedista do Cruzeiro por mais de duas décadas, não lhe proporcionou plena recuperação.
“Depois, tive de fazer uma cirurgia. Ronaldo Nazaré que fez a cirurgia. Depois vou ter uma conversa com meu amigo Benecy (Queiroz, supervisor administrativo do Cruzeiro e funcionário do clube desde os anos de 1970). Eu sofro com esse joelho até hoje, não ficou legal não”.
Abel salvou Cruzeiro do rebaixamento?
Em junho de 1981, Abel foi comprado pelo Cruzeiro ao Paris Saint-Germain, da França, por US$ 100 mil, equivalente a 12 milhões de cruzeiros. Corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o zagueiro custaria, hoje, 1,048 milhão de reais. O valor acabou não sendo pago pela diretoria celeste, que repassou o defensor ao Botafogo, em agosto de 1982, com a promessa de não ter responsabilidade sobre a dívida.
Zagueiro de muita força e elevada estatura - 1,87m -, Abel constantemente subia ao ataque para cabecear. Nessa jogada, ele marcou três gols em 29 partidas pelo Cruzeiro. O mais importante foi justamente o da vitória sobre a Desportiva-ES, por 1 a 0, no Mineirão, em 24 de fevereiro de 1982, pelo Campeonato Brasileiro.
Abelão socorre Carlinhos Sabiá e o carrega para fora de campo após lesão - Foto: Arquivo Estado de Minas
Denominado Taça de Ouro, o Brasileiro de 1982 tinha regulamento complicado. Inicialmente, 40 clubes eram divididos em oito grupos de cinco. Os três primeiros avançaram à segunda fase. Os quatro colocados participavam de repescagem, enquanto o lanterna iria para a Taça de Prata, equivalente à segunda divisão.
Com três vitórias e cinco derrotas, o Cruzeiro foi quarto do Grupo E, ficando abaixo de Bahia, Operário-MS e Bahia, e acima do Mixto-MT. Logo, precisou enfrentar a Desportiva (4ª do Grupo F) na repescagem. Após cruzamento de Jésum, Abelão cabeceou firme e fez o único gol no Mineirão, aos 11min do primeiro tempo.
A vitória garantiu ao Cruzeiro a classificação à segunda fase e mandou a Desportiva para a Taça de Prata. O gol de Abel teve importância para dar mais tranquilidade ao time, que, na prática, jogava por um empate por ter feito melhor campanha na primeira fase.
Posteriormente, a Raposa foi eliminada no Grupo P do Brasileiro, ao ficar em terceiro lugar, com duas vitórias, um empate e três derrotas. Classificaram-se ao mata-mata Fluminense e Anapolina. O Moto Clube, do Maranhão, ficou em último na chave. No fim, o Flamengo se sagrou campeão brasileiro em 1982.
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