Anunciado nesta sexta-feira como novo técnico do Cruzeiro, Abel Braga teve uma passagem curta e conturbada pela Raposa como jogador. Contratado ao Paris Saint-Germain em junho de 1981, o zagueiro ficou 100 dias parado por causa de lesão no joelho, envolveu-se em uma briga com o técnico Yustrich e foi negociado ao Botafogo em agosto de 1982. A saída da Toca se deu após uma queda de braço entre PSG e Cruzeiro, que não pagou o valor combinado pela liberação do zagueiro, de 29 anos.
"Quando Abel veio para o Cruzeiro, o clube decidiu que pagaria os 12 milhões de cruzeiros correspondentes ao preço exigido, mas acabou não acertando. O PSG chegou a reclamar, e Abel várias vezes teve de interferir. Depois, a CBF se comprometeu a fazer o certo com o clube francês e cobrar do Cruzeiro, mas nada disso aconteceu", destacava o Estado de Minas de 6/8/1982, que contava os detalhes da saída do jogador para o Botafogo. "Agora, no acerto do Cruzeiro com o Botafogo, Felício Brandi concordou em ceder Abel, desde que o clube carioca assumisse a dívida com o Paris Saint-Germain sem qualquer restrição. O acordo foi feito na noite de anteontem, em contato telefônicos entre Felício Brandi e Luiz Fernando Maia, vice do Botafogo", continua a reportagem.
Revelado pelo Fluminense, Abel havia se transferido para o futebol francês em 1979, depois de passagem vitoriosa pelo Vasco. Em 1981, o zagueiro voltou ao Brasil para defender um Cruzeiro em transição. "O Cruzeiro já considera Abel como novo contratado. O presidente Felício Brandi, muito eufórico, anunciou ontem que tudo está acertado com o zagueiro central e com o Paris Saint Germain, que concordou em permitir sua saída da França, faltando um ano ainda de contrato”, contava o Estado de Minas de 12/6/1981.
Abel disputou 29 jogos e marcou três gols com a camisa do Cruzeiro. O mais importante deles foi marcado contra a Desportiva-ES, que garantiu a Raposa na segunda fase da Taça Ouro. O gol de cabeça, aos 11min do segundo tempo, deu ao Cruzeiro a 32ª e última vaga na fase seguinte do torneio nacional.
Briga com Yustrich
Mas foi, justamente, o ímpeto ofensivo de Abel que fez desencadear uma crise na Toca da Raposa. Conhecido pelo temperamento explosivo, o técnico Yustrich não gostava que o zagueiro avançasse muito e resolveu mantê-lo fora do time mesmo depois de se recuperar de lesão.
“Tudo começou depois de Abel ter sofrido uma contusão e ter ficado mais de 100 dias parado. Em sua volta, ele jogou com o Democrata e até marcou um gol de cabeça. Depois do jogo, Yustrich reclamou de seus avanços dizendo que zagueiro deve defender. Houve alguma discussão e Abel reclamou de uma tendinite, tendo de ser afastado”, destacava o Estado de Minas de 4/8/1982, na matéria "Cruzeiro não libera insatisfeito Abel". "Na véspera do jogo de Uberlândia, quando o Cruzeiro empatou em 0 a 0, ele estava em boas condições, mas não foi escalado e ficou em BH. Nos jogos seguintes, Abel ficou de fora e não concordou nunca em ficar na reserva. Agora a situação chegou ao ponto de Abel querer ir embora."
Saída do Cruzeiro
Felício Brandi e o diretor Zezé Fonseca até acreditavam ser possível contornar a situação, mas a situação entre Abel e Yustrich não melhorou. "Não quero ser busto na piscina e nem virar estátua. Quero jogar, porque sou o melhor", chegou a disparar Abel.
Dias depois, Abel se transferia para o Botafogo. A mudança agradava a todos os lados, já que Abel manifestava o desejo de sair do Cruzeiro, e o alvinegro havia se comprometido a pagar a dívida com o clube francês.
O zagueiro defenderia o Botafogo até 1984. No ano seguinte, encerrou a carreira defendendo o Goytacaz, de Campo dos Goitacazes-RJ, onde teve a primeira experiência como treinador.