Ceni foi contratado em 11 de agosto pelo Cruzeiro, quatro dias depois da saída de Mano Menezes. Em sua primeira entrevista, no dia 13, o treinador classificou o momento na carreira como “mágico” e prometeu brigar também pelo título da Copa do Brasil - o time havia perdido para o Internacional por 1 a 0, no Mineirão, pelo jogo de ida, no Mineirão.
Os sete pontos somados em nove jogos no Brasileiro deram ao Cruzeiro confiança para encarar o Internacional, no Beira-Rio, em Porto Alegre, pela partida de volta da semifinal da Copa do Brasil.
Ceni sabia que não poderia contar com Orejuela, convocado para a Seleção da Colômbia. A opção natural para a lateral direita seria Edilson. O treinador, no entanto, optou por improvisar o volante Jadson.
Conforme apurado pela reportagem, Rogério tomou, sim, a decisão de escalar Jadson de última hora, além de, na véspera da semifinal, ter comandado um rachão, em vez de uma atividade tática.
Outro caso gerou mal-estar diante do Inter. Com torção no tornozelo direito, Dedé precisou ser substituído no intervalo. Inicialmente, quem entraria era Leo - imagens de televisão captam Rogério conversando com o zagueiro -, mas, repentinamente, Ariel Cabral foi chamado.
O ruído entre Rogério Ceni e Thiago Neves repercutiu na diretoria, que sugeriu aos dois uma reunião para aparar as arestas. O jogador pediu desculpas ao técnico, porém o clima nunca mais foi o mesmo.
Os episódios de Rogério Ceni com Thiago Neves e Edilson aumentaram sua rejeição no grupo. Se no início o clima era difícil apenas com o meia e o lateral, em dado momento o treinador passou a incomodar grande parte do elenco. O perfil era misto: de jovens a medalhões, de titulares a reservas.
Protestos da torcida
Torcida Máfia Azul esteve em frente à Toca da Raposa II para protestar (Foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press)
Por três dias consecutivos, a torcida Máfia Azul protestou contra o desempenho ruim do Cruzeiro em campo e o trabalho de dirigentes. Membros da organizada levaram à Toca da Raposa litros de cachaça e faixas pedindo a saída de vários jogadores. Curiosamente, Rogério Ceni não foi alvo das críticas. Pelo contrário, até recebeu apoio dos cruzeirenses.
Nesse encontro, segundo fontes ouvidas pela reportagem, os jogadores relataram aos torcedores discordâncias com relação ao modus operandi de Rogério no clube.
Incômodos
Entre os principais questionamentos dos atletas estava a divulgação do time a poucas horas dos confrontos, já que o técnico ensaiava muitas variações nas atividades fechadas para a imprensa.
Houve ainda discordâncias com relação à maneira de enxergar características individuais. Visto por Rogério com capacidade para ser volante, Robinho é considerado por Henrique um meia. O camisa 8 ressaltou a preferência por ter a seu lado um atleta de ofício da função, como é o caso de Éderson, titular em três jogos consecutivos.
Como de praxe, o técnico demorou a se dirigir para a entrevista coletiva por acompanhar o compacto da partida e colher informações sobre as estatísticas (posse de bola, finalizações, desarmes, cruzamentos, etc.).
Depois da entrevista, na qual exaltou o poder de criação do Cruzeiro, Rogério retornou ao vestiário. Num primeiro instante, deu apoio aos atletas, abordou aspectos positivos e negativos e transmitiu mensagem motivadora.
Dedé, então, pediu a palavra para reforçar a união do elenco e a valorização de atletas jovens e experientes. Assim que o nome de Thiago Neves foi mencionado, Rogério promoveu um clima constrangedor ao sair do vestiário e caminhar para o ônibus sem terminar de ouvir o zagueiro.
Clima insustentável
A partir do episódio no Castelão, o clima para a continuidade de Rogério Ceni no Cruzeiro ficou insustentável. Líderes do elenco relataram a insatisfação à diretoria, que decidiu pela dispensa do comandante, bem como de seus dois assistentes, Charles Hembert e Nelson Simões, e do preparador físico, Danilo Augusto Silva.