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Cronologia do desgaste no Cruzeiro: entenda por que o técnico Rogério Ceni foi demitido

Contratado em 11 de agosto, técnico trabalhou por apenas 46 dias no clube

Rafael Arruda Bruno Furtado
Rogério Ceni comandou Cruzeiro pela última vez no empate com o Ceará - Foto: Pedro Chaves/Lightpress/Cruzeiro
Em 46 dias de trabalho no CruzeiroRogério Ceni concedeu coletiva empolgante na apresentação e saiu com a imagem bastante arranhada na despedida. Vários eventos explicam as razões para sua demissão, acertada na quinta-feira, na Toca da Raposa II. O Superesportes elencou pontos cruciais e mostra abaixo a cronologia do desgaste do técnico no clube celeste:

Arrancada inicial


Ceni foi contratado em 11 de agosto pelo Cruzeiro, quatro dias depois da saída de Mano Menezes. Em sua primeira entrevista, no dia 13, o treinador classificou o momento na carreira como “mágico” e prometeu brigar também pelo título da Copa do Brasil - o time havia perdido para o Internacional por 1 a 0, no Mineirão, pelo jogo de ida, no Mineirão.

O ex-goleiro do São Paulo começou bem no Cruzeiro. Na estreia, o time bateu o então líder Santos, por 2 a 0, no Mineirão. Na sequência, vencia o CSA por 1 a 0 até os acréscimos do segundo tempo, quando levou o gol de empate. Adiante, mais um triunfo, sobre o Vasco, por 1 a 0, no Mineirão.

Jogo contra o Internacional


Os sete pontos somados em nove jogos no Brasileiro deram ao Cruzeiro confiança para encarar o Internacional, no Beira-Rio, em Porto Alegre, pela partida de volta da semifinal da Copa do Brasil.

Ceni sabia que não poderia contar com Orejuela, convocado para a Seleção da Colômbia. A opção natural para a lateral direita seria Edilson.
O treinador, no entanto, optou por improvisar o volante Jadson.

A explicação foi que Edilson afirmou ao Globoesporte.com que gostaria de ter recebido mais minutos de jogo antes de disputar uma decisão tão importante. Rogério entendeu que o lateral-direito não se sentia confiante, e, portanto, recorreu a Jadson.

Time titular do Cruzeiro em jogo contra o Inter pela Copa do Brasil - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Ainda no campo, Thiago Neves reclamou das escolhas de Ceni e disse que os atletas só ficaram sabendo quem jogaria a menos de três horas de a bola rolar - fato negado pelo técnico.

Conforme apurado pela reportagem, Rogério tomou, sim, a decisão de escalar Jadson de última hora, além de, na véspera da semifinal, ter comandado um rachão, em vez de uma atividade tática.

Outro caso gerou mal-estar diante do Inter. Com torção no tornozelo direito, Dedé precisou ser substituído no intervalo. Inicialmente, quem entraria era Leo - imagens de televisão captam Rogério conversando com o zagueiro -, mas, repentinamente, Ariel Cabral foi chamado.

Cabral foi pego de surpresa, pois, até então, não havia sido utilizado por Rogério, que o considerava com características idênticas às de Henrique e reprovava a habitual parceria entre os dois. O argentino entrou no meio-campo, enquanto o camisa 8 foi recuado para a zaga. E o Cruzeiro, que perdia por 1 a 0, sofreu dois gols no segundo tempo e amargou eliminação com placar elástico: 3 a 0.

Arestas aparadas com Thiago Neves?


O ruído entre Rogério Ceni e Thiago Neves repercutiu na diretoria, que sugeriu aos dois uma reunião para aparar as arestas. O jogador pediu desculpas ao técnico, porém o clima nunca mais foi o mesmo.

Thiago Neves voltou a cutucar o treinador, de maneira indireta, depois da derrota para o Grêmio por 4 a 1, no Independência, dia 8 de setembro, pelo Campeonato Brasileiro. Por sua vez, Rogério argumentou que o camisa 10 ficou insatisfeito por ter visto um amigo, no caso Edilson, no banco de reservas.

Aumento da rejeição


Os episódios de Rogério Ceni com Thiago Neves e Edilson aumentaram sua rejeição no grupo. Se no início o clima era difícil apenas com o meia e o lateral, em dado momento o treinador passou a incomodar grande parte do elenco. O perfil era misto: de jovens a medalhões, de titulares a reservas.

Protestos da torcida


Torcida Máfia Azul esteve em frente à Toca da Raposa II para protestar - Foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press

Por três dias consecutivos, a torcida Máfia Azul protestou contra o desempenho ruim do Cruzeiro em campo e o trabalho de dirigentes. Membros da organizada levaram à Toca da Raposa litros de cachaça e faixas pedindo a saída de vários jogadores. Curiosamente, Rogério Ceni não foi alvo das críticas. Pelo contrário, até recebeu apoio dos cruzeirenses.

Na mesma ocasião, em 10 de setembro, o Cruzeiro recebeu, em seu centro de treinamento, representantes de outras quatro organizadas: Pavilhão Independente, China Azul, Geral Celeste e Torcida Jovem. Eles conversaram com Fábio, Rafael, Leo, Dedé e Henrique, jogadores mais longevos do elenco.

Nesse encontro, segundo fontes ouvidas pela reportagem, os jogadores relataram aos torcedores discordâncias com relação ao modus operandi de Rogério no clube.

Incômodos


Entre os principais questionamentos dos atletas estava a divulgação do time a poucas horas dos confrontos, já que o técnico ensaiava muitas variações nas atividades fechadas para a imprensa.

Os jogadores também não gostavam das habituais avaliações individuais de Rogério Ceni nas entrevistas coletivas.
Ele questionou, por exemplo, o aproveitamento baixo de Robinho nos passes no jogo contra o Internacional e a perda de velocidade com a entrada de Fred diante do Ceará.

Houve ainda discordâncias com relação à maneira de enxergar características individuais. Visto por Rogério com capacidade para ser volante, Robinho é considerado por Henrique um meia. O camisa 8 ressaltou a preferência por ter a seu lado um atleta de ofício da função, como é o caso de Éderson, titular em três jogos consecutivos.

Já Dedé se manifestou a respeito da insistência de Rogério Ceni em sempre querer sair jogando curto nos tiros de meta, sem chutão. Segundo o defensor, nem sempre é possível adotar tal estratégia, visto que os adversários costumam pressionar a saída de bola e fazer marcação alta.

Thiago Neves, Dedé e Rogério Ceni em atividade na Toca da Raposa II - Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Episódio no Castelão


O episódio que se tornou a gota d’água para Rogério Ceni ser desligado do Cruzeiro aconteceu depois do empate por 0 a 0 com o Ceará, quarta-feira, no Castelão, em Fortaleza.

Como de praxe, o técnico demorou a se dirigir para a entrevista coletiva por acompanhar o compacto da partida e colher informações sobre as estatísticas (posse de bola, finalizações, desarmes, cruzamentos, etc.).

Depois da entrevista, na qual exaltou o poder de criação do Cruzeiro, Rogério retornou ao vestiário. Num primeiro instante, deu apoio aos atletas, abordou aspectos positivos e negativos e transmitiu mensagem motivadora.

Dedé, então, pediu a palavra para reforçar a união do elenco e a valorização de atletas jovens e experientes. Assim que o nome de Thiago Neves foi mencionado, Rogério promoveu um clima constrangedor ao sair do vestiário e caminhar para o ônibus sem terminar de ouvir o zagueiro.

Clima insustentável


A partir do episódio no Castelão, o clima para a continuidade de Rogério Ceni no Cruzeiro ficou insustentável. Líderes do elenco relataram a insatisfação à diretoria, que decidiu pela dispensa do comandante, bem como de seus dois assistentes, Charles Hembert e Nelson Simões, e do preparador físico, Danilo Augusto Silva.

Números


Na breve passagem pelo Cruzeiro, Ceni obteve duas vitórias, dois empates e quatro derrotas, juntando-se à lista de técnicos que ficaram por pouco tempo na Toca. A direção espera anunciar o substituto nos próximos dias.

Enquanto isso, Ricardo Resende orientará o grupo e tem chance de ser o técnico contra o Goiás, segunda-feira, às 20h, no Serra Dourada. O jogo valerá pela 22ª rodada do Brasileiro, no qual a Raposa está na zona de rebaixamento, em 17º lugar, com 19 pontos.
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