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Cruzeiro demite Rogério Ceni após desgaste do técnico com jogadores

Treinador ficou apenas 46 dias no clube celeste

postado em 26/09/2019 18:20 / atualizado em 27/09/2019 04:42

<i>(Foto: Juarez Rodrigues / EM DA PRESS)</i>

A passagem do técnico Rogério Ceni pelo Cruzeiro durou exatos 46 dias. Contratado no dia 11 de agosto, ele deixa o comando da equipe nesta quinta-feira após desentendimento com os jogadores do elenco. Também saíram do clube os auxiliares Charles Hembert e Nelson Simões Júnior e o preparador físico Danilo Augusto da Silva.

O estopim dessa relação ocorreu após o empate entre Cruzeiro e Ceará (0 a 0), nessa quarta-feira, no Castelão, em Fortaleza. No vestiário, Dedé falou sobre a importância de Thiago Neves, questionando a ausência do meia no time. O posicionamento do defensor teve o apoio de outros atletas. Na partida, TN10 foi preterido e não entrou em campo. Rogério Ceni não gostou do que ouviu e saiu do vestiário. O episódio gerou forte crise que acabou resultando na demissão do treinador.

Substituto do técnico Mano Menezes, Ceni comandou o time celeste em oito partidas, com quatro derrotas, duas vitórias e dois empates. Ele começou de forma promissora, com duas vitórias e um empate. Depois, o time perdeu quatro vezes seguidas, sendo, inclusive, eliminado da Copa do Brasil com direito a goleada do Internacional por 3 a 0. Nessa quarta, a equipe interrompeu a sequência negativa com um empate com o Ceará.

Apoio da torcida


Um grupo de 15 torcedores recepcionou o elenco celeste no desembarque no aeroporto de Confins, nessa quinta-feira, com gritos de apoio a Rogério Ceni. O treinador fez um gesto positivo, cumprimentando os cruzeirenses e entrou no ônibus do clube. Mais tarde, ele se reuniu com a diretoria na Toca da Raposa II e foi demitido.


Em Confins, os torcedores pediram a saída de Thiago Neves, um dos pivôs do rompimento de parte do grupo com o técnico. “Ei, Thiago Neves, pede para sair!”. Vários jogadores deixaram o aeroporto em carros particulares, assim como o vice de futebol Itair Machado.

Itair, inclusive, foi duramente criticado pelos torcedores. Ele ouviu gritos de "safado" e "volta para o Ipatinga".

Início positivo


Rogério Ceni iniciou sua trajetória no Cruzeiro com bons resultados. A Raposa vinha de uma sequência de uma vitória em 18 jogos com o técnico Mano Menezes. Logo na estreia de Ceni, o time venceu o Santos por 2 a 0, no Mineirão. Depois, empatou com o CSA por 1 a 1, no Rei Pelé, em Maceió. Na sequência, bateu o Vasco, no Gigante da Pampulha, por 1 a 0.  O futebol não era brilhante, mas, enfim, o time voltava a somar pontos no Campeonato Brasileiro.

Desentendimentos

<i>(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)</i>

A primeira derrota também trouxe a público o descontentamento de um dos principais atletas do elenco. Thiago Neves expôs o treinador após a goleada sofrida pelo Internacional por 3 a 0, no Beira-Rio, pela semifinal da Copa do Brasil, no dia 4 de setembro. O armador disparou contra as mudanças promovidas pelo técnico Rogério Ceni na escalação do time.

Ceni improvisou Jadson na lateral direita, preterindo Edilson, substituto imediato de Orejuela, que estava com a Seleção Colombiana. Ainda na linha de defesa, optou por manter Fabrício Bruno, deixando Leo no banco de reservas. Na etapa final, ao perder Dedé, por lesão, o treinador chamou Ariel Cabral e deslocou Henrique para a defesa.

“É um jogo diferente, a gente precisou se adaptar. Na minha opinião, você mudar três ou quatro jogadores em uma decisão fora de casa é muita coisa, em um time que já vem formado. Improvisar jogadores é difícil, ainda mais jogadores que não vêm jogando. Ficou um pouco complicado, mas mesmo assim a gente conseguiu fazer um bom primeiro tempo. E aí o primeiro gol complicou”, disse o meia.

Thiago Neves também criticou a revelação da escalação para o elenco poucas horas antes da partida decisiva. “A gente ficou sabendo na preleção, sei lá, duas ou três horas antes do jogo. Na minha opinião, achei muito em cima da hora. Você improvisar três ou quatro jogadores numa linha que já vinha formada há dois anos. Nada contra, óbvio que queremos ganhar, jogadores que entraram jogaram bem, mas é muita coisa para um segundo jogo de semifinal”, complementou.

Resposta de Ceni


Ceni respondeu Thiago Neves na entrevista após a goleada sofrida pelo Grêmio, por 4  a 1, no Independência, no dia 8 de setembro.
Na opinião do treinador, o meia usou aquelas palavras pelo fato de Edilson, um de seus grandes amigos no elenco, ter ficado no banco de reservas.

“Não estamos aqui para crucificar o Thiago, algo assim. Muito pelo contrário, é um jogador que tem uma história no clube. Dentro de suas melhores condições e com a cabeça boa, é um jogador importante para a gente. Acredito muito que a declaração do Thiago foi porque viu um amigo no banco de reservas, que, no caso, foi o Edilson. Houve a improvisação do Jadson na lateral direita. De resto, se você pegar o time que jogou contra o Internacional, é o mesmo que jogou contra Vasco e CSA, todos conhecedores de sua posição”.

Na sequência da entrevista, Rogério foi categórico ao dizer que os jogadores já tinham conhecimento da opção por Jadson, diferentemente do alegado por Thiago Neves. O comandante cruzeirense esclareceu também a tomada de decisões por questões profissionais, e não baseado em amizades. Segundo ele, se não for desse jeito, precisa “passar a vez” a outro profissional.

“A escalação nunca é divulgada só três horas antes do jogo. Quero deixar isso bem claro. Mas tenho o maior respeito. E mais do que amigo ou emocional, sou profissional. Entendo o nervosismo na saída do jogo, é um momento difícil, você quer tentar uma explicação. Mas não temos um ou outro jogador culpado. Só tenho que, de alguma maneira como treinador, se for para ficar no Cruzeiro, preciso fazer alguma coisa diferente. Se não, preciso passar a vez a outra pessoa que tenha uma mentalidade diferente para continuar no Cruzeiro”.

Dedé cobrou confiança em veteranos


Em entrevista no dia 23 de setembro, Dedé destacou a história dos jogadores do elenco. Disse que muitos, como ele, Fábio, Rafael, Henrique, Leo e Egídio, foram bicampeões pelo clube em 2013 e 2014. Justamente por isso, o zagueiro afirmou que o clube precisava reerguer os veteranos mentalmente. Ele chegou a citar Edilson, um dos atletas preteridos por Rogério Ceni, como um dos melhores da posição no Brasil.

“Não posso perder um Thiago Neves, que deu um título para o Cruzeiro, um título não, que foi importante nos dois títulos da Copa do Brasil, fora os dois Mineiros. Não posso perder o Edilson, que, pra mim, é um dos melhores da posição. Não vive boa fase hoje, como ninguém no Cruzeiro vive boa fase. Mas, do grupo do Cruzeiro, da instituição, foi o cara mais próximo de ter ganhado a Libertadores, também foi campeão da Copa do Brasil e do Mineiro com a gente. (...) Não posso deixar de citar esses jogadores que são muito importantes, como Sassá”, frisou Dedé.

Alvos no mercado

<i>(Foto: Rodrigo Clemente / EM DA PRESS)</i>

Três nomes disponíveis no mercado agradam à diretoria do Cruzeiro - Dorival Júnior, Marcelo Oliveira e Abel Braga.

Dorival chegou a ser procurado pelo time estrelado em agosto deste ano, antes da contratação de Rogério Ceni. Em contato com o Superesportes nesta quinta-feira, o técnico disse que ainda não recebeu nenhum contato do Cruzeiro. Dorival está sem clube desde o final de 2018, quando encerrou seu contrato com o Flamengo.
Marcelo Oliveira também está desempregado desde de 2018. Seu último trabalho foi no Fluminense. Ele deixou as Laranjeiras após uma sequência de oito jogos sem vencer e sem marcar gols.

Ambos têm passagem pelo Cruzeiro. Dorival dirigiu a Raposa em 2007, e Marcelo comandou a equipe entre 2013 e 2014, levando o time celeste à conquista do bicampeonato brasileiro naqueles anos.

Outro nome na mira do Cruzeiro é Abel Braga, que também está livre no mercado desde maio deste ano, quando pediu demissão do Flamengo. Entretanto, após uma saída conturbada do Rubro-negro carioca, o técnico não estaria disposto a assumir nenhum clube neste momento.

Se o relacionamento com os jogadores mais experientes do time foi determinante para a instabilidade de Rogério Ceni, para 'Abelão' isso não deve ser um problema. O técnico tem bom relacionamento com Thiago Neves e Fred, com quem trabalhou no Fluminense em 2012, na campanha do título brasileiro do Tricolor.

Jogos de Ceni no Cruzeiro


Cruzeiro 2 x 0 Santos – Campeonato Brasileiro

CSA 1 x 1 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro

Cruzeiro 1 x 0 Vasco – Campeonato Brasileiro

Internacional 3 x 0 Cruzeiro – Copa do Brasil

Cruzeiro 1 x 4 Grêmio – Campeonato Brasileiro

Palmeiras 1 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro

Cruzeiro 1 x 2 Flamengo – Campeonato Brasileiro

Ceará 0 x 0 Cruzeiro – Campeonato Brasileiro


ANÁLISE DA NOTÍCIA
Por Álvaro Duarte

Sem direito a novos erros

O Cruzeiro segue rezando pela mesma cartilha dos grandes times que conheceram de perto a Segunda Divisão. A nova troca de treinador, depois de pouco mais de 40 dias, é prova disso. A situação do time na tabela é outra. A guerra política, a dívida colossal e as graves acusações feitas à cúpula do clube não deixam dúvidas. O episódio que culminou com a demissão de Rogério Ceni mostra a falta de comando e respeito à hierarquia. Até acho que o treinador cometeu equívocos e foi pouco hábil ao lidar com o vestiário. Mas ele tinha de ser cobrado pela diretoria que o contratou e o respaldou dias atrás, nunca pelos jogadores. Até porque, o grupo também não vem correspondendo em campo há um bom tempo, e a torcida sabe disso.
 
Se Rogério Ceni foi uma escolha errada por causa do seu perfil, a responsabilidade é dos dirigentes, que agora não têm o direito de cometer erros, sob pena de entrar para a história como a diretoria que levou o clube multicampeão à Série B. E isso vale também para os jogadores, que precisam ter a mesma audácia que tiveram para peitar o treinador e fazer uma autoanálise do desempenho deles em campo. 

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