A onda de protestos de torcedores da Máfia Azul contra jogadores, diretoria e conselheiros do Cruzeiro segue repercutindo na Toca da Raposa II. Em entrevista nesta quarta-feira, o zagueiro Leo, um dos líderes do elenco, negou a existência de atrito entre os jogadores.
“Nunca teve isso. Recentemente fomos campeões mineiros e pudemos chegar às semifinais da Copa do Brasil. Um elenco que praticamente tem os mesmos jogadores que foram campeões. Todos nós nos entendemos, nos damos bem, não tem elenco rachado, não tem nada. Não nos conformamos com essa situação e sabemos que é necessário dar algo mais para sair dessa situação”.
Nem mesmo os atrasos salariais, confirmados pelo diretor de futebol Marcelo Djian (parte do mês de julho e a totalidade de agosto), são motivos para alguma possibilidade de “corpo mole”.
“Vivemos um momento ruim dentro e fora de campo. Algumas questões que se especulam, várias dessas coisas acredito que sejam irrelevantes, no sentido de salário atrasado, briga de treinador. Todo mundo está envolvido e engajado para que as coisas deem certo. Sabemos do momento difícil que que vivemos hoje, mas a equipe hoje está totalmente incomodada com a situação, por tudo que o elenco já viveu aqui, de momentos de vitórias. Estamos incumbidos de reverter essa situação. Entendemos a insatisfação do torcedor, porque o Cruzeiro sempre briga na cabeça dos campeonatos. É uma situação delicada, mas temos condições de sair dessa situação com a força dos torcedores”, ressaltou o zagueiro.
Leo foi contratado pelo Cruzeiro em agosto de 2010. Desde então, ele viveu bons momentos, casos dos títulos consecutivos do Campeonato Brasileiro (2013 e 2014) e da Copa do Brasil (2017 e 2018), e fases difíceis, como a briga contra o rebaixamento na Série A de 2011 (16º, com 43 pontos). Segundo o camisa 3, o momento atual é “delicado e difícil”, mas “não o pior” no clube.
“Estou há quase dez anos no clube. Passei vários momentos vitoriosos, de títulos, e momentos difíceis também. Não digo que seja o pior momento, mas é um momento delicado, difícil. Estamos sentidos e revoltados também com essa situação. A gente entende o protesto do torcedor, que tem esse motivo de fazer esses protestos. Reconhecemos isso e sabemos que o torcedor vive o Cruzeiro 24 horas. Ele quer ver o Cruzeiro em cima brigando por vitórias e coisas grandes nos campeonatos. O que só ultrapassa o limite, que não vai ao encontro com o lado positivo, é o lado da violência. É um lado negativo e ruim. Nos momentos de dificuldade no Cruzeiro, só saímos juntos. O torcedor entendeu a situação delicada, abraçou a equipe e nos motivou a sair dessa situação”.
De acordo com Leo, houve conversa recente dos jogadores com o vice-presidente de futebol, Itair Machado, para discutir a crise no Cruzeiro. “Ontem a gente teve esse contato com ele. Estivemos com o Itair. O presidente quase sempre está aí também. Anteontem, acredito eu, ele estava aí. Sempre eles estão presentes”.
Além de ressaltar que a diretoria “está sempre presente”, Leo pediu o apoio dos cruzeirenses. “É o momento de nos unirmos. A diretoria se mostra presente, tem conversado, a gente conversa também com a comissão técnica. Temos buscado nos fortalecer juntos. Sei também da revolta do torcedor e entendo, mas precisamos unir forças. O torcedor precisa entender que a gente tem de sair dessa situação. E só vamos sair juntos: jogador, comissão técnica, direção e torcedores. Nos momentos cruciais do clube, o torcedor sempre fez a diferença. É um momento importante que o torcedor cruzeirense vai fazer diferença para que a gente consiga sair dessa situação juntos”.
A eliminação na semifinal da Copa do Brasil, com derrota por 3 a 0 para o Internacional, e o revés por 4 a 1 diante do Grêmio, pelo Campeonato Brasileiro, foram estopins para a revolta dos cruzeirenses. Na 16ª posição na Série A, com 16 pontos, o time celeste enfrentará o Palmeiras, terceiro colocado, com 36. O duelo acontecerá no sábado, às 19h, no Allianz Parque, em São Paulo.
Além da insatisfação com o mau rendimento do time em campo, há protestos contra a administração do presidente Wagner Pires de Sá, investigada pela Polícia Civil por suspeitas de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica, conforme revelado pelo programa Fantástico, da TV Globo, em 26 de maio. Desde então, o mandatário se furta a participar de entrevistas coletivas, dando preferência a notas oficiais e vídeos institucionais.
Leia outras respostas do zagueiro Leo
Sentimento dos jogadores mais antigos do clube
“Tanto Fábio quanto Henrique, Dedé, Rafael e eu vivemos várias situações aqui no clube. São situações boas e ruins, mas que conseguimos sair dessa situação. A gente só sabe que um dos caminhos para que essa situação seja revertida é estarmos juntos, tanto o grupo inteiro quanto comissão técnica e direção. É trabalhar, ter dedicação e empenho no dia a dia para que a gente consiga, aos poucos, reverter a situação. É isso que temos conversado para conseguirmos buscar nossos objetivos, que é a vitória”.
Tristeza de Henrique após derrota para o Grêmio
“É uma situação que incomoda. É um sentimento ruim, de revolta, que você não quer e não gosta de ver. Às vezes você tem um certo desequilíbrio, mas é aquele sentimento de revolta de quando você perde a partida. É natural o que o Henrique fez, todo mundo tem um sentimento de revolta quando você perde uma partida. Juntos, com força e trabalho, cada um dando uma parcela a mais do que vem fazendo e se dedicando, vamos sair dessa situação”.
Polêmicas envolvendo Thiago Neves e Rogério Ceni
“Algumas questões já foram ressaltadas e discutidas internamente. Tem uma frase que costumamos dizer que ‘roupa suja a gente lava em casa’. Temos conversado bastante, e é uma questão que foi resolvida. Essas questões de expor em entrevistas as situações não é legal. É procurar nos fortalecer, nos unir, buscar forças e saber que é um momento delicado. Não tem essa rixa de ir contra o Rogério, não há nada contra o trabalho do Rogério, pelo contrário. Todos nós estamos para colaborar para que ele venha exercer o trabalho dele. Precisamos unir forças e conseguir nosso objetivo de buscar as vitórias”.
União para superar má fase
“Os jogadores também sentem, pois dependemos e vivemos disso. Muitos torcedores também dependem do Cruzeiro. Muitas vezes passamos a noite sem dormir, preocupados e insatisfeitos com a situação. O Henrique saiu de campo triste, desolado, isso afeta todos nós. Afeta jogadores, torcedores, comissão técnica, todo mundo. Todos nós passamos por esse sentimento, então temos que tentar conseguir transformá-lo em força para buscar nossos objetivos e metas. Só conseguiremos isso trabalhando, nos unindo, dando as mãos. Todo mundo unido no mesmo sentimento para sair dessa situação”.