Segundo a versão registrada em boletim de ocorrência, “12 torcedores do Cruzeiro (torcida Pavilhão Independente) adentraram ao estabelecimento, alguns inclusive com os aparelhos de celulares ligados filmando toda a ação, direcionando-se à mesa onde estavam os conselheiros do clube, proferindo ameaças inclusive de morte a todos os 15 integrantes membros do clube que ali estavam”.
A torcida Pavilhão Independente, citada no documento, não foi encontrada para comentar.
Rocco e Oliveira fizeram o BO porque “sentiram-se ameaçados juntamente com suas famílias”.
Os torcedores em questão divulgaram vídeos nas redes sociais. Em um deles, os conselheiros são cobrados por apoiarem a diretoria do Cruzeiro, que é investigada pela polícia civil por suspeita de falsificação de documentos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Nos vídeos obtidos pela reportagem não há ameaças de morte.
“Vocês vão continuar com o Itair até quando? Nós vamos para a Segunda Divisão. Aí, olha o Conselho do Cruzeiro aí, torcida do Cruzeiro, olha os apoiadores do Itair. E aí, você vão deixar o Cruzeiro jogar a Série B? Nós é cruzeirense (sic). Nós não é de lugar nenhum, não (sic). Vocês vai deixar o Cruzeiro jogar na Segundona? (sic). Nós não é de torcida, não (sic)”, diz um torcedor em gravação.
Confusão no clube
A confusão começou antes. Integrantes do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, incluindo o ex-presidente do clube, Gilvan de Pinho Tavares, foram ao Parque Esportivo do Barro Preto, na noite dessa terça-feira, promovendo o grupo 'Pró-Cruzeiro Transparente', oposição ao presidente Wagner Pires de Sá. Parte dessas pessoas foi impedida de entrar.A maioria dos conselheiros oposicionistas entrou e foi para o bar do clube. Lá, havia um grupo de conselheiros que se reúne todas as terças-feiras. O evento é conhecido como Confraria San Sebastian.
Segundo versão de Christiano Rocco, conselheiros favoráveis à atual diretoria e outros sem posicionamento político bebiam cerveja normalmente quando o grupo 'Pró-Cruzeiro Transparente' chegou e começou a provocá-los.
"O que aconteceu: o pessoal dessa chapa (Pró-Cruzeiro Transparente) ocupou as cadeiras ao lado das nossas e começou a provocar. 'Olha a corja, todo mudo vendido para o Itair'. O (Gustavo) Gatti (ex-secretário do Conselho Deliberativo) virou e provocou a gente. Um dos conselheiros da nossa mesa, o Selton, para reagir, levantou e foi tirar satisfação. Depois, todo mundo tentou apaziguar. Foi exatamente neste momento que o doutor Hermínio (Lemos, vice-presidente do Cruzeiro) suspendeu e mandou fechar o bar”, revelou.
“Frequento ocasionalmente a Confraria, porque tenho compromissos profissionais. Nesta terça, a gente estava lá, bebendo, e foi surpreendido quando apareceram 40 pessoas da oposição. Para deixar claro, eu não sou oposição nem situação. Nunca dei uma declaração falando que sou desta ou daquela chapa, sempre deixei claro o seguinte: dou o beneficio da dúvida aos investigados (Wagner, Itair e Serginho) e apoio integralmente às investigações", complementou.
Gustavo Gatti foi procurado pela reportagem, mas preferiu não se manifestar. Giovanni Baroni, também do 'Pró-Cruzeiro Transparente', afirmou que não houve provocações. “Não teve confusão nenhuma. Quando o Hermínio percebeu que o nosso grupo estava chegando em maior número, ele resolveu fechar o bar. Foi isso”, resumiu.
O vice-presidente eleito Hermínio Francisco Lemos, aliado do presidente Wagner Pires de Sá, teria fechado o bar e, em seguida, os conselheiros - a maioria da situação - foram para o Varanda, na rua Guajajaras, próximo ao clube no Barro Preto.
Ameaças no bar
Rocco relatou as ameaças sofridas no bar Varanda e denunciou uma possível armação. “Do nada, apareceram esses meliantes filmando, 12 pessoas entraram ameaçando de morte: 'conselheiros vendidos, quem está apoiando o Itair vai morrer'. O senhor Gilberto começou, inclusive, a passar mal porque os caras começaram a vir para cima da gente de maneira truculenta. Acredito que alguém pode ter passado a informação que estávamos lá, isso pode ter sido armado para nos ameaçar, nos prejudicar. Mas quem tem que apurar isso é a polícia”.Durante a confusão, Rocco reagiu. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra ele gritando para alguns torcedores que era “Máfia Azul” e fazendo o sinal de punho cruzado, característico da organizada. Ele explicou o que ocorreu.
“Foi uma forma de evitar o pior. Eu disse: 'sou da Máfia Azul, eu conheço vocês da Pavilhão. Se fizerem alguma coisa contra a gente, as próprias pessoas da Máfia Azul vão atrás de vocês. Quando viram que eu era da Máfia Azul, porque eu ajudo a Máfia Azul em vários eventos, reagi verbalmente em legítima defesa, não tinha como fazer outra coisa, evitei uma tragédia maior”, disse.
Segundo Rocco, os mesmos torcedores que ameaçaram os conselheiros no bar aparecem em um vídeo do grupo 'Pró-Cruzeiro Transparência' gravado do lado de fora do clube, no Barro Preto, horas antes da confusão. “Vou pedir para o Cruzeiro as imagens da câmera de segurança para entregar para a Polícia Civil investigar”, disse.
Por outro lado, Baroni afirmou que não conhece nenhum daqueles torcedores das imagens. Os cruzeirenses em questão não estão uniformizados com camisa da Pró-Cruzeiro Transparente e nem interagem com os conselheiros, segundo imagens divulgadas em redes sociais. "Esses torcedores estão atrás do nosso grupo na hora do vídeo e depois vão embora. Ele (Rocco) vai ter que provar nossa relação com eles se tiver afirmado isso", frisou.