Os casos se referem a denuncias apuradas pela Polícia Civil de Minas Gerais contra a gestão do presidente Wagner Pires de Sá por suspeita de falsificação de documentos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Se for considerado culpado, o Cruzeiro pode sofrer sanções como "proibição de registrar novos atletas, por período determinado não inferior a seis meses nem superior a dois anos" e "suspensão dos efeitos ou cancelamento do certificado de clube formador".
Em contato com o Superesportes, o diretor de registro, transferência e licenciamento da CBF, Reynaldo Buzzoni, disse que os casos já estão em investigação pela CNRD.
A denúncia mais grave investigada é um empréstimo de R$ 2 milhões adquiridos pelo Cruzeiro com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção.
Como forma de quitação do débito, o clube, segundo inquérito da Polícia Civil, incluiu parte dos direitos de jogadores do profissional, como David (20%) e Cacá (20%), outros que passaram pela base e foram negociados, como Gabriel Brazão (20%), Raniel (5%), Murilo (7%) e Vitinho (20%), e alguns que ainda estão nas divisões inferiores - um deles é Estevão William, de 12 anos, conhecido como 'Messinho'. Esse último sequer tem direitos econômicos e só poderia assinar contrato como profissional a partir dos 16 anos.
De acordo com a denúncia, o percentual de cada jogador corresponde à multa rescisória em negociações firmadas com o Cruzeiro. Assim, o valor da transferência seria repassado a Cristiano Richard dos Santos como forma de quitação da dívida. O problema é que a Fifa proibiu, desde 2015, que empresas adquirissem parte dos direitos econômicos, o que só é permitido a atletas e clubes.
À época, o Cruzeiro garantiu, em nota, que o contrato com o empresário não se baseia em negociações esportivas. "O Cruzeiro firmou contrato de mútuo (empréstimo) com o senhor Cristiano Richard em março de 2018, em momento de grande dificuldade financeira para fazer frente a pagamentos emergenciais como impostos, encargos financeiros e outros compromissos.
AV & S Consultoria Desportiva Ltda
Outro caso que é alvo de investigação é a ligação do Cruzeiro com a AV & S Consultoria Desportiva Ltda. A empresa, segundo a contabilidade divulgada pelo clube, teria recebido R$ 369 mil no ano passado e tem atuação na seleção de profissionais para atividades esportivas, culturais e artísticas. A companhia tem atividades na extração e comércio varejista de madeira e artefatos e não tem registro na CBF, o que é vetado pela legislação.
Supermercados BH
Também está sob análise da CNRD a parceria do Cruzeiro com o Supermercados BH para aquisição dos direitos de Arrascaeta, em 2015. Na ocasião, a rede investiu 2 milhões de euros e ficou com 25% dos direitos do jogador uruguaio. A operação descumpre novamente regras da Fifa, que proíbem o envolvimento de empresas em percentuais de atletas.
A rede é patrocinadora do Cruzeiro e pleiteia na Justiça o repasse de valores relativos à transferência de Arrascaeta para o Flamengo.
Esta semana, o Supermercados BH conseguiu liminar que intima o Flamengo a depositar em juízo os valores remanescentes relativos à compra do meia-atacante Arrascaeta. A decisão foi proferida pela juíza Soraya Hassan Baz Láuar, da 1ª Vara Civel da Comarca de Belo Horizonte. A empresa pleiteia o recebimento de 25% do montante da negociação.
Em janeiro deste ano, o Flamengo adquiriu 75% dos direitos econômicos de Arrascaeta, por 18 milhões de euros (R$ 79,5 milhões na cotação da época). Desse valor, o Cruzeiro ficou com 13 milhões de euros (R$ 55,25 milhões), pois detinha 50% dos direitos econômicos do jogador.
Dos 13 milhões de euros, o Cruzeiro recebeu a primeira prestação, de 7 milhões de euros (R$ 29,75 milhões), logo em janeiro, quando acertou a venda de Arrascaeta. A segunda, uma cota de 3 milhões de euros (R$ 12,75 milhões) foi paga em junho pelo Flamengo. A terceira, também de 3 milhões de euros (R$ 12,75 milhões), vence em dezembro. Esta última parcela, segundo decisão da Justiça, deve ser depositada em juízo.
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