Por isso, o caso chegou à agenda de julgamento do Comitê Disciplinar da Fifa. O Cruzeiro está sujeito à possibilidade de pagamento de multa, que pode chegar a aproximadamente 40 mil dólares (R$ 159.600,00 na cotação atual). Se a decisão for contrária ao clube mineiro e a quitação do débito referente à compra de Arrascaeta não for efetuada no prazo de 30 dias, existe a possibilidade de punições esportivas, como prevê o artigo 15, item 1, alínea ‘c’ do Código Disciplinar da entidade máxima do futebol.
O texto prevê a proibição de contratações de jogadores até o pagamento da dívida, além de possíveis perdas de pontos no Campeonato Brasileiro e até mesmo rebaixamento à Série B. “No caso de clubes, a proibição de contratações será determinada até que a totalidade do valor devido seja pago ou uma decisão não financeira seja cumprida. A dedução de pontos ou o rebaixamento a uma divisão inferior também podem ser pedidos em adição ao banimento na janela de transferências”, lê-se.
Advogado do Defensor-URU no Brasil, Eduardo Carlezzo falou ao Superesportes sobre o andamento atual do processo. “Há anos estamos tentando de todas as formas possíveis receber estes valores. Infelizmente, sem nenhuma justificativa jurídica, o que o Cruzeiro faz no processo é apenas empurrá-lo para frente com o único objetivo de ganhar tempo. Quando o processo chega à Comissão Disciplinar, há uma pressão efetiva e real sobre o clube, pois caso não pague a dívida nas datas fixadas pela Fifa será sujeito às punições previstas no Código Disciplinar. Agora o clube não tem mais para onde correr: ou paga ou será punido”, disse.
Representante do Cruzeiro em ações internacionais, o advogado Breno Tannuri afirmou que o clube está tranquilo e não teme eventuais punições a curto prazo. “O Cruzeiro está se defendendo. Temos que agir com paciência. Depois de uma eventual decisão no Comitê Disciplinar, caso o Cruzeiro tenha um revés, ainda cabe o recurso na Corte Arbitral do Esporte. Antes de dois anos, tenho certeza que não vai ter nenhuma decisão”, afirmou.
Questionado se o Cruzeiro estaria tentando ganhar tempo - como alegado pelo Defensor-URU -, Tannuri negou. “Postergando, não. Discutindo. É um caso delicado. Ainda que eventualmente haja algum revés agora em primeira instância disciplinar, cabe recurso. É mais uma daquelas notícias que todo mundo coloca que vai tirar pontos, que vai acontecer, que normalmente levam a um entendimento totalmente equivocado e que tentam surfar nessa onda que se criou de pessimismo e de inverdades criadas nos últimos tempos”, concluiu.
Em 2015, o acordo entre os clubes previa o pagamento, por parte do Cruzeiro, de 2 milhões de euros à vista e mais 29 parcelas de 70 mil euros ao Defensor-URU pela compra de Arrascaeta. O clube celeste, no entanto, deixou de pagar 15 dessas prestações, acumulando débito de 1,05 milhão de euros (R$4.620.315). O montante aumentou com inclusão de multas e correções monetárias. Desde que assumiu o Cruzeiro, a gestão encabeçada pelo presidente Wagner Pires de Sá ainda buscou negociar com representantes da diretoria uruguaia o valor total. Nenhuma proposta, porém, agradou.
Conforme apurou o Superesportes, a tendência é que não haja acordo amigável entre as partes. Portanto, o caso deve se arrastar na justiça até uma determinação final da Fifa. A venda de Arrascaeta ao Flamengo, em janeiro deste ano, causou irritação no Defensor-URU. Isso porque o Cruzeiro não fez nenhum movimento pela quitação definitiva da dívida. A tranferência custou ao clube carioca R$ 55,2 milhões, pela cotação do euro à época. Desse valor, 3 milhões de euros (R$ 13.380.000,00 na cotação atual) serão pagos em dezembro.
Entenda o caso
Destaque do Defensor-URU na Copa Libertadores de 2014, Arrascaeta foi comprado pelo Cruzeiro por 4 milhões de euros (cerca de R$12 milhões por 50% dos direitos econômicos) em janeiro de 2015. O empresário Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, emprestou ao clube 50% do valor, que foi repassada de imediato aos uruguaios. A outra metade, conforme explicado à época pelo então gerente de futebol e atual diretor de comunicação Valdir Barbosa, seria paga de forma parcelada. Em função desse atraso, o Defensor-URU recorreu à Fifa para tentar receber o dinheiro.
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