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Negociação conduzida por Valdir Barbosa, novo diretor do Cruzeiro, foi criticada por Itair: 'Erro bombástico'

Barbosa foi responsável por contratar Gonzalo Latorre, que custou R$ 18,5 milhões aos cofres do clube

postado em 03/07/2019 19:36 / atualizado em 03/07/2019 20:03

<i>(Foto: Montagem fotos Juarez Rodrigues/EM D.A Press e Washington Alves/Cruzeiro)</i>

Valdir Barbosa está de volta ao Cruzeiro para assumir a direção de comunicação (clique aqui e saiba mais). No clube, ele trabalhou por quase duas décadas e liderou uma das negociações mais controversas dos últimos anos: a compra dos direitos do atacante Gonzalo Latorre, que chegou ao clube como contrapeso do meia Arrascaeta, em janeiro de 2015.

Um dos maiores críticos dessa negociação é o atual vice-presidente de futebol, Itair Machado, a quem Barbosa também terá que responder. Em diversas oportunidades, Itair condenou o modelo do negócio com o centroavante uruguaio, que até então era um desconhecido do futebol sul-americano.

Latorre pertencia ao Atenas e foi contratado pelo Cruzeiro pelo valor inicial de US$ 3,4 milhões (quase R$ 10 milhões), que seriam pagos de maneira parcelada. O clube, contudo, não quitou o débito nos prazos combinados, o que levou os uruguaios a acionarem a Fifa. Por causa das multas relativas a atraso, custos do processo e variação cambial (valorização do dólar em relação ao real), a atual administração arcou com R$ 18,5 milhões, em maio de 2019.

Já os 50% de Arrascaeta, do Defensor, saíram por cerca de R$ 12 milhões. Tanto o ex-camisa 10 (atualmente no Flamengo) quanto Latorre trabalhavam com o mesmo empresário, o uruguaio Daniel Fonseca, e chegaram em uma negociação casada.

“Nós, do Cruzeiro, não conseguimos entender esse caso Latorre. A gente não consegue. Com todas as pessoas que você conversa, cada um fala uma coisa. Você pagar quase 4 milhões de euros em um atleta e alguém falar que está incluído Arrascaeta, não tem nada a ver com o Arrascaeta. Um é de um clube, o Atenas, e o Arrascaeta era do Defensor. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Foi um erro bombástico de contratação que teve no clube. Agora, temos que pagar”, afirmou Itair Machado, ao Superesportes, em novembro de 2018.

Sempre que falava sobre o assunto Latorre, Itair demonstrava contrariedade. Em janeiro deste ano, ele chegou a dizer que o negócio não foi bom para o Cruzeiro. Na época, ele comentou uma proposta que o clube tinha recebido de 10 milhões de euros por Arrascaeta e disse que não compensava a venda porque o valor global do meia uruguaio deve considerar também a quantia paga em Latorre.

“Infelizmente, esse negócio foi mal feito lá atrás. Envolve a própria diretoria anterior, o presidente deu entrevista falando que a dívida do Arrascaeta com o Defensor e o Atenas, que é o Latorre, é tudo o Arrascaeta. Então, se você for parar para pensar, o Cruzeiro pagou quase 8 milhões de euros pelo Arrascaeta. Se você pegar 10 (milhões de euros), ainda tem que pagar 4,5 milhões de euros que ainda deve na Fifa, vai sobrar para o Cruzeiro, pagando a parte do supermercado, 500 mil euros”, disse Itair.

Depois de um longo processo na Fifa, o Cruzeiro anunciou, no dia 8 de maio, o pagamento de aproximadamente R$ 18,5 milhões ao Atenas, do Uruguai, pela contratação de Latorre, efetuada em janeiro de 2015.

No início deste ano, o Cruzeiro acertou a venda de 50% dos direitos econômicos do meia-atacante Arrascaeta para o Flamengo por 13 milhões de euros (cerca de R$ 55,2 milhões), a maior negociação da história do clube em números absolutos.

Versão de Valdir Barbosa

<i>(Foto: Alexandre Guzanshe / EM DA PRESS)</i>

Responsável pela contratação de Latorre, Valdir Barbosa afirmou, em novembro de 2017, que por motivos éticos não comentaria detalhes da negociação, mas se limitou a dizer que Gilvan de Pinho Tavares, ex-presidente da Raposa, sabia de tudo e aprovou a compra.

“O negócio foi autorizado pelo presidente. Não comento nada dos clubes em que trabalhei. O que posso dizer é isso. Você acha que um negócio desses seria feito sem a autorização do presidente? Não seria”, disse Valdir Barbosa, ao Superesportes.

Valdir viajou ao Uruguai e negociou com o empresário Daniel Fonseca a contratação de Arrascaeta. O próprio Gilvan já admitiu que a vinda de Arrascaeta estava condicionada à compra de Latorre.

"O Latorre veio numa venda casada com o Arrascaeta. Era da base do Atenas, do Uruguai, e da seleção de base. Era uma grande promessa. Falam-se de valores altos pagos por ele, mas aqueles valores eram muito mais pelo Arrascaeta do que por ele (Latorre). Por uma questão de estratégia do empresário para que não ficasse tão pesado o pagamento de imposto, ele dividiu os valores como se os valores fossem iguais. Isso não é um problema do Cruzeiro, é um problema deles. O Cruzeiro queria trazer o Arrascaeta porque ele havia se destacado na Libertadores. E o Cruzeiro tinha grande interesse em trazê-lo. Ele chegou como grande promessa e realmente mostrou que valeu a pena ser contratado”, disse Gilvan em 1º de dezembro de 2017.

Em sua última entrevista coletiva como presidente do Cruzeiro, em novembro de 2018, Gilvan explicou que o atacante acertou com o clube como parte do ‘pacote’ pela compra de Arrascaeta, que custou aos cofres azuis 4 milhões de euros. Metade desse valor foi custeada pela rede de supermercados BH, do empresário Pedro Lourenço.

Latorre, o desconhecido

<i>(Foto: Divulgação / Cruzeiro)</i>

Em 2015, a chegada de Arrascaeta foi uma resposta à venda de Ricardo Goulart. O Cruzeiro negociou o ídolo do clube por R$ 48 milhões para o Guangzhou Evergrande, da China. Então, havia dinheiro em caixa e a diretoria não economizou.

Até no momento do anúncio pelo Cruzeiro ninguém no Brasil conhecia Latorre. Ele era um atleta de pouca relevância de um time pequeno (Atenas) do Uruguai. Com o passar do tempo, Latorre tornou-se uma grande dor de cabeça para o clube.

Com um dos grandes salários da base, Latorre sempre chamou atenção por levar vida de profissional bem-sucedido, bem diferente da maioria dos companheiros de Toca I. Apesar disso, seus números foram decepcionantes. Ele jamais atuou pelo time principal do Cruzeiro. Participou de algumas partidas pela equipe de aspirantes (sub-23), além de 10 jogos pelo sub-20 de 2015 a 2016.

Em 2017, Latorre foi emprestado à Sambenedettese, da terceira divisão italiana, porém pouco esteve em campo. Em meados daquele ano, o Cruzeiro tentou rescindir o contrato, mas o jogador uruguaio não aceitou as condições oferecidas pelo clube.

No fim de 2018, o Progreso, do Uruguai, anunciou a contratação do centroavante, mas o Cruzeiro afirmou à época que não recebeu qualquer oferta. Desde então, Latorre passou a treinar em horários distintos aos do elenco comandado por Mano Menezes na Toca da Raposa 2. O contrato dele vai até dezembro de 2019.

Latorre não tem explicação. Não sei se foi você (repórter) quem fez a matéria no início do mandato, tentei até ajudar o menino, arrumei clube para ele. O Rogério Ceni ia levar ele para o Fortaleza, ele não quis ir. Não tem explicação, não tem como explicar. Isso é gestão anterior. Como você paga 4 milhões de dólares e o jogador não joga?”, disse Itair, em abril de 2019.

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