Acostumado a tomar a palavra em quase todas as entrevistas coletivas da diretoria do Cruzeiro, o vice-presidente de futebol Itair Machado recebeu carta branca de Wagner Pires de Sá para decidir assuntos importantes no clube. A procuração, assinada pelo presidente celeste em 15 de junho de 2018, confere ao dirigente “amplos poderes”, especialmente para “contratar, rescindir contratos, negociar jogadores” e “autorizar pagamentos” até 31 de dezembro de 2020, quando será encerrado o mandato da atual administração. O Superesportes teve acesso ao documento, publicado inicialmente pelo portal UOL.
Antecessor de Wagner Pires de Sá, Gilvan de Pinho Tavares não concedeu o mesmo poder a seus vices de futebol, José Maria Fialho (2012) e Bruno Vicintin (2015 a 2017), bem como aos executivos Isaías Tinoco (2015) e Thiago Scuro (2015 a 2016). Até mesmo Alexandre Mattos, diretor de futebol do Cruzeiro de 2012 a 2014 e que desde 2015 é responsável pela pasta no Palmeiras, lidava com constantes “interferências” do ex-presidente.
No intervalo de um ano e meio, Itair Machado concretizou contratações, vendas e pagamentos de comissões a empresários. Um dos casos envolve o empresário Carlinhos Sabiá, que, segundo o site Globoesporte.com, não tinha registro de intermediador na CBF quando oCruzeiro vendeu Mayke ao Palmeiras por R$ 8 milhões, em outubro de 2018. Mesmo assim, o agente recebeu comissão de R$ 800 mil, paga em duas parcelas pela diretoria celeste. Ex-jogador da Raposa na década de 1980, Sabiá já havia embolsado R$ 1,1 milhão no começo de 2018 na transferência do volante Bruno Silva do Botafogo, conforme informado pelo UOL.
A diretoria do Cruzeiro é investigada pela Polícia Civil de Minas Gerais por suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica, além de possíveis quebras de regra da Fifa, da Confederação Brasileira de Futebol e do Governo Federal. Os escândalos no clube vieram à tona após matéria exibida no programa Fantástico, da TV Globo, em 26 de maio. À época, foram divulgadas irregularidades em transações e valores superfaturados pagos a empresas prestadoras de serviço. A PCMG já havia ouvido 15 pessoas que mantinham alguma relação com o clube, entre elas funcionários, ex-empregados, dirigentes e agentes esportivos.
Uma das denúncias era sobre um empréstimo de R$ 2 milhões contraído pelo Cruzeiro com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção. Como forma de quitação do débito, o clube se comprometeu a repassar parte dos direitos de jogadores do profissional, como David (20%), Raniel (5%), Murilo (7%), Cacá (20%), e de outros da base que foram negociados, casos de Gabriel Brazão (20%) e Vitinho (20%). O clube ainda inseriu participação de 20% em uma possível venda do promissor Estevão William, de apenas 12 anos, que, pela lei, só poderá assinar vínculo laboral a partir dos 16.
Outras operações apuradas pela Polícia Civil são os aumentos substanciais nos salários de dirigentes, a contratação de conselheiros para prestação de serviços e o pagamento a torcidas organizadas. Vale lembrar que o clube aumentou a dívida geral de R$ 384 milhões para R$ 520 milhões de 2017 para 2018 e ainda não teve o balanço financeiro aprovado pelo Conselho Fiscal. Nos próximos dias haverá eleição para novos integrantes do órgão, já que os componentes anteriores renunciaram em função do acesso restrito às informações das finanças do clube.