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CRUZEIRO

Refugiados e imigrantes de 27 países se emocionam com visita ao Mineirão em jogo do Cruzeiro

Iniciativa de dois torcedores levou ao Mineirão 112 estrangeiros

Renan Damasceno Bruno Furtado
Imigrantes de 27 países se vestiram de azul e curtiram dia especial em jogo do Cruzeiro, no Mineirão - Foto: Renan Damasceno/Superesportes
O Mineirão não se coloriu neste sábado apenas com as cores de Cruzeiro e Corinhians, que se enfrentaram pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro. Em um ponto do anel superior do estádio, 112 imigrantes, entre adultos e crianças, fizeram tremular bandeiras de 27 países. Muitos tiveram a oportunidade de ver uma partida de futebol pela primeira vez. A iniciativa partiu dos cruzeirenses Fábio Militão e Christiano Rocco e contou com a contribuição de outros torcedores por meio de uma 'vaquinha' virtual, de empresários e do Cruzeiro, com a doação de ingressos.

Vários desses visitantes ilustres são refugiados e escolheram o Brasil para começar uma nova vida longe de guerras, ditaduras e outras situações extremas. A ideia de reuni-los em um jogo do Cruzeiro teve relação direta com a história do clube, fundado em 2 de janeiro de 1921 por imigrantes italianos no período após Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918.

Com brilho nos olhos, representantes de quase todos os continentes do planeta assistiram ao jogo com uma camisa azul que carregava os dizeres  “O mundo é azul, o mundo é Cruzeiro”.

O colombiano Jhonny Garcia chegou a Minas Gerais com a mãe, Carmen, há cinco anos. Graças à iniciativa, ele pôde levar o filho cruzeirense Alexis ao Mineirão. Eles viviam em Puerto Ordaz, na Venezuela, e decidiram deixar o país vizinho devido ao caos político-econômico. “A situação lá foi o motivo para buscarmos novas fronteiras e tentar fazer uma nova vida.
Meu filho nasceu na Venezuela, mas é cruzeirense e ficou feliz”.

Colombiano Jhonny Garcia com o filho cruzeirense Alexis e a mãe Carmen - Foto: Renan Damasceno/Superesportes

Ao lado, uma família síria curtia cada momento da primeira visita a um estádio palco de Copa do Mundo. Aymam Wuhbah fugiu da guerra e chegou ao Brasil sozinho, há cinco anos. Em seguida, trouxe a esposa Shadia Alshalish e o filho Al Hassan. Em Minas Gerais, nasceram as meninas Iman e Mariam, fruto desse recomeço no país.

Da Síria para o Mineirão: Aymam Wuhbah com a esposa Shadia Alshalish e os Al Hassan, Iman e Mariam - Foto: Renan Damasceno/Superesportes

“Eu vim primeiro porque eu não conhecia ninguém no Brasil e não falava nenhuma palavra em português. Não podia trazer minha família comigo no começo. Tinha que arrumar casa, serviço, dinheiro, e depois trouxe minha esposa e meu filho para Minas. Nós moramos agora em Nova Serrana. Tinha um filho já. Depois, tivemos duas meninas brasileiras”, contou o pai, empolgado com a oportunidade de assistir a um jogo do Cruzeiro no Mineirão. “Já conhecia o Cruzeiro. Não Síria, acho que fui a dois jogos. Mas não foco 100% no futebol. Se tem jogo, vejo.
Se não tem, tudo bem”, contou Aymam.

Missionária metodista do Togo, Josiane Soukou chegou ao Brasil há um ano e seis meses e trabalha em um projeto de conscientização do uso da água. Emocionada, ela lembrou estar no palco do 7 a 1, goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa de 2014. “Minas é um estado maravilhoso. Achei fácil aprender português. É a minha primeira vez em um jogo do Cruzeiro. Eu já tinha visto o estádio Mineirão pela televisão no jogo do 7 a 1. Interessante conhecer pessoalmente”.

Josiane Soukou, do Togo, adorou conhecer o estádio do famoso '7 a 1' - Foto: Renan Damasceno/Superesportes

Todos os imigrantes que visitaram o Mineirão neste sábado são alunos do Curso de português como língua de acolhimento, ministrado no Cefet-MG desde 2016. O professor Eric Costa valorizou a iniciativa dos cruzeirenses de proporcionar um dia especial ao grupo. 

“Esse curso pretende oferecer aos imigrantes, refugiados, portadores de visto humanitário, apátridas e solicitantes de asilo uma oportunidade de estudar português e que essa oportunidade seja uma maneira de ele ter uma emancipação social, coesão social, empoderar. Hoje, nós temos 27 nacionalidades e 135 alunos, e 12 crianças que também fazem o curso separado. Vieram 112 deles ao Mineirão.
Essa iniciativa nasceu dos cruzeirenses Rocco e Militão, eles entraram em contato com a gente, por meio da Patrícia, que trabalha com a gente, porque o Cruzeiro é um clube que tem uma história de imigrantes. Eles se identificaram com o nosso projeto e nos convidaram para vir aqui e viemos com muito amor e carinho. É emocionante para muita gente porque é a primeira vez em um estádio na vida de muitos deles. Nem nos países de origem tiveram essa chance”, destacou Costa, doutorando da área de Relações Internacionais.

Mais que a chance de levar os imigrantes a um jogo do Cruzeiro, clube do seu coração, Christiano Rocco valorizou o dia de felicidade proporcionado a essas pessoas. “Estou muito emocionado. Hoje faz exatamente 30 dias que eu perdi a minha mãe, uma italiana que um dia foi imigrante e que era professora de português. Hoje, esses refugiados imigrantes se formaram no curso de português para que pudessem conquistar um posto mais digno aqui no nosso país. E eu vim ao estádio com minha esposa, meus filhos e meu pai para sentir essa emoção. É um dia de muita alegria pra mim”.

Outro idealizador do projeto, Fábio Militão destacou o poder do esporte de unir tanta gente. “A gente só consegue mudar o mundo a partir do momento que pessoas de classes mais baixas têm acesso ao esporte, ao lazer e à cultura. E o Mineirão é um espaço totalmente democrático, onde pessoas de todas as classes assistem a um jogo. É a oportunidade de todos estarem juntos no mesmo lugar. Descobri que muitos não conheciam um estádio nos países deles de origem. O Mineirão é primeiro. Foi um dos projetos mais bacanas que fiz na minha vida. Isso não tem preço”.
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