Itair e Serginho são os principais mentores do presidente Wagner Pires de Sá. Eles coordenaram a campanha de Wagner na eleição do clube no fim de 2017. Com a vitória no pleito, a dupla foi nomeada para cargos estratégicos dentro da gestão. Itair como vice de futebol, mas com autonomia para tomar decisões em outras áreas. Serginho foi primeiro diretor de comunicação e depois, diretor-geral.
Para muitos dentro do clube, Itair é o mais influente na gestão. Essa é avaliação do ex-presidente celeste Gilvan de Pinho Tavares. “Até hoje não entendi porque ele (Wagner Pires de Sá, presidente) passou a ser cordeiro do Itair. Não entendi porque ele entregou a administração nas mãos do Itair, porque é isso que parece. É o Itair quem se posiciona. Hoje, é ele quem fala e quem manda no Cruzeiro”, disse Gilvan ao Superesportes, em junho do ano passado.
Itair e Serginho comandaram as mudanças no clube. Desde o início da gestão de Wagner, a dupla deu as cartas. Principal nome de impacto contratado pelo clube, Marco Antônio Lage foi nomeado por Itair, que queria um profissional que causasse boa impressão na torcida e no mercado. Lage era diretor de comunicação corporativa e sustentabilidade da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na América Latina.
Lage ficou no cargo por pouco menos de um ano. Em 5 de novembro do ano passado, publicou uma carta alertando para o difícil momento no qual vivia o clube: “mais grave crise financeira de sua história", frisou. Alguns meses antes, Serginho já havia assumido o cargo de diretor-geral, herdando algumas das funções do ex-membro da Fiat, que foi perdendo autonomia no trabalho ao ver membros de sua equipe serem demitidos.
A administração celeste destituiu funcionários que respondiam a Lage, como Bernardo Pontes, ex-gerente de marketing. Ele foi anunciado em janeiro de 2018 e deixou o clube em 24 de maio. Outro caso é o de André Araújo, que trabalhou com Lage na Fiat e foi contratado a pedido dele. Araújo comandou a pasta de gestão de conteúdo até agosto, quando foi demitido.
O Cruzeiro justificou as demissões por cortes de gastos. As mudanças não pararam. Funcionários de longa data, Aristóteles Loredo, diretor de tecnologia da informação, e Robson Pires, diretor comercial, também foram desligados no dia 23 de outubro do ano passado.
Outro nome de peso que não durou no clube foi o diretor financeiro, Divino Alves de Lima. Ele tinha larga experiência no setor bancário, sendo ex-diretor comercial do banco BMG. Divino ficou no clube por três meses. Em uma carta interna, ele evidenciou sua frustração. “Não tive a habilidade necessária para conviver com o contraditório pelo meu excesso de transparência, contundência e retidão!”, dizia parte da carta.
Na ocasião, o Superesportes apurou que Divino estava irritado com a pouca responsabilidade financeira do departamento de futebol. Divino chegou a desabafar antes de sua saída com amigos dirigentes de outros clubes sobre a péssima situação do Cruzeiro.
Já no fim do ano passado, o Cruzeiro acabou com a equipe de atletismo, demitindo, entre outros, o supervisor da área, Alexandre Minardi. Ele entrou na Justiça contra o clube por ofensas e agressões pessoais. Minardi teve um desentendimento com Serginho, responsável por sua demissão por justa causa. Minardi citou, em um vídeo, antes da Corrida de São Silvestre, o diretor-geral do clube como responsável por extinguir a equipe de atletismo. Na ocasião, ele fez comentários depreciativos ao dirigente.
Recentemente, foi a vez dos conselheiros fiscais deixarem os cargos. Em maio deste ano, Celso Luiz Chimbida, Geraldo Luiz Brinat e Ubirajara Pires Glória apresentaram um pedido formal de desligamento de seus postos ao presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella, e ao vice-presidente, José Dalai Rocha.
O próprio presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, explicou a renúncia dos conselheiros fiscais. De acordo com o mandatário celeste, os representantes se sentiram “impedidos ou diminuídos” diante de informações negadas pela diretoria sobre aumento salarial e folha de pagamento de colaboradores do clube, entre dirigentes e jogadores. Wagner disse que o sistema de compliance adotado pelo Cruzeiro impede que algumas informações sejam divulgadas até mesmo para o Conselho Fiscal do clube.
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Saídas do clube
Divino Alves, ex-diretor financeiro – 15 de março de 2018
Bernardo Pontes, ex-gerente de marketing - 24 de maio de 2018
André Araújo, ex-gerente de conteúdo – 17 de agosto de 2018
Aristóteles Loredo, ex-diretor de tecnologia da informação – 10 de setembro de 2018
Robson Pires, ex-diretor comercial – 23 de outubro de 2018
Breno Muniz, ex-gerente de tecnologia da informação - 23 de outubro de 2018
Marco Antônio Lage, ex-vice-presidente executivo – 3 de novembro de 2018
Alexandre Minardi, supervisor de atletismo – 31 de dezembro de 2018
Celso Luiz Chimbida, Geraldo Luiz Brinat e Ubirajara Pires Glória, membros do Conselho fiscal – 08 de maio de 2019
Substitutos
Flávio Pena, diretor financeiro
Leandro Freitas, gerente de marketing
Renê Salviano, diretor comercial
Leonardo Rodrigues, gerente de conteúdo
Rubiane Piris, gerente de tecnologia
Salários altos
A TV Globo teve acesso aos vencimentos do vice-presidente de futebol, Itair Machado, e do diretor-geral, Sérgio Nonato. Em janeiro de 2018, Itair Machado assinou o primeiro contrato com o Cruzeiro. Segundo o documento, ele receberá até 2020, por meio da empresa IMM Assessoria e Consultoria Esportiva Ltda, R$ 180 mil por mês, com direito a 13º.
Em fevereiro de 2018, o Cruzeiro se comprometeu a pagar Itair a R$ 540 mil à vista por causa de serviços prestados nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2017. Como Wagner foi eleito em outubro daquele ano, os valores correspondem a um período em que Itair ainda não tinha cargo no clube, já que ele não fez parte da administração de Gilvan de Pinho Tavares.
Segundo a TV Globo, em 30 de junho de 2018, Itair assinou mudança em seu contrato para evitar deduções fiscais. Em agosto, o Cruzeiro deu um novo aditivo ao dirigente, que passou a receber os bichos dobrados. Ele teve direito a 100% dos bichos distribuídos ao elenco profissional, além de valores determinados por títulos.
Com o título do Cruzeiro na Copa do Brasil de 2018, Itair recebeu R$ 600 mil. Já pela conquista do Estadual nesta temporada, ele embolsou R$ 200 mil. De acordo com a matéria do Fantástico, no total, Itair recebeu uma média de R$ 275 mil por mês na Raposa.
Já Sérgio Nonato tinha ordenado, segundo seu primeiro contrato assinado em 6 de abril de 2018, de R$ 60 mil por mês. O acordo não contava com bichos por premiação. Duas semanas após a assinatura do primeiro contrato, Serginho, como é conhecido, recebeu aumento. No primeiro aditivo, ele recebeu luvas de R$ 300 mil pagos em maio de 2018 e aumento salarial para R$ 75 mil a começar no mês de junho.
No fim do ano, Serginho recebeu um novo aumento. O salário dele saltou para R$ 125 mil mensal. Com luvas e remuneração, ele recebeu R$ 875 mil no ano passado – o valor não contabiliza os bichos. Segundo a TV Globo, Serginho ainda tem direito a receber por negócios fechados na área comercial.
Para a TV Globo, o Cruzeiro justificou o aumento a Itair em função da procura de outros clubes no trabalho do profissional. O clube, contudo, não cita o nome de nenhuma equipe que tenha procurado os dirigentes.
“O aditivo mencionado foi firmado pelo Cruzeiro no intuito de valorizar o bom trabalho que estava sendo desenvolvido pelo dirigente, que inclusive despertava o interesse do mercado para sua transferência, firmado bem antes da conquista da Copa do Brasil. E, conforme já esclarecido, os dirigentes do Cruzeiro são remunerados em razão do cargo exercido, das responsabilidades a ele inerentes, utilizando-se os parâmetros do mercado de trabalho do futebol”, disse.
No caso de Serginho, o Cruzeiro disse que o aumento se deu por causa da mudança de cargo. Ele passou de diretor de comunicação para o de diretor-geral. “Como amplamente divulgado na mídia da época, seu cargo inicial era de "Diretor de Comunicação", tendo sido alterado para "Diretor Geral", justificando a necessidade de adequação contratual ao seu novo cargo e respectivas funções. E, conforme já esclarecido, os dirigentes do Cruzeiro são remunerados em razão do cargo exercido, das responsabilidades a ele inerentes, utilizando-se os parâmetros do mercado de trabalho do futebol. Todavia, esses conselheiros, por questão própria, não participam das reuniões do Conselho Deliberativo. No caso de prestadores de serviços por pessoa jurídica, não há vedação no Estatuto Social".