As denúncias de irregularidades na atual gestão do Cruzeiro, divulgadas no domingo, pela TV Globo, obrigaram o presidente Wagner Pires de Sá e o vice de futebol Itair Machado a se pronunciar na Toca da Raposa II nesta segunda-feira. Os dois disseram não temer a uma investigação da Polícia Civil de Minas Gerais baseada em suspeita de falsificação de documentos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
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Segundo a edição de domingo do programa Fantástico, a Polícia Civil já ouviu 15 pessoas que têm alguma relação com o Cruzeiro, entre elas funcionários, ex-empregados do clube, dirigentes e empresários que de alguma forma participaram de negociações com a atual diretoria celeste.
Em vários momentos da entrevista, o vice de futebol Itair Machado se dirigiu ao torcedor do Cruzeiro.
“Queremos tranquilizar você, torcedor. Aqui no Cruzeiro não tem desonesto. Até porque, o tanto que estamos sendo perseguidos, se existisse desonestidade, já teríamos caído. Sobre o processo da Polícia Civil, que sei que vocês vão perguntar. Processo da Polícia Civil já acontecia anteriormente. Não é processo. Chama procedimento. Procedimento levou meses, ouviram várias pessoas, foi denúncia anônima, fogo amigo, e esse processo foi encerrado, concluído, e arquivado. Aí agora, depois que veio essas matérias, o procedimento foi reaberto o procedimento. O Cruzeiro confia na Polícia Civil, que a gente sabe que é uma das melhores do Estado, do Brasil, tanto que eles fizeram a primeira investigação do procedimento, não é inquérito, e foi arquivado. Cruzeiro está tranquilo sobre isso”, declarou Itair Machado.
Pagamentos e contratos remunerados com conselheiros
A reportagem da TV Globo revelou haver 18 conselheiros que recebem salários ou que mantêm contratos de prestação de serviço. O presidente Wagner Pires de Sá não negou a denúncia, afirmou se tratar de algo cultural no país, mas prometeu mudanças.
“Em primeiro lugar, todos os clubes brasileiros, há mais de 50 anos, o Cruzeiro adota e pratica a contratação de conselheiros, desde que tenha capacidade de exercer a função que o clube necessita. Seria uma hipocrisia de nossa parte não contratar conselheiros por serem conselheiros. Normalmente, esses conselheiros, quando trabalham para o Cruzeiro, eles perdem o direito de votação. Eles não votam. Não há interferência, não há nenhuma proibição de que conselheiros sejam funcionários do clube. Mas conversando com o presidente do Conselho, decidimos que a partir de agora, e todos aqueles conselheiros que prestarem serviço, trabalharem no Cruzeiro, eles pediriam licença do cargo (de conselheiro). Vamos colocar isso em prática”, revelou.
Pagamentos às torcidas Máfia Azul e China Azul
Conforme mostrou a reportagem da emissora, Itair Machado também confirmou a existência de contratos do clube com as torcidas Máfia Azul, a maior organizada cruzeirense, e China Azul.
“Esse outro tema eu tenho facilidade de falar, porque foi ideia minha. O Cruzeiro, na gestão passada, não só na passada, sempre teve muita briga entre as torcidas organizadas. Quando veio o projeto da TV Máfia Azul, o Cruzeiro fez um contrato de publicidade, analisado pelo departamento comercial e marketing, que seria uma boa o Cruzeiro apoiar o projeto. Ele é o foco alvo nosso. Vocês da imprensa não têm o Cruzeiro como foco. A TV Máfia Azul tem o Cruzeiro como foco e ela tem dado muita audiência para o Cruzeiro. O retorno é satisfatório. Sobre China Azul, é a mesma coisa. O Cruzeiro tem um trabalho social e o contrato não é com a torcida, é com uma pessoa física. Tem um trabalho social muito grande onde, lá, é situada a sede da torcida. Dentro disso tudo, o Cruzeiro pactuou com as torcidas que teria que ser obrigatório pactuar as brigas nos estádios. Se vocês pesquisarem na internet, na nossa gestão, depois disso, não houve violência no estádio”, argumentou o vice de futebol.
Pagamentos de direitos de imagem à empresa AV & S
Outra denúncia feita pela reportagem diz respeito ao pagamento de R$ 369 mil à empresa AV & S, relativos aos direitos econômicos do lateral-direito Vitinho. O jogador se transferiu em julho de 2018 para o Cercle Brugge da Bélgica, vendido por R$ 10 milhões.
A proibição da participação de terceiros em direitos econômicos está prevista no artigo 18 do Regulamento de Transferência de Atletas, em vigor desde 1º de maio de 2015.
Segundo Itair Machado, os pagamentos foram referentes, na verdade, aos direitos de imagem do atleta. “O que temos que mostrar aqui, no caso do Vitinho, não vem ao caso se o cara (empresário) é ou não é cadastrado na CBF, porque foi um pagamento de imagem do atleta, e o Cruzeiro tem o documento aqui provando isso. E a gente tem aqui o documento provando isso, que o atleta solicitou que o Cruzeiro pagasse na empresa do procurador. A imagem. Imagem não é problema da CBF. Estamos totalmente tranquilos”.
Endividamento crescente do Cruzeiro
Itair Machado também questionou a afirmação do ex-integrante do Conselho Fiscal, Ubirajara Pires Glória, feita ao Fantástico, sobre o dramático estado das finanças do Cruzeiro.
Mesmo não sendo da área financeira, Itair assegurou a estabilidade econômica do Cruzeiro.
“Estamos aqui, torcedor, administrando um time que pegamos... Tem um conselheiro que falou lá (na matéria do Fantástico) que o Cruzeiro está falido, acho que ele é cruzeirense e está enganado. O Cruzeiro jamais vai falir, porque essa camisa não tem preço. Um time copeiro igual ao Cruzeiro, que ganhou tantos títulos. E outra coisa, o alvo sempre sou eu. Porque eu venho aqui... O torcedor reclamava que o Cruzeiro não tinha representatividade. Eu venho aqui e peitei a mídia nacional que o Flamengo é queridinho. Eles defendem. Eu venho aqui e defendo os interesses do Cruzeiro. Eu quero contar com seu apoio, torcedor cruzeirense. Analise primeiro o documento antes de defender nossa gestão. Analise. A principal discussão, que é venda de jogadores, não existe”.