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Após repercussão nacional sobre investigação, conselheiro do Cruzeiro desabafa: 'Esbórnia financeira'

Anísio Ciscotto falou da atual situação política do clube

Humberto Martins
Conselheiro fez duras críticas à gestão do presidente Wagner Pires de Sá - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D. A. Press
Após a repercussão nacional sobre a investigação da Polícia Civil de Minas Gerais sobre supostas irregularidades cometidas pela diretoria do Cruzeiro, o conselheiro do clube, Anísio Ciscotto Filho, usou as redes sociais para desabafar. Por meio de uma postagem no Twitter, Anísio comentou: "A reportagem do Fantástico mostra o inferno que virou conviver dentro do clube. Amizades rompidas, gente séria sendo relegada e uma esbórina financeira". Em outro post, o conselheiro afirmou: "O que está acontecendo nos bastidores do Cruzeiro tem se refletido diretamente no que acontece dentro das quatro linhas".


Anísio Ciscotto é conselheiro nato do Cruzeiro e foi presidente do Conselho Fiscal do clube entre 2009 e 2014. Procurado pelo Superesportes, ele deu seu posicionamento sobre a atual situação política e financeira do clube.

"A culpa de a atual diretoria estar no poder é do Gilvan (de Pinho Tavares, ex-presidente do Cruzeiro). Foi ele quem colocou eles lá. E colocaram para comandar o futebol uma pessoa polêmica. Todo mundo conhece o Itair desde a época do Ipatinga.
Eu era tido como oposição dentro do conselho. Já questionei o Gilvan. A renúncia dos membros do conselho fiscal é coisa séria. Isso é triste para quem ama o Cruzeiro. Esse não é o Cruzeiro, fundado por italianos", disse.

Segundo Anísio, a atual diretoria tem por prática a intimidação de pessoas dentro do clube para conseguir apoio político. "Sou conselheiro nato, não podem me retirar, a não ser que eu não pague mensalidade. Mas com outros conselheiros existe a pressão de, 'se não apoiar, não fará parte da nova chapa'", afirmou.

Questionado sobre o conhecimento acerca do favorecimento e distribuição de brindes a membros do conselho, supostamente realizada pela diretoria em troca de apoio político, Anísio disse já ter ouvido falar do assunto. Porém, justificou a inércia do conselho dizendo que não havia subsídios concretos para questionar a diretoria.

"Isso é comentado dentro do clube, todo mundo se conhece. Essas coisas a gente ouve falar, mas ninguém fez nada porque não tinha certeza. Agora, com essa exposição do clube em nível nacional, vamos ver o que vai ser feito", disse Anísio.

Sobre a declaração de 'gente séria sendo relegada' da administração atual do Cruzeiro, o conselheiro citou nominalmente pessoas que, no seu entendimento, deveriam ter mais voz dentro do clube.

"O Pedro, do Supermercado BH, o Pietro Sportelli, da Aethra, o Alberto Medioli, que banca o vôlei do Cruzeiro e foi excluído do conselho. O próprio Bruno Vicintin, que trabalhou seis anos de graça no clube. Essas pessoas foram relegadas da administração", concluiu.

Entenda o caso

Denúncias de irregularidades na gestão do presidente Wagner Pires de Sá deixaram o Cruzeiro na mira da Polícia Civil de Minas Gerais. De acordo com reportagem exibida no programa Fantástico, na noite desse domingo, dirigentes do clube celeste são investigados por suspeita de falsificação de documentos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. 

A denúncia mais grave investigada é um empréstimo de R$ 2 milhões contraído pelo Cruzeiro com o empresário Cristiano Richard dos Santos Machado, sócio de firmas que atuam na locação de veículos e de equipamentos de proteção.
Como forma de pagamento do débito, o clube, segundo inquérito da Polícia Civil, incluiu parte dos direitos de jogadores do profissional, como David, Raniel, Murilo, Cacá, outros que passaram pela base e foram negociados, como Gabriel Brazão e Vitinho, e alguns que ainda estão nas divisões inferiores - um deles é Estevão William, de 12 anos, conhecido como 'Messinho', que só poderia assinar contrato a partir dos 16.

De acordo com a reportagem da TV Globo, o Cruzeiro mantém contratos ou paga salários a 18 conselheiros. Os pagamentos vão de R$ 13 mil a R$ 40 mil. Os repórteres tiveram acesso aos vencimentos do vice-presidente de futebol, Itair Machado, e do diretor-geral, Sérgio Nonato. Em janeiro de 2018, Itair assinou o primeiro contrato com o Cruzeiro. Segundo o documento, ele receberá até 2020, por meio da empresa IMM Assessoria e Consultoria Esportiva Ltda, R$ 180 mil por mês, com direito a 13º salário. Já Serginho começou recebendo 60 mil por mês e, duas semanas após a assinatura do primeiro contrato, recebeu um reajuste. No primeiro aditivo, recebeu luvas de R$ 300 mil e aumento salarial para R$ 75 mil a começar no mês de junho. No fim do ano, houve novo reajuste para R$ 125 mil mensais. 

Outro trecho da matéria demonstrou que a Máfia Azul, principal organizada do Cruzeiro, recebeu R$ 88 mil da gestão do presidente Wagner Pires de Sá no decorrer de 2018, primeiro ano de sua administração. De acordo com os documentos obtidos pela emissora, a torcida ainda embolsará R$8 mil mensais até dezembro de 2020. 

As denúncias repercutiram de forma massiva na noite deste domingo. No Twitter, o nome do clube chegou a figurar nos trends como o segundo termo mais comentado do Brasil e o quinto com maior volume de citações em todo o mundo. De acordo com a rede social, foram mais de 80 mil interações.

Os torcedores de clubes rivais, especialmente, usaram a hashtag “Mensalão cabuloso”, ironizando o apelido de 'Cruzeiro Cabuloso' usado pelo clube em inúmeras ações de marketing nas redes sociais.
Esse termo ficou entre cinco mais citados no Brasil. Na reportagem, as investigações dos repórteres apontaram que conselheiros do Cruzeiro recebem salário e têm contratos com o clube. Além disso, a administração do presidente Wagner Pires de Sá teria proporcionado inúmeros benefícios a esses associados.

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