A comissão técnica do Cruzeiro prepara Lucas Romero para ser o volante de chegada ao ataque da equipe. Nas partidas em que atuou como titular em 2019, o argentino teve mais liberdade para avançar e se aproximar dos meias, enquanto Henrique se dedicou ao posicionamento de proteção à zaga. Na opinião do técnico Mano Menezes, a característica de velocidade do camisa 29 o credencia a ser um exímio cumpridor da função de elemento-surpresa num futuro próximo.
“Estou tentando fazer de Romero esse jogador. Estamos preparando há um bom tempo porque Romero tem mobilidade, infiltração, tem rapidez para fazer ultrapassagem e tem retorno. Não adianta nada chegar lá (e não voltar), porque o adversário pega a bola e o meio-campo fica vazio. Você não pode ser uma Ferrari para apoiar e um Fusca para voltar. O futebol requer marcação. Às vezes a gente tem que retomar a bola e o jogador precisa fazer as duas funções. Por isso que Romero vem sendo trabalhado para ser esse jogador. Se você notar nos últimos jogos, ele tem feito isso mais vezes, o Henrique tem ficado (recuado). No jogo contra o Patrocinense, o Lucas Silva ficou mais, demos liberdade para o Romero fazer mais as ultrapassagens. Não adianta pedir a um jogador que não tem essa característica”, declarou o treinador, em entrevista ao programa Arena 98, da Rádio 98 FM.
Ao longo de sua trajetória, Mano sempre procurou jogadores de meio-campo que tivessem a mesma intensidade para defender e atacar. Elias, hoje no Atlético, ganhou esse status no Corinthians campeão da Série B de 2008 e da Copa do Brasil de 2009. Em 2010, pouco antes de trocar o Timão pela Seleção Brasileira, o treinador indicou a contratação de Paulinho, à época sensação do Bragantino. Hoje, aos 30 anos, o volante contabiliza 133 gols na carreira, números bastante expressivos para um atleta da posição.
No caso de Lucas Romero, será necessário aprimorar as finalizações, já que ele marcou apenas três gols em 132 partidas pelo Cruzeiro (dois jogando como lateral-direito) e outros três em 107 presenças no Vélez Sarsfield-ARG, seu ex-clube. Como comparação, o capitão Henrique, que sempre teve mais facilidade de primeiro volante, fez 27 gols em 468 jogos. O camisa 8 balançou a rede principalmente em chutes de fora da área e de cabeça, aproveitando-se da estatura de 1,80m (nesse fundamento, o argentino teria dificuldades, pois mede apenas 1,67m).
Se ainda consegue maior destaque nos desarmes, Romero ouve as recomendações de Mano Menezes para evoluir também os atributos ofensivos. “Fico muito feliz, mas sem perder o foco e tentar fazer o que o treinador pede. Em cada treinamento, tento aprender um pouco mais. Hoje estou fazendo a função de segundo volante, mas sempre revezando com Henrique. Tem hora que sai ele, tem hora que saio para jogar mais um pouco. Estou muito feliz e confiante. Agradeço ao treinador pela oportunidade. Conquistei com muito esforço e trabalho e tenho que continuar por esse caminho”. Na vitória de quarta-feira sobre o Deportivo Lara por 2 a 0, no Mineirão, pela segunda rodada do Grupo B da Libertadores, o argentino teve 95,8% de precisão nos passes (69 acertos em 72), além de três desarmes e uma assistência para finalização.
Inspirações da posição na história do Cruzeiro não faltam a Lucas Romero. De 2007 a 2009, Ramires foi exemplo de volante de constante chegada ao ataque. Ele se aproveitava do porte físico esguio e da boa condição física para desarmar adversários e conduzir a bola em velocidade. Pelo time celeste, marcou 27 gols em 111 partidas. Entre 1994 e 2002, o franzino Ricardinho, de apenas 1,70m e 60 kg, tinha como virtude o chute potente de média e longa distância. Maior campeão da história do clube, com 15 títulos oficiais, somou 46 gols (10 em cobranças de falta) em 441 jogos. Já nas décadas de 1960 e 1970, Zé Carlos foi um grande colaborador para os craques Tostão e Dirceu Lopes, mas também registrou suas expressivas estatísticas individuais: 87 gols em 633 jogos.