Fiquei em uma poltrona entre o técnico do Lara, Leonardo González, e o atacante Jairo Otero, irmão do ex-meia do Atlético, Rómulo Otero. O clima era de alegria pela oportunidade de jogar a Libertadores. Sentados ao lado havia outros atletas, todos na classe econômica. Os jogadores mais conhecidos do Cruzeiro por eles são Fred e Rodriguinho. Já jovem zagueiro Ignacio Anzola, de 19 anos, que tem convocações para a Seleção Sub-20 da Venezuela, disse não lembrar de nenhum deles. O treinador brincou: “Se bobear, ele acha que o Vitinho joga no Cruzeiro”. Todos riram.
O comandante do Lara era só elogios ao brasileiro Mano Menezes: “Conversando com ele na Conmebol, na reunião de treinadores, mostrou-se um profissional aberto, que ouve e conversa. Tem a admiração de todos. Já treinou a seleção", disse González. O técnico se esquivou das perguntas políticas e evitou avaliar a decisão de Rafael Dudamel, comandante da Seleção Venezuelana, de colocar o cargo à disposição em protesto contra a tensão no país. “Difícil falar. O que a gente pode fazer de melhor é focar no futebol. Torcemos para que as coisas melhorem”.
O comandante do Lara era só elogios ao brasileiro Mano Menezes: “Conversando com ele na Conmebol, na reunião de treinadores, mostrou-se um profissional aberto, que ouve e conversa. Tem a admiração de todos. Já treinou a seleção", disse González. O técnico se esquivou das perguntas políticas e evitou avaliar a decisão de Rafael Dudamel, comandante da Seleção Venezuelana, de colocar o cargo à disposição em protesto contra a tensão no país. “Difícil falar. O que a gente pode fazer de melhor é focar no futebol. Torcemos para que as coisas melhorem”.
Na sexta Libertadores da carreira, o zagueiro paraguaio Marcos Miers, ex-Nacional-PAR, Alianza Lima-PER e Sol de América-PAR, não pensou duas vezes em jogar no Lara, mesmo com a situação econômica desfavorável na Venezuela. “A Libertadores tem visibilidade no mundo todo. Se joga bem, tem chance em um grande clube seja do Brasil ou da Europa”, disse. Sobre o momento no país, ele não vê tanta gravidade. “Eu sei que você é da imprensa, mas tenho que falar: às vezes vocês superdimensionam tudo. As coisas são assim (sinal de pequeno com a mão) e vocês deixam assim (sinal de grande). Estou com a minha família lá, não vejo tanta anormalidade como dizem. Estamos bem. Recebemos em dia”.
Para quem viveu no país antes e depois da crise, a avaliação é outra. O experiente goleiro Carlos Salazar, de 38 anos, disse que a maioria dos familiares saiu da Venezuela para tentar a sorte em Peru e Colômbia. Ele lamenta o momento atual de sua nação: “Como você acha que ficamos quando as pessoas que amamos têm que sair do seu país? Não ficamos bem. Nos resta esperar um futuro melhor. Espero que aconteça logo”, afirmou. Em Barquisimeto, no interior do país, a crise é menos sentida que em Caracas. “São menos protestos. Não há tanta gente na rua contra o governo”.
Delegação do Deportivo Lara viajou em classe econômica da companhia Latam até São Paulo - Foto: Thiago Madureira/Superesportes
A delegação do Lara chegou ao aeroporto de Lima às 10h15. O voo sairia às 12h30. Vários jogadores correram para lojas de eletrônicos: “Aqui é mais fácil comprar. Lá, não se encontra tanto”, disse Marcos Miers. O zagueiro paraguaio queria saber se compensava trocar euros por dólares no Brasil. Ao colocar a conta na calculadora, viu que a diferença não era tão grande assim. A aquisição de perfumes e chocolate também foi regra entre os atletas. “O Duty Free é meu lugar preferido”, brincou um deles, quando a reportagem conversava com o irmão de Otero.
Antes de avião partir, os jogadores estavam inquietos em relação ao tempo de voo. “Vai sair 12h e pouco e chegar depois das 19h? Então estamos indo para a Europa”, brincou um deles. Ouviram a explicação de que há duas horas de fuso horário. “Ainda bem”, disse, aos risos, o meia Jorge Yriarte.
Os jogadores e a comissão técnica não pareciam tão confortáveis no voo. Quando o avião decolou, fizeram o sinal da cruz, um gestual católico. O repórter que aqui escreve também acompanhou o movimento, uma vez que é religioso e entra em aviões porque não há outro jeito.
Um tipo raro no futebol, Jorge Yriarte era o mais culto do grupo. “Eu falo português, amigo”, disse, forçando um sotaque com misto de espanhol venezuelano com português de Portugal. Depois, começou a falar inglês, imitando a cabine de comando: “please, passenger…”. Ele disse que gosta de estudar: “é importante para a vida toda. Jogamos futebol, mas não podemos esquecer que a vida termina em um campo”. Durante o voo, Yriarte leu ‘Los pilares de la Tierra’. “Estou gostando muito”.
Jorge Yriarte, meia do Lara, dedicou-se à leitura durante a viagem para o Brasil - Foto: Thiago Madureira/Superesportes
Enquanto Jorge lia, outros atletas viam filmes pela TV. Jairo Otero brincava com um jogo de beisebol em um aplicativo de tablet. “Na Venezuela, é o principal esporte”, explicou o atacante, que sonha com uma chance no futebol brasileiro: “Para quem joga na América do Sul é o grande centro. Paga bem, grandes cidades, bons estádios…”.
O assunto política só desperta quando o repórter faz às vezes de chato. Um dos jogadores, que preferiu não ter o nome revelado, disse torcer por Juan Guaidó, o presidente nomeado pela assembleia constituinte. “Ele já fez muito. Reuniu um grupo de países ao lado dele, tem apoio da ONU. O Maduro está isolado internacionalmente, mas tem muitos seguidores dentro do país, outros poderes”.
Conforme mostrou o Superesportes, o futebol venezuelano segue a carta do chavismo
. “A maioria dos clubes é fiel a ele de alguma forma", frisou um atleta. “Houve a manifestação do Dudamel (treinador da Seleção da Venezuela), também houve um protesto em um jogo pelo apagão, mas não sei se a crise se resolve com o futebol”.O relato de todos os jogadores é de que a situação do Lara é tranquila. No clube há alimentação de qualidade, segurança e pagamentos em dia. Segundo eles, o futebol venezuelano se profissionalizou muito nos últimos tempos. “Fomos vice-campeões no Mundial Sub-20, ganhamos do Brasil agora no Sul-Americano, a seleção principal venceu a Argentina”, observou o jovem Ignácio Anzola, que tem orgulho de ter triunfado sobre o Brasil. “É uma honra pra qualquer jogador vencer a maior seleção do mundo”. A crise, contudo, faz com que o caminho do futebol venezuelano seja um pouco mais sinuoso. “O sonho agora é uma Copa do Mundo com a Venezuela. Quem sabe?!”.
No momento da refeição servida no avião, os atletas ficaram rindo da bebida Guaraná. “O que é isso?”, Perguntou um deles. Jairo Otero logo tirou a dúvida: “Um dos melhores refrigerantes do Brasil!”. Todos pediram. E gostaram.
Um dos passatempos dos jogadores do Lara foi mexer em celulares e tablets - Foto: Thiago Madureira/Superesportes
Os jogadores mais jovens, como Ignacio Anzola e Jorge Yriarte, quiseram conversar sobre a beleza da mulher brasileira. A aeromoça chamou a atenção deles: “Como eu falo ‘você é muito bonita em português?”, perguntou Jorge, que estava sentado à frente. “Essa aeromoça é muito bonita, quero dizer isso a ela”. O meia do Deportivo Lara fez o elogio, que foi bem recebido por Julie: “Obrigada”, disse a educada e sorridente comissária.
Os jogadores sabem das dificuldades reservadas no duelo contra o Cruzeiro, no Mineirão. Independentemente do placar, a primeira vitória já foi conquistada: chegar a Belo Horizonte depois de escalas nas cidades de Caracas, Lima e São Paulo e até mesmo incertezas em relação à realização do jogo (a Conmebol precisou mudar a data em duas ocasiões por causa dos problemas de logística enfrentados pelo Deportivo Lara). O zagueiro Marcos Miers se mostrou confiante. “Creio que vamos chegar muito bem, chegar descansados, apesar de ser uma viagem longa. Mas isso nós sabíamos (que seria longa). Assim, estamos conscientes disso. Vamos tentar descansar o máximo que pudermos e chegar o melhor possível ao jogo com o Cruzeiro”.
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