No texto, Minardi não cita nomes dos envolvidos, mas diz que sofreu constrangimentos, sendo, inclusive, demitido por justa causa e proibido de entrar nas dependências do Cruzeiro.
"Desde então, ofensas e constrangimentos a que foram expostos a pessoa do supervisor de atletismo do Cruzeiro E.C, foram uma constante, que culminaram com carta de demissão por “justa causa” e com proibição até de entrar nas dependências do clube para tratar de assuntos pendentes e prestação de contas normais para a gerência. O constrangimento provocado pela segurança privada do clube ante até profissionais do clube que exerciam suas atividades diante do supervisor de atletismo eram assustadoramente desproporcionais. As agressões de cunho pessoal se avolumaram e nem a presença de pessoas estranhas ao atletismo servia para amainar a ira contra o atletismo do Cruzeiro, direcionada ao supervisor de atletismo. Ofensas irreparáveis e que jogaram por terra mais de 34 anos de trabalho honesto", escreveu Minardi.
Segundo Minardi, a diretoria do presidente Wagner Pires de Sá montou uma espécie de operação para inviabilizar outros esportes no clube, como atletismo e futebol americano.
"A mudança de direção ocorrida no final de 2017, sinalizou para uma tragédia. Dirigentes e outras pessoas que entendem que o Cruzeiro deveria chamar-se Cruzeiro Futebol Clube, entraram em ação e começaram a inviabilizar outros esportes que, por alguma questão contratual ou de exposição, tinha alguma verba específica. O início da administração empossada ao final de 2017, e que tem a missão de administrar o clube no triênio 2018-2020 acabou com a modalidade do Futebol Americano que dias antes conquistara um título nacional de repercussão internacional e reduziu drasticamente as verbas destinadas ao atletismo, que já eram pequenas", frisou.
Minardi diz que membros da diretoria agiram em desrespeito profissional, interferindo no trabalho do atletismo. "Atrasos nos pagamentos, procrastinações, desacatos, desrespeito profissional, ingerências, desautorizações e um sem fim de omissões e conspirações, inclusive de cunho pessoal contra a pessoa do supervisor da equipe de atletismo com ordens e contraordens, numa babel de chefias, mudanças, ordens e contraordens".
Na carta, o ex-supervisor de atletismo indica que deve travar uma briga na Justiça com a atual diretoria celeste. "Despeço-me da torcida, agradecendo todo o apoio dado, esperando que entendam que a briga que poderei travar contra o Cruzeiro é mais contra as pessoas que estão passando pelo clube e não contra a instituição", afirmou.
Alexandre Minardi foi demitido por justa causa por ter citado, em um vídeo, antes da Corrida de São Silvestre, em São Paulo, o diretor-geral do clube Sérgio Nonato como responsável por extinguir a equipe de atletismo. Na ocasião, ele faz comentários depreciativos ao dirigente. "Sérgio Nonato que acabou com a equipe do Cruzeiro", disse o treinador, na ocasião.
Veja o vídeo abaixo:
O Superesportes entrou em contato com a diretoria do Cruzeiro. Segundo a assessoria de imprensa, o clube não vai se posicionar sobre o assunto.
Confira a carta de Alexandre Minardi na íntegra
Carta Aberta de Alexandre Luiz Minardi para a Torcida do Cruzeiro Esporte Clube e Amigos.
Amantes da prática do esporte, em especial aos praticantes de caminhadas e corridas de rua, sabem da importância da prática do referido esporte no bem-estar e saúde de todos. Em tempo de baixos índices de atividade física, incentivamos a prática desta nobre modalidade desde 1984, defendendo a camisa 5 estrelas do maior do mundo.
Neste contexto, cumpre-nos como profissional e amante do atletismo, demonstrar que uma tragédia anunciada, cumpriu-se com requintes de crueldade e sadismo para com todos os cruzeirenses que aprenderam a admirar as conquistas semanais da equipe de atletismo do Cruzeiro.
Tivemos, contra tudo e contra todos, grandes atletas envergando nosso manto e, por vezes, passando dificuldades, mas conscientes de que hipotecamos a eles toda a solidariedade e exigindo sempre que respeitassem a camisa deste grande clube.
DOS FATOS
Desde junho de 1984, quando conquistamos uma vitória sobre nosso eterno rival (que à época ainda teimava em competir em alguma modalidade contra o Cruzeiro) na “Corrida da Subida BR 3” até a última semana de dezembro de 2018, todos os atletas que defenderam a camisa do Cruzeiro deixaram suor, lágrimas e sorrisos pelos asfaltos do Brasil e do mundo, galgando degraus dos pódios e arrematando centenas de troféus para as galerias do Cruzeiro Esporte Clube.
A exposição e qualidade da equipe do Cruzeiro de atletismo, após a virada do milênio, ultrapassou as fronteiras de Minas Gerais e foi reconhecida pela mídia com exposição em horários nobres como da TV Globo por tanto tempo que exigiriam milhões de reais para pagar caso fossem anúncios. Em muitos destes eventos e exposições, o Cruzeiro mal contribuía com despesas de inscrição e viagem. O retorno da exposição superou centenas de vezes, os custos com toda a equipe.
As funções de supervisor do atletismo exigiam muito mais do que um técnico de atletismo pode oferecer. Exigiam, marketing, distribuição de releases para a mídia, fotografia, relatórios, planilhas para o departamento financeira e pessoal, escolha das competições e inscrições, reservas e compras de passagens e hospedagem, controle de documentação junto aos órgãos das entidades FMA e CBAt dos atletas e do clube, controle de pedidos de material esportivo, conferência e distribuição de material esportivo, responder a correspondências relacionadas ao atletismo, controle de atletas do ponto de vista físico e técnico, até mesmo de relações pessoais, o que, nem sempre resultou em satisfação e completude de vitórias. O ônus dos resultados ruins caindo sempre sobre o técnico que em nenhuma temporada dos últimos 34 anos obteve o total de recursos desejados e as condições adequadas de preparação dos atletas.
Os atletas que defenderam a camisa do Cruzeiro ultrapassam a quanto de uma centena, e nem todos tinham algum tipo de vínculo sob qualquer espécie com o Cruzeiro. Alguns poucos ganhavam bolsas ou contratos de patrocínio, além do pagamento de despesas de inscrição e viagens. O trabalho era todo coordenado pelo supervisor técnico, com atletas treinando em suas cidades para diminuição dos custos, mas sempre com o compromisso de defender a camisa do Cruzeiro. Este tipo de relacionamento amador, fez com que Muitos promissores atletas trocassem de equipe ou o atletismo ficasse tolhido na expansão de categorias e modalidades.
O ciclo do atletismo do Cruzeiro, com quase 4 mil competições e milhares de troféus e pódios conquistados, encerrou-se no dia 6 de janeiro de 2019, na 35ª “Corrida Internacional de Reis” na cidade de Cuiabá (MT) com participação superior a 17 mil atletas sendo que alguns considerados “top” do atletismo mundial. O Cruzeiro encerrou suas atividades ficando em 5º lugar geral e primeiro dentre Brasileiros e Sul-Americanos com o atleta Gilmar Silvestre Lopes que foi o terceiro lugar geral aqui na “20ª Corrida Internacional da Volta da Pampulha” realizada dia 09 de dezembro, mesmo após estar consciente de que a equipe seria exterminada sem maiores considerações.
Expressando a exatidão e a realidade dos fatos, em sã consciência, tinha esperança da continuidade da equipe, mesmo que sem a minha presença, partindo dessa premissa, considero que a Ex-equipe de Atletismo do Cruzeiro Esporte Clube, foi extinta oficialmente no dia 28/01/2019, data em que os Atletas, notificados anteriormente, estiveram na sede do Clube para uma conversa com a Diretoria. Infelizmente ficou definido, conforme informado pelos Atletas, que o Cruzeiro Esporte Clube, não se interessava em manter o Atletismo, devido estar muito endividado, e, como a corda arrebenta para o lado mais fraco a diretoria acabou com o Atletismo mais vencedor do Brasil e das Américas. Lamento muito esta decisão, após mais de três Décadas com os atletas do atletismo do Cruzeiro sempre tremulando a bandeira estrelada pelo mundo afora... Bom lembrar que nestes 34 anos tive o orgulho de vestir e suar a camisa do Maior de Minas, com muito amor. E, até já quebrei o Punho para entregar a Bandeira do Cruzeiro EC. para o Atleta chegar em uma das Meias Maratonas Internacionais do Rio de Janeiro erguendo a Bandeira Estrelada e lembro que o Cruzeiro foi Campeão com direito a Dobradinha com os atletas Rômulo Wagner da Silva e o João Ferreira De Lima (O João da Bota).
DOS PROBLEMAS
As dificuldades, restrições orçamentárias, falta de infraestrutura e apoio a todos os atletas sempre estiveram presentes. De certa forma, é compreensível em um clube que tenha no futebol sua principal e primeira razão de ser, seus torcedores e associados não percebam a importância da prática esportiva de modalidades distintas do futebol, que eram consideradas olímpicas ou amadoras. Com a profissionalização de várias modalidades como atletismo, vôlei e outros, o Cruzeiro mostrou sua face de clube esportivo e não de clube unicamente de futebol. Os problemas persistiam mas conseguíamos sobreviver e conquistar títulos, a marca de todo cruzeirense. Assim ganhamos mentes e corações de diversos torcedores. É importante ressaltar que parcela de torcedores, associados e até mesmo conselheiros, não entende assim. Da mesma forma que uma pequena parcela não gosta até de futebol.
A mudança de direção ocorrida no final de 2017, sinalizou para uma tragédia. Dirigentes e outras pessoas que entendem que o Cruzeiro deveria chamar-se Cruzeiro Futebol Clube, entraram em ação e começaram a inviabilizar outros esportes que, por alguma questão contratual ou de exposição, tinha alguma verba específica. O início da administração empossada ao final de 2017, e que tem a missão de administrar o clube no triênio 2018-2020 acabou com a modalidade do Futebol Americano que dias antes conquistara um título nacional de repercussão internacional e reduziu drasticamente as verbas destinadas ao atletismo, que já eram pequenas.
A partir da redução das verbas, os sinais da intenção de acabar com a equipe de atletismo foram ficando mais claros. Atrasos nos pagamentos, procrastinações, desacatos, desrespeito profissional, ingerências, desautorizações e um sem fim de omissões e conspirações, inclusive de cunho pessoal contra a pessoa do supervisor da equipe de atletismo com ordens e contraordens, numa babel de chefias, mudanças, ordens e contraordens.
Os problemas foram expostos de maneira trágica desde a forma como foi comunicado a extinção da modalidade de atletismo no Cruzeiro, na data de 5 de dezembro de 2018. Após esta data, a tragédia foi colocada, integralmente, nas costas do supervisor do atletismo que teve a incumbência de informar a todos sobre o fim da equipe.
Desde então, ofensas e constrangimentos a que foram expostos a pessoa do supervisor de atletismo do Cruzeiro E.C, foram uma constante, que culminaram com carta de demissão por “justa causa” e com proibição até de entrar nas dependências do clube para tratar de assuntos pendentes e prestação de contas normais para a gerência. O constrangimento provocado pela segurança privada do clube ante até profissionais do clube que exerciam suas atividades diante do supervisor de atletismo eram assustadoramente desproporcionais.
As agressões de cunho pessoal se avolumaram e nem a presença de pessoas estranhas ao atletismo servia para amainar a ira contra o atletismo do Cruzeiro, direcionada ao supervisor de atletismo. Ofensas irreparáveis e que jogaram por terra mais de 34 anos de trabalho honesto. Em vários momentos em que as barreiras internas e externas, contra o atletismo do Cruzeiro, eram expostas, a tentativa era de superar e manter foco na equipe, nos atletas e nos resultados. Fomos muito além do que as verbas e o apoio permitiam. Em vários momentos, tanto o pessoal interno, alguns diretores e a mídia, e até parcela da torcida, ignoraram a importância do atletismo para desferir ataques pessoais e fazer chacota de pessoas com claro intuito de exterminar o atletismo enquanto esporte profissional deste grande clube.
O aviso de demissão assinado pela direção do Cruzeiro, por elemento que não deve ter autoridade para assinar demissões de forma estatutária e regimental, fere mortalmente não somente o profissional demitido e sua equipe de atletas, fere mortalmente uma instituição esportiva prestes a completar um século de existência.
DAS CONSEQUÊNCIAS
A consequência destes atos não afeta somente os profissionais do atletismo, afeta também a todos os amantes e praticantes deste esporte bem como a diretores, associados, conselheiros e uma imensa legião de mais de 8 milhões de cruzeirenses que se acostumaram a ver nossos “coelhos” nas maiores provas internacionais e uma camisa de cinco estrelas frequentando pódios em todo o país e nas principais provas de atletismo de rua. O atletismo do Cruzeiro, assim como o vôlei, o futebol americano e, logicamente, o futebol, representam o torcedor cruzeirense em todo o país. São motivo de orgulho para a maioria da torcida. E este orgulho está ferido.
É como disse o comentarista Lauter Nogueira e o locutor Cleber Machado da Rede Globo de Televisão, durante a transmissão da Corrida Internacional de São Silvestre: ESSA EQUIPE VAI DEIXAR SAUDADES!
Estarei sempre defendendo o atletismo, estarei sempre defendendo o Cruzeiro, estarei sempre ao lado desta torcida maravilhosa que merece saber mais do que a mídia divulga nas suas manchetes sobre futebol para agradar a este ou aquele dirigente. Mesmo que as ofensas e agressões feitas contra a minha pessoa estejam doendo no fundo da alma, a alegria e o carinho com que grande parte da torcida me trata e sempre tratou os atletas do Cruzeiro, será a imagem que vai ficar.
Vivenciei percalços e agressões pessoais que nunca imaginei passar defendendo o Cruzeiro. Desempenhei minhas atividades e responsabilidade com profissionalismo, respeito, dedicação e, acima de tudo, muito amor e paixão. Procurei, na medida dos recursos e disponibilidades, cumprir os cronogramas e metas estipuladas para as competições. O objetivo final sempre foi, com a grande colaboração dos atletas, elevar o nome do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE. A mídia e nenhuma pessoa, em sã consciência, pode afirmar que difamei ou tratei a instituição de forma pejorativa, no que todos os dirigentes anteriores podem dar seus testemunhos.
O atletismo é com toda a certeza, o sangue que irriga a minha vida. Estarei sempre preparado para, se um dia voltar, entregar a gloriosa bandeira azul celeste com cinco estrelas, aos atletas que cruzarem a linha de chegada nas corridas de ruas deste planeta.
Despeço-me da torcida, agradecendo todo o apoio dado, esperando que entendam que a briga que poderei travar contra o Cruzeiro é mais contra as pessoas que estão passando pelo clube e não contra a instituição.
Aproveito esta carta para pedir desculpas a todos os atletas que ficaram insatisfeitos com alguma decisão por mim tomada que os incomodou mas afirmo que tenho o maior orgulho de todos vocês e de como honraram e respeitaram, cada um ao seu modo, mesmo sendo torcedores de outros times, o nosso manto sagrado azul. Vocês são toda a razão da minha permanência no Cruzeiro nos últimos 34 anos.
Saudações Celestes!!!
Alexandre Luiz Minardi
(Ex-Supervisor Técnico do atletismo do Cruzeiro Esporte Clube)