Nos encontros, o vice-presidente de futebol Itair Machado apresentou em um telão do auditório vídeos de programas esportivos de TV em que jornalistas chamam o Cruzeiro de “caloteiro”. Segundo ele, a intenção é usar o dinheiro para limpar o nome do clube entre os credores e diminuir a imagem de mau pagador na mídia.
Por sua vez, o presidente Wagner Pires de Sá demonstrou preocupação com as ações na Fifa, em fase final de julgamento. Caso seja obrigado a honrar essas dívidas, porém não tiver condições financeiras, o Cruzeiro pode sofrer sanções pesadas, como ser proibido de contratar jogadores ou até mesmo cair de divisão no Campeonato Brasileiro.
Os dirigentes cruzeirenses justificaram a opção de recorrer a uma instituição estrangeira para buscar recursos. Segundo eles, os juros cobrados por empresas internacionais são até 60% menores que em bancos brasileiros.
Segundo informações obtidas pela reportagem, o Cruzeiro informou aos conselheiros que os juros anuais do empréstimo de R$ 300 milhões serão de 9%. O clube terá um ano e meio de carência, a partir da assinatura do contrato, para começar a pagar a dívida, parcelada em sete prestações semestrais.
A cúpula celeste garantiu ainda que nenhum patrimônio imobilizado do Cruzeiro será colocado como garantia em uma eventual inadimplência. Nesse cenário, o credor único receberia receitas proporcionadas por cotas de televisão, rendas com bilheteria e sócio-torcedor, contratos de patrocínio e venda de direitos econômicos de jogadores. A direção também prometeu manter o departamento de futebol competitivo e forte na briga por títulos.
Quem se responsabiliza por organizar a reunião entre diretoria e conselheiros é Alexandre Comoretto, o popular Gaúcho, funcionário do Cruzeiro e integrante da equipe de bocha.
Durante as reuniões na Toca 2, os diretores do Cruzeiro ainda pedem a conselheiros que desconsiderem mensagens e deixem os grupos de WhatsApp ligados à oposição.
Processo da reunião
De acordo com o Inciso VI do Artigo 20 do Estatuto do Cruzeiro, compete ao Conselho Deliberativo “autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as Sedes Campestres, a Toca da Raposa I e a II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros”.
Como relata o texto, a alienação de bem imóvel como garantia de operações financeiras depende de aprovação de 90% do Conselho Deliberativo. Sendo assim, diante do quadro atual, com 465 conselheiros com direito a voto, Wagner Pires de Sá precisaria do apoio de 419 aliados se eventualmente precisar envolver estruturas físicas do clube no negócio.
Só que as condições a serem apresentadas na reunião de segunda-feira não envolvem patrimônio imobilizado do Cruzeiro. Ainda assim, a diretoria pretende levar o projeto para votação, confiante de que convencerá a maior parte dos componentes do Conselho.
Ao Superesportes, o vice-presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, José Dalai Rocha, deu detalhes de como será esse processo. “O Conselho vai ser chamado para discutir e aprovar, ou não, o projeto de empréstimo. Pelo estatuto, não há obrigatoriedade de levar o assunto para votação, mas, mesmo assim, a gestão do presidente Wagner Pires de Sá optou por esse caminho. Nesse cenário, será necessária a aprovação de uma maioria simples. Por exemplo, se comparecerem 400 conselheiros, seriam necessários 201 para a proposta ser aprovada”.
Dalai Rocha acredita na aprovação do projeto da gestão de Wagner Pires de Sá. “O empréstimo consolidará as dívidas já existentes e dará mais tranquilidade para a diretoria trabalhar. Creio numa solução positiva. No momento certo, os cruzeirenses vão se unir e ver o que será melhor para o clube. A gente torce por uma solução pacífica, pois os problemas são inadiáveis”.
Por estar em compromisso com o fim do mandato como senador da República em Brasília, o presidente do Conselho Deliberativo Zezé Perrella não manifestou sua opinião junto à mesa diretora a respeito do empréstimo de R$ 300 milhões pretendido pelo Cruzeiro. “Só devemos conversar com ele na segunda-feira, que é o dia da reunião”, frisou José Dalai Rocha.
Prestações podem ‘extrapolar’ mandato de Wagner Pires
A proposta de pagar o empréstimo em até cinco anos (um ano e meio de carência e três anos e meio de prestações semestrais) pode extrapolar um possível segundo mandato de Wagner Pires de Sá. Caso seja reeleito no pleito de outubro de 2020, o atual presidente ficaria no cargo até dezembro de 2023. Já as prestações poderiam chegar até mesmo a 2024, a depender da assinatura do contrato com o fundo internacional. Veja abaixo uma simulação:
Fevereiro de 2019 – aprovação no Conselho Deliberativo
Março de 2019 – assinatura do contrato
Setembro de 2020 – fim do período de carência e pagamento da primeira parcela semestral
Março de 2021 – segunda parcela semestral
Setembro de 2021 – terceira parcela semestral
Março de 2022 – quarta parcela semestral
Setembro de 2022 – quinta parcela semestral
Março de 2023 – sexta parcela semestral
Setembro de 2023 – sétima parcela semestral
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