A convocação de uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo reaqueceu os bastidores da política no Cruzeiro. Depois de uma eleição acirrada no fim de 2017 e encontros acalorados para aprovação de balanço financeiro, em 2018, os conselheiros vão deliberar sobre a possibilidade de a atual gestão obter um empréstimo milionário junto a um fundo internacional para pagamento de passivos. A assembleia, marcada para a próxima segunda-feira, gerou polêmica por uma das pautas: a inclusão de patrimônios do clube como garantia da operação financeira.
No edital de convocação, solicitado pelo presidente Wagner Pires de Sá e assinado pelo presidente do Conselho, Zezé Perrella, um dos temas propostos para aprovação foi a realização de “operações financeiras e bancárias, com autorização para concessão de garantia real de patrimônio associativo para obtenção de empréstimos”. Imediatamente, alas da oposição se mostraram contrárias à ideia, temendo eventuais perdas de imóveis no futuro e até mesmo o agravamento da crise financeira. O estatuto do clube, inclusive, prevê travas para alienação de bens.
O Superesportes procurou o presidente Wagner Pires de Sá para esclarecer as estratégias da direção com essa proposta de empréstimo e suas reais consequências. Em nota (leia na íntegra no fim desta reportagem), o clube apontou ter mudado o objetivo inicial, previsto na convocação, de incluir bens imóveis como garantia da operação. “Não há obrigação de se conceder como garantias propriedades e imóveis do Cruzeiro. O próprio fundo deixou isso claro para nós, que eles não têm interesse em imóveis nossos. Temos mostrado e provado isso aos conselheiros. Nossas garantias serão o que chamamos de recebíveis que o Clube possui. Não é nossa intenção envolver qualquer patrimônio como garantia”, diz trecho do posicionamento oficial.
Ainda segundo a direção do clube, a captação de recursos com o fundo internacional, que não teve o nome revelado, proporcionará redução de custos financeiros e prevê carência para início do pagamento do empréstimo. “Estamos procurando diversas alternativas há meses e enxergamos uma boa e rara oportunidade de captação junto a um fundo internacional, que pode nos proporcionar um novo planejamento com uma redução drástica na ordem de 60% dos custos financeiros atuais”, dia a nota.
“Nossa grande preocupação e objetivo é estancar estes custos financeiros. Nesse replanejamento, trabalharemos com uma taxa de juros 60% a 70% menor em relação ao que se é praticado no Brasil ao ano e teremos um bom período de carência, que vai nos proporcionar um fôlego maior para que possamos recolocar a saúde financeira do Cruzeiro nos eixos”, acrescenta o clube.
Procurado nos últimos dias, o presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella, não foi encontrado para falar sobre os temas que serão debatidos com os conselheiros na segunda-feira, a partir das 19h, na Sede Social do Parque Esportivo do Barro Preto, em Belo Horizonte.
Oposição vê pretensão de Wagner como ‘loucura’
Baseado na pauta original da reunião, enviada aos conselheiros, Gilvan tratou a operação como “loucura”. “Não existe esse negócio de respaldar dívida (com patrimônio). Estão aprontando uma loucura de pegar R$ 300 milhões para pagar dívida. Existe uma despesa mensal que é grande. Essa dÍvida só vai ser paga pelo próximo presidente, porque daqui a um ano e dez meses tem eleição do clube. E a lei não permite isso. Ele não pode tomar um dinheiro emprestado, sujeito a jogar o clube ao buraco. E se não for reeleito?”, questionou Gilvan à reportagem.
Antes mesmo de o clube esclarecer que não pretende envolver imóveis como garantia bancária, Gilvan já tinha ciência da ‘nova’ proposta da atual gestão. “Agora, parece que eles já mudaram. Eles estão dizendo que vão dar como garantia os recebíveis do Cruzeiro (receitas diversas). Mas o clube tem dificuldade até para pagar a folha de pagamento, como vai tirar desse dinheiro para pagar juros? Vai viver de quê? Para pegar R$ 300 milhões num empréstimo, você tem que informar de onde vai tirar para pagar”, complementou o ex-presidente.
O que diz o Estatuto do Cruzeiro?
De acordo com o Inciso VI, do Artigo 20 do Estatuto do Cruzeiro, compete ao Conselho Deliberativo “autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as Sedes Campestres, a Toca da Raposa I e a II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros”.
Como relata o texto, a alienação de bem imóvel como garantia de operações financeiras depende de aprovação de 90% do Conselho Deliberativo. Sendo assim, diante do quadro atual, com 465 conselheiros com direito a voto, Wagner Pires de Sá precisaria do apoio de 419 aliados se eventualmente precisar envolver estruturas físicas do clube no negócio.
Por outro lado, a gestão atual entende que a captação do empréstimo sem alienar imóveis como garantia independente da aprovação do Conselho. Ainda assim, quer levar o assunto para discussão na assembleia de segunda-feira.
Por outro lado, a gestão atual entende que a captação do empréstimo sem alienar imóveis como garantia independente da aprovação do Conselho. Ainda assim, quer levar o assunto para discussão na assembleia de segunda-feira.
Leia, na íntegra, o posicionamento do Cruzeiro sobre as questões enviadas pelo Superesportes:
"Antes de tudo, o que nós queremos é limpar o nome do Cruzeiro. Estamos procurando diversas alternativas há meses e enxergamos uma boa e rara oportunidade de captação junto a um fundo internacional, que pode nos proporcionar um novo planejamento com uma redução drástica na ordem de 60% dos custos financeiros atuais.
Nossa grande preocupação e objetivo é estancar estes custos financeiros. Nesse replanejamento, trabalharemos com uma taxa de juros 60 a 70% menor em relação ao que se é praticado no Brasil ao ano e teremos um bom período de carência, que vai nos proporcionar um fôlego maior para que possamos recolocar a saúde financeira do Cruzeiro nos eixos.
Cabe esclarecer que não há obrigação de se conceder como garantias propriedades e imóveis do Cruzeiro. O próprio fundo deixou isso claro para nós, que eles não têm interesse em imóveis nossos. Temos mostrado e provado isso aos conselheiros. Nossas garantias serão o que chamamos de recebíveis que o Clube possui. Não é nossa intenção envolver qualquer patrimônio como garantia.
Optamos por externar isso aos conselheiros como uma forma de transparência. Mostrar que estamos preocupados em resolver os problemas do Cruzeiro que se decorrem há anos. Neste momento não é hora de pensarmos em grupos políticos. É hora, mais do que nunca, de pensar no Cruzeiro e no nome que foi construído ao longo de décadas.
Nossa convocação feita junto ao Conselho para a reunião extraordinária foi espontânea, porque para este tipo de trâmite e para a aprovação do empréstimo, não era necessário que envolvêssemos os conselheiros. Mas queremos tratar tudo com a lisura e a seriedade que o Clube merece.
Acreditamos que o Conselho tem um papel fundamental na vida do Cruzeiro, mas que eles nunca foram ouvidos de verdade. Queremos que os conselheiros sejam mais ativos, se envolvam mais, e saibam da real situação do Clube. Queremos que a nossa relação com todos eles seja movida pela transparência e pela verdade, porque todos nós somos passageiros no Cruzeiro e precisamos ter zelo e responsabilidade com a nossa história e nossa imagem".
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