Superesportes

CRUZEIRO

Torcida LGBTQI+ do Cruzeiro envia propostas a entidades para combater homofobia no futebol mineiro

Torcedores apresentaram propostas para promover a inclusão no futebol

Lara Pereira
Torcida Marias de Minas quer promover a inclusão no futebol - Foto: André Araújo/Cruzeiro
O combate à homofobia nos estádios é uma luta constante. Com o objetivo de mudar este cenário preconceituoso, a Marias de Minas, torcida LGBTQI%2b (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer) do Cruzeiro, apresentou propostas com objetivo de promover a inclusão no esporte. As ideias foram enviadas para entidades que compõem o cenário do futebol mineiro.


 
Entre as propostas apresentadas pela torcida estão a orientação aos árbitros e auxiliares de arbitragem para interromper as partidas caso forem identificadas ações de caráter homofóbico, a promoção do combate à homofobia através das redes sociais dos clubes e o respeito ao nome social das pessoas travestis e transexuais nos registros de associados e associadas dos clubes. Leia todas as propostas ao fim desta reportagem.
 
Entre os clubes da capital, América e Cruzeiro já receberam o documento. O contato com o Atlético ainda não foi feito. O ofício também foi enviado para a Federação Mineira de Futebol (FMF), o Tribunal de Justiça Desportiva de Minas (TJD-MG) e o estádio Mineirão. O objetivo é auxiliar essas instituições na prevenção e punição de atos homofóbicos no futebol. 
 
“Eu tenho um contato muito grande com torcidas LGBTQI s no Brasil e a pioneira nesse movimento foi a torcida LGBTQI do Bahia. Eles lançaram lá, eu gostei e vi a necessidade de fazer isso aqui em Minas também. A ideia é justamente criar um ambiente mais inclusivo”, afirmou Yuri Senna, fundador da torcida Marias de Minas. 


 
Yuri Senna já foi vítima de homofobia no estádio Mineirão no ano passado. Ele e o namorado Warley foram ameaçados pela torcida do Cruzeiro ao serem vistos se abraçando e se beijando durante a partida contra o Vasco, em 1º de setembro, pelo Campeonato Brasileiro. Na ocasião, ele usou o vídeo discriminatório para se declarar ao parceiro. 
 
“Eu já voltei ao estádio após o ocorrido, mas nunca em setores populares pelo medo. Esse medo a gente sempre tem porque nós não sabemos qual será a reação do outro, mas eu senti que a gente ficou mais fortalecido quando a gente se uniu com a torcida (Marias de Minas)”, disse Yuri. 

Marias de Minas 

A Marias de Minas surgiu em maio de 2019 a partir de uma campanha lançada pelo seu fundador a fim de reunir torcedores LGBTQI  do Cruzeiro e para discutir meios de combater a homofobia no futebol. Atualmente, o grupo conta com quase 60 membros e tem grande presença nas redes sociais. 


 
“Desde que criei a torcida Marias de Minas, eu recebi muito depoimento agradecendo, falando que foi algo corajoso e que era uma necessidade. Eu senti que a gente ficou mais fortalecido com a torcida, a gente se uniu mais e se sentiu mais acolhido para frequentar esses ambientes”, finalizou. 

Veja todas as propostas: 

 

 

 

 
  • Apoiar a inclusão em pauta do legislativo da atualização do artigo 243-G do CBJD que não cita orientação sexual e identidade de gênero.
 
  • Que medidas e protocolos sejam adotados a fim de garantir a segurança de pessoas LGBTQI durante as partidas de futebol nos estádios, como seguranças qualificados e aptos para atender demandas desse público, além do posicionamento firme e coerente dos agentes que promovem e executam o futebol em Minas Gerais (times, órgãos públicos e privados, estádios) contra esse tipo de preconceito.


 
  • Reforçar orientação aos árbitros e auxiliares de arbitragem para interromper partidas quando identificada qualquer ação de caráter LGBTfóbico (como uso de termos pejorativos ou canto de músicas de teor homofóbico) por parte de torcedor, jogador ou qualquer membro de comissões técnicas. Tais atos devem ser relatados na súmula e responsáveis julgados e devidamente punidos de acordo com orientações do STDJ.
 
  • Clubes promoverem ações em suas redes sociais sobre o combate à LGBTfobia e comunicar formalmente aos torcedores sobre este ofício e a intolerância a todo e qualquer tipo de preconceito.
 
  • A garantia de revista de mulheres trans por policiais femininas nas entradas dos estádios, e homens trans por policiais homens.
 
  • Respeito ao nome social das pessoas travestis e transexuais nos registros de associados e associadas dos clubes, bem como no tratamento por parte de qualquer agente envolvido no futebol do estado.
 
  • Estímulo para a criação de grupos e movimentos, multidisciplinares, que ajudem a debater e criar soluções para o combate a LGBTfobia nos clubes e estádios, assim como acolhimento dos movimentos e torcidas LGBTQI  que já têm surgido de forma independente. 
 
  • Campanhas, workshops, cursos e demais ações de caráter educativo para as entidades e agentes do futebol (federação, árbitros, jogadores, seguranças, etc.) sobre o que é a LGBTfobia e seus males.


 
  • Desenvolver e transmitir nos intervalos das partidas vídeos educacionais de combate a LGBTfobiano futebol, tanto nas TVs do estádio quanto no telão.
 
  • Disponibilização de aplicativo para denúncia de casos de LGBTfobia nos estádios. O aplicativo poderia estar diretamente ligado a órgãos de segurança pública.